DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2015
Sexto Domingo da Páscoa
João de Ávila, Antonino
Atos 10,25-26.34-35.44-48: O dom do Espírito foi derramado também sobre
os gentios
Salmo 97: O Senhor revela às nações sua salvação
1João 4,7-10: Deus é amor
João 15,9-17: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por
seus amigos.
17 O que vos mando é que
vos ameis uns aos outros. 18 Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. 19 Se fôsseis do mundo, o
mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo
vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra
que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram,
também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar
também a vossa.
COMENTÁRIO
A imagem da videira e dos ramos é empregada por João para fazer
referência à necessidade da comunidade cristã de estar com Jesus, especialmente
nos momentos de crise e de perseguição. O teto é um chamado urgente à
comunidade do discípulo amado a manter-se firme no projeto alternativo iniciado
por Jesus, tal como os ramos devem estar unidos à videira, com a finalidade de
permanecer vivos e fecundos.Dentro desta passagem encontramos um dos ditos mais
frequentes no evangelho de João: “Eu sou”. Esta expressão tem uma
característica particular no texto de hoje: não só se refere a Jesus (Eu sou a
Videira), mas que se torna extensivo aos discípulos (vocês são os ramos), o
qual indica, por meio da terminologia, entre Deus e seu povo, a exemplo do
Antigo Testamento, onde vemos Israel como a vinha de Deus (Is 5,1-7). Seguindo
este esquema proposto pelo AT, Jesus é a Videira e seus seguidores são o Novo
Israel. A união íntima de Jesus com o Pai o converte em uma videira fecunda,
viva e radiante, à diferença de Israel, que muitas vezes se separou de Deus,
perdendo sua identidade coo povo eleito. A comunidade dos discípulos se
converte então no Novo Israel, nos novos ramos da videira, chamados a ser
fiéis, para que não sejam separados de Jesus e não se sequem e sejam consumidos
pelo fogo.
Como podemos ver, a permanência, a vitalidade e a fecundidade dos
ramos/crentes, depende totalmente da união com a videira; dependem da
fidelidade a Jesus. Sem Jesus a comunidade de discípulos é estéril; separados
dele não podem fazer nada, não têm razão de ser no mundo; ao separar-se da
fonte da vida servem somente para alimentar o fogo. Porém, se unidos ao Senhor,
darão fruto e serão premiados com a salvação vindo do próprio Deus.
Dos frutos dessa permanência fiel a Jesus fala João em sua primeira
carta, afirmando que o amor e o crer são as consequências do pertencer à
videira verdadeira. O crente que diz amar deve expressar esse amor em suas
obras com espírito de verdade; deve amar com sinceridade, com transparência,
com boa vontade, com um coração humilde que transpareça bondade e a
misericórdia de Deus para com seus filhos. Os frutos da união íntima com Jesus
se expressam na disposição de cada um dos crentes a guardar e viver os
mandamentos e a fazer o que é agradável a Deus.
É urgente para a Igreja hoje, com suas luzes e sombras, estar ainda
mais unida à Videira Verdadeira, com a finalidade de dar os frutos próprios de
sua vocação: crer fielmente em Jesus ressuscitado e amar apaixonadamente a
humanidade. Estes dois traços da Igreja são fundamentais para que realmente
seja ela testemunha da vontade mais profunda de Deus, que consiste em aproximar
cada vez mais a humanidade, por meio do amor incondicional aos demais, à
salvação e à libertação. A Igreja liberta e salva do egoísmo e da morte quando
torna fidedigno ao mundo o mandamento do amor. Quando a Igreja tem como
prioridade o amor, evidenciado em suas obras, está demonstrado que se manteve
fiel a seu Mestre e que, por isso mesmo, tem sentido no mundo; se não ama, se
não é solidária com a causa dos mais frágeis, quer dizer, que se apartou do seu
Senhor e como consequência disso, será tirada “fora como o ramo e se secará”.
A primeira leitura deste domingo, o famoso episódio da visita de Pedro
a Cornélio, no capítulo 10 dos Atos dos Apóstolos, reflete simbolicamente um
momento importante do crescimento do “movimento de Jesus”: sua transformação em
uma comunidade aberta, transformação que a levará para além do judaísmo do qual
nasceu. Deixará de identificar-se com uma religião étnica, uma religião casada
com uma etnia e sua cultura, religião étnica que se tinha por eleita, e que
olhava aos demais por cima do ombro, considerando os gentios pessoas desprezadas
por Deus. É um tema muito importante e relativamente novo em todo caso,
desatendido pela teologia tradicional. Para uma homilia pode valer apena,
mais que insistir no tempo eterno do amor...
A passagem se preta, além disso, para toda uma lição de teologia. É bom
recomendar aos ouvintes que não fiquem com a referência entrecortada que
certamente escutaram na leitura (uma seleção de alguns versículos), mas que a
leiam em casa, devagar, (sem mais: “o capítulo 10” dos Atos e que tirem
conclusões. Também pode-se recomendar aos grupos de estudo da comunidade
paroquial que o tomem par seu estudo.
