DIA 12
Deus nos enriqueceu com mil recursos, e nos assiste vinte e quatro horas
por dia. Com ele não existe barreira sem brecha, problema sem solução.
Este Evangelho narra a cura, feita
por Jesus, de um homem doente que estava ao lado da piscina de Betesda, havia
trinta e oito anos. Ali perto, em Epidauro, havia um santuário pagão, dedicado
ao deus da saúde Esculápio, que influenciava na esperança daqueles doentes que
ali ficavam ao lado da piscina, esperando a cura, que nunca vinha. Esse homem
curado por Jesus é um símbolo das pessoas enganadas pela sociedade consumista e
alienadora.
Jesus vai até o doente, cura-o e manda que ele mesmo carregue a sua
cama. A diferença entre Jesus e os donos da piscina é que eles prometiam para o
futuro, Jesus liberta agora. Para eles, a pessoa não podia libertar-se sozinha,
Jesus manda que o curado se liberte com as próprias forças, carregando a sua
cama.
Mas, no caminho, outro problema: os judeus queriam impedi-lo de carregar
a própria cama, por ser sábado. Intimidam-no. Duas pessoas foram ao encontro
daquele doente: Jesus, que o liberta, e o judeu, que quer impedir essa
libertação.
Jesus se preocupava com a vida das pessoas. Para ele, o importante é
defender e promover a vida, mesmo que para isso seja necessário desobedecer a
alguma lei ou autoridade. Os judeus, ao contrário, estavam preocupados com as
leis, pouco se interessando pela vida humana.
Na sociedade atual, acontece algo parecido: todos querem ter um
"lugar ao sol". Mas é difícil, porque cada vez que um levanta a
cabeça, vêm as pauladas, tentando afundá-lo novamente, a fim de que não
concorra a este "lugar ao sol". Na hora da eleição, sempre surgem
novas artimanhas, a fim de enganar o povo.
Uma das grandes armas que os opressores usam para alienar o povo é o
paternalismo. O paternalista não promove o necessitado, pelo contrário, ele se
projeta às custas do necessitado, que continua cada vez mais necessitado. Os
mantenedores da piscina de Betesda eram paternalistas..
O pobre tem a tendência de destacar as próprias limitações e
incapacidades, e de exaltar as qualidades do "pai" que o ajuda. O
pobre faz isso a fim de ganhar mais favores do "pai". Ele diz:
"Nós somos fracos, ele (o paternalista) é forte, é quase um
"deus" para nós". Isso impede a libertação dos dependentes, pois
esta libertação consiste justamente no contrário: destacar as próprias forças,
competências e virtudes.
O assistencialismo é a ferramenta que o paternalista usa para se
projetar diante dos pobres. O assistencialismo amarra as mãos dos
"assistidos". Não confunda com a assistência prestada pelas obras
assistenciais. Esta une as duas coisas: a ajuda e a promoção. Muitas vezes,
antes de ensinar a pescar, temos de dar um pouco de peixe.
"Senhor,
não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou
chegando, outro entra na minha frente. Jesus disse: Levanta-te, pega a tua cama
e anda." Apareceu alguém que tomou sobre si as dores daquele doente, e o
libertou. Custou caro, pois o gesto, unidos com outros semelhantes, lhe trouxe
a morte.
"Em
tudo vos mostrei que, trabalhando desse modo, se deve ajudar aos mais fracos,
recordando as palavras do Senhor Jesus que disse: há mais felicidade em dar do
que em receber" (At 20,35).
Na Missa, a consagração do pão e do vinho separados, tornando-se o corpo
e o sangue de Cristo, nos lembra a sua morte. Morreu para que tenhamos vida, e
para que, como seus continuadores, nos empenhemos na libertação de todas as
alienações.
Agora, na quaresma, Cristo nos faz a mesma pergunta que fez ao homem
doente: "Queres ficar são? Queres curar-te do teu pecado e comodismo?
Queres deixar a tua maca de inválido e começar a caminhar com as próprias pernas,
sem ir na onda da mídia? Queres mergulhar na piscina da Água Viva, matando a
tua sede de felicidade e de libertação total? A turma do "deixa
disso" vai aparecer, pois viviam às custas da tua invalidez, mas não lhes
dês ouvidos, pois o que te espera é a filiação divina e a fraternidade
eclesial".
Certa vez, um alpinista estava escalando uma montanha e se perdeu.
Amarrou-se bem em sua corda de segurança e começou a subir e descer pedras. Mas
a noite chegou, uma noite totalmente escura, sem lua nem estrelas, e ele não
encontrou o caminho.
Numa hora,
coitado, escorregou-se e caiu vários metros, ficando dependurado na corda e
balançando no ar. Uma voz interior lhe dizia: "Pula! Solte-se dessa
corda!" Mas ele teve medo e continuou ali, dependurado na corda,
balançando pra lá e pra cá.
No outro
dia, os bombeiros o encontraram morto e congelado pelo intenso frio, suspenso
na corda, a apenas dois metros do chão!
Faltou-lhe
uma oração e uma reflexão com calma a procura de saídas, por exemplo, jogar um
objeto para ouvir o barulho e medir a distância.
Deus nos enriqueceu com mil recursos, e nos assiste vinte e quatro horas
por dia. Com ele não existe barreira sem brecha, problema sem solução.
Quando estiver em situação parecida, não vamos agarrar-nos mais ainda na
nossa corda, nas nossas limitadas seguranças, mas jogar-nos na total e
ilimitada segurança que é Deus. Você continua ainda segurando firme na sua
corda? Que pena!
Maria Santíssima foi escolhida como Mãe do Messias. Esta era a maior
dignidade de uma mulher judia, na sua época. Mesmo assim, ela se considerava
serva. Santa Maria, rogai por nós!
No mesmo
instante, o homem ficou curado.
Padre
Queiroz
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