VI DOMINGO DA PÁSCOA 10/05/2015
1ª Leitura Atos 10, 25-26;
34-35; 44-48
Salmo 97/98, 4 “Aclamai o
Senhor, povos todos da terra; regozijai-vos, alegrai-vos e cantai”
Evangelho João 15, 9-17
"PERMANECEI EM MIM..."
Ás vezes quando me deparo com o
evangelho de São João, apelo para o meu imaginário grupo de debates onde o
Maneco, membro de uma comunidade das mais simples, replica, logo após a
conclusão “Eta que esse tal de João gosta de complicar, porque não vai direto
ao assunto?” Já o Ernesto, que é encarregado em uma empresa, gosta de ver o jeito
de Jesus falar com os discípulos nesse evangelho, “Esse Jesus é dos meus, lá na
fábrica é assim que eu digo para a minha turma “Se quiser ser meu amigo, faça o
que eu mando”. Confesso que tomei um susto, não tinha reparado que o versículo
14 é exatamente assim “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando”.
Esta não é uma frase solta no
meio do texto, mas há sempre o perigo de se fazer uma leitura fundamentalista
da Palavra de Deus, pois o meu irmão de grupo gosta de ser mandão na
comunidade, porque é essa a sua rotina na empresa, e assim ele se identifica
com Jesus, que nessa frase parece mesmo ser “mandão” e autoritário, bem do
tipo, se não for pra fazer do meu jeito, então não quero. Entretanto o
ensinamento é outro... Foi quando Dona Maria, que trabalha de doméstica há
muito tempo, fez uma observação interessante, que eu nem havia pensado. “O
senhor me desculpe, pode ser que vou falar bobagem, porque não tenho estudo de
teologia, mal fiz o antigo ginásio, mas parece que Jesus diz aí, que ele nos
trata como amigos e não como servos, mas o gozado é que ele mesmo falou em um
outro evangelho, que veio para servir e não para ser servido, quem serve é
servo”.
Dona Maria não quer nem saber se
o jeito de João escrever seu evangelho é diferente dos sinóticos, mas parece
que “matou em cima” a questão intrigante. Na relação de trabalho, quem serve é
quem é mandado, na comunidade enquanto igreja, quem serve é aquele que ama.
Diante dessa observação feita ao grupo, levantou-se o “Mota” pessoa que na
paróquia é o responsável em buscar as hóstias e partículas no Mosteiro das
irmãs. “Óia gente, andei contando por curiosidade e vi que só nesse evangelho,
João escreveu nove vezes o verbo amar, acho que isso quer dizer alguma coisa”
Parece que o Mota “mordeu a isca” -- pensei com meus botões - Quem experimentou
tão intensamente e de maneira profunda, o amor de Deus manifestado em Jesus de
Nazaré, não vai mais falar de outra coisa na vida, que não seja desse amor, não
é atoa que o evangelho o chama de “Aquele discípulo que Jesus amava”, não
porque o Senhor o amava mais que aos outros, mas porque ele, o discípulo,
compreendeu que Jesus é o Amor do Pai manifestado entre os homens, não só
compreendeu, mas experimentou, e esta manifestação não é exclusiva para alguém,
mas a todos os homens.
Roseli, uma jovem que também
integra o nosso grupo, e que anda nas nuvens porque está namorando um
catequista da comunidade, fez um comentário belíssimo “Então a gente pode dizer
que Jesus é o amor ESCANCARADO de Deus para os homens!”. Escancarado é aquilo
que não se tem como esconder, não dá para disfarçar, como os olhos brilhantes
da Roseli, quando está perto do namorado. Quem se sente amado por alguém, não
tem como disfarçar a alegria, o bem que a outra pessoa lhe faz, só de estar perto,
e aqui dá para entender a expressão “Eu vos digo isso, para que a minha alegria
esteja em vós, e a vossa alegria seja plena”.
A descoberta de que Deus nos ama
tanto, e de maneira apaixonada em Jesus, faz a gente se tocar, a vida ganha um
novo sentido, um novo horizonte se descortina, pois há uma palavra chave em
João, que nos permite sonhar esse sonho realizável, que é ser feliz plenamente.
Permanecei em mim. Permanecei no meu amor. Quem ama quer o outro sempre junto,
e aqui, o poder de Deus torna-se frágil diante da liberdade humana, Deus não
pode nos manter junto dele, sem o nosso consentimento, sem a nossa vontade! Cá
entre nós, sei que é isso que acontece com a Roseli, que se encantou com o moço
da catequese, eles até estão namorando, mas a verdade é que ele, embora muito
sério, não está muito afim da coitada, mas para não magoá-la, mantém o namoro,
e o pior é que um dia, uma amiga confidenciou à Roseli essa verdade, e para
espanto da outra, a Roseli disse simplesmente “Não tem problema, eu só quero amá-lo,
não precisa que ele me ame”.
Pronto, chegamos a um ponto
culminante da nossa reflexão, Deus quer e sempre quis, e sempre vai querer nos
amar, mesmo que não seja correspondido, o seu amor Ágape é o amor oblativo, é o
verdadeiro e único amor, enquanto que o nosso jeito de amar é ainda tão
pequeno, não passa do amor Filia. Afinal, quem é que conseguiria retribuir a
altura, todo esse amor e ternura, que Jesus Cristo tem por cada um de nós? Esta
é uma dívida impagável...
Entretanto há algo que podemos
fazer, que está ao nosso alcance, e que faz com que Deus se sinta correspondido
em seu amor... “Amais-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. O “ASSIM
COMO...” não é uma exigência que o nosso amor seja perfeito como o dele, mas se
refere a gratuidade e incondicionalidade, se amarmos desse jeito as pessoas, já
está de muito bom tamanho.
Amar assim é ir além da
"FILIA", é meio caminho andado para o AMOR ágape. Permanecer em
Cristo e no seu amor, é viver de tal forma a comunhão com ele, que o nosso
jeito de ser, de viver e de amar, acaba refletindo para o próximo, o próprio
Cristo. E assim, em nosso amor tão frágil, as pessoas descobrirão a fonte do
verdadeiro amor, que é Jesus Cristo, foi isso que aconteceu com João, e que
revolucionou a sua vida, ele olhou para Jesus, e descobriu nele o Amor de Deus,
por isso deu com a boca no trombone e saiu falando aos quatro cantos, QUE O
NOSSO DEUS É AMOR! ( VI Domingo da Páscoa – João 15, 9-17 Ouça essa reflexão http://evangelizandotododia.spaceblog.com.br/
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