Nem Pedro nem seus companheiros de comunidade, ainda não se chamavam
“cristãos”... eram simplesmente judeus comovidos pela experiência de Jesus. E
observavam todas as leis do judaísmo. Uma delas era a de não misturar-se com os
“gentios”. E eram leis sagradas, que eram normalmente observadas por todos, e
cujo cumprimento implicava incorrer em “impureza” e obrigava a complicadas
práticas de purificação.
Pedro, porém, dá vários saltos para frente. Em primeiro lugar deixa de
considerar profano ou impura nenhuma pessoa, apesar da exigência da lei; é como
o levantamento de uma condenação de impureza que pesava sobre as outras
religiões desde o ponto de vista do judaísmo. E em segundo lugar, “cai na
conta” de que Deus não pode fazer acepção de pessoas segundo sua etnia ou sua
cultura-religião; aceita quem pratica a justiça, seja da nação que for. É um
salto tremendo dado por Pedro.
A respeito do primeiro ponto, da valorização negativa das demais
religiões, na história subsequente haveria um retrocesso: chegou-se a pensar
que as outras religiões seriam... não somente inúteis, mas falsas, o até
negativas ou diabólicas. Apenas um exemplo: o primeiro catecismo escrito na
América Latina, escrito por Pedro de Córdoba, superior da comunidade dominicana
de Antônio Montesinos, declara em sua primeira página: “Sabei e tende por certo
que nenhum dos deuses que adorais é Deus, nem doador da vida; todos são diabos
infernais”.
A respeito do segundo ponto, a “não acepção de pessoas por parte de
Deus no que se refere a raças, culturas e religiões”, o que é o mesmo, a
igualdade básica ante o Deus de todos os seres humanos, incluindo todas as suas
culturas e religiões, hoje mesmo continuamos em franco retrocesso com relação a
Pedro: a posição oficial da Igreja católica diz que as “outras” religiões
“estão em situação salvífica gravemente deficitária” (Dominus Iesus 22).
Paradoxalmente a posição de Pedro nos Atos dos Apóstolos aparece com
mais próxima da nossa mentalidade do que a nossa atual teologia oficial. É por
isso que neste domino, o confronto com a palavra de Deus pode traduzir-se em
uma aplicação concreta à nossa maneira de pensar a respeito das outras
religiões. No esquema subsequente proporcionamos algumas questões para um
tratamento pedagógico do tema.
O evangelho de hoje, de João, é o do mandamento novo, o mandamento do
amor. Poucas palavras estão tão presentes na vida cotidiana como esta: “amor”.
Nós a escutamos na canção da moda, no apresentador superficial de televisão, na
linguagem política, na referência ao sexo, na telenovela... É usada em todos os
âmbitos e em cada um deles significa algo diferente. Contudo, a palavra é a
mesma.
O amor em sentido cristão não é sinônimo de um amor “colorido”,
sensual, prazeroso, açucarado e sensitivo da linguagem cotidiana e pós-moderna.
O amor de Jesus não é o que busca seu prazer, seu “sentir”, ou sua felicidade,
mas o que busca a vida, a felicidade daqueles a quem amamos. Nada é mais
libertador do que o amor, nada faz crescer tanto as pessoas como o amor, nada é
mais forte do que o amor. E esse amor o aprendemos do próprio Jesus quem com
seu exemplo nos ensina que “a medida do amor é amar sem medida”.
Aqui o amor é fruto de uma união, de “permanecer” unidos àquele que é o
amor verdadeiro. E esse amor supõe a exigência (mandamento) que nasce do
próprio amor e, portanto, é livre para amar até ao extremo, de ser capaz de dar
a vida para engendrar mais vida. O amor assim entendido é sempre o “amor
maior”, como o que conduziu Jesus a aceitar a morte violenta. A esse amor somos
convidados a amar “como” ele, movidos por uma estreita relação com o Pai e com
o Filho. Esse amor não terá a leveza da brisa, mas que permanecerá como
permanece o ramo unido à planta para dar fruto. Quando o amor permanece e se
faz presente mutuamente entre os discípulos, é sinal evidente da estreita união
dos seguidores de Jesus com seu Senhor, como é sinal, também, da relação entre
o Senhor e seu Pai. Isto gera uma união plena entre todos os que são parte
desta “família” e que enche de gozo a todos os seus membros onde uns e outros
se pertencem mutuamente ainda que sempre a iniciativa primeira seja de Deus.
Oração: Ó Deus, nosso Pai, que em Jesus de Nazaré,
nosso irmão, fizeste renascer nossa esperança de um novo céu e uma nova terra,
nós te pedimos que nos faças apaixonados seguidores de tua causa, de modo que
saibamos transmitir a nossos irmãos, com palavras e com atos, as razões da
esperança que nos sustenta. Nós te pedimos, inspirados por Jesus, filho teu e
irmão nosso. Amém.
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