ASCENSÃO DO SENHOR
17/05/2015
1ª Leitura 1, 1-11
Salmo 46/47 “Subiu Deus por entre aclamações, o Senhor , ao toque
da trombeta”
2ª Leitura Efésios 1, 17-23
Evangelho Marcos 16, 15-20
"NOVO HOMEM"
Meu grupo imaginário de debatedores do evangelho aspirantes a
teólogos, se reuniu para refletir o evangelho desse domingo, Festa da Ascensão
do Senhor. O Mota, que é o homem encarregado de comprar as hóstias e partículas
da paróquia deu início a conversa. “Bom, nessa não caio mais, a apoteótica
subida de Jesus ao céu é coisa secundária, os holofotes estão voltados para os
discípulos, que recebem a missão, que será acompanhada de sinais prodigiosos”.
Certo? Nem mal havia perguntado, o Ernesto, aquele que é líder em uma empresa,
retrucou: “Epa! Se é festa da ascensão, a cena principal é Jesus subindo ao
céu, pode conferir, vamos ver aqui...” O grupo abriu o Novo Testamento e a Dona
Maria, empregada doméstica, observou “Olha, acho que esqueceram de avisar o
Marcos que esse domingo é a festa da ascensão, tem três ou quatro palavras
dizendo que Jesus foi elevado ao céu e mais nada”
E antes que o grupo esquentasse ainda mais a conversa, eu convidei
todos a lerem o capítulo 16 , onde está inserido esse evangelho. A constatação
foi a que eu já esperava “Se a ascensão fosse uma prova final, os coitados dos
discípulos tomariam zero e seriam reprovados...” - comentou a catequista Roseli. De fato, o
quadro que Marcos descreve, antes desse evangelho é meio tenebroso, as mulheres
cheias de medo não disseram nada a ninguém, embora tivessem recebido do jovem
vestido de branco, a missão de anunciar aos discípulos, Maria de Magdala até
que anunciou aos discípulos, mas eles estavam aflitos e choravam, ouviram dizer
que Jesus estava vivo, porque ela o tinha visto, mas não acreditaram. Quanto
aqueles dois na estrada de Emaús, demorou para “cair a ficha” e perceber que
Jesus caminhava com eles, daí foram anunciar ao restante, mas eles duvidaram.
Quando Jesus se manifestou aos onze censurou-lhes a incredulidade e a dureza de
coração, por não darem crédito ao anúncio. “É isso aí, tomaram a maior esfrega,
foi bem feito!” – concluiu o Ernesto.
“Eu é que não seria louco de confiar uma missão tão importante a um
grupo desse!” – exclamou o Mota decepcionado.
Os discípulos não tinham poderes sobrenaturais, Jesus não confiou a
missão a super-homens, o texto anterior nos mostra isso, e aí é que está o
bonito da história, nós também muitas vezes temos dúvidas, não acreditamos, e
diante de certos acontecimentos, demora para “cair a nossa ficha”, por isso a
ascensão de Jesus marca o início da missão da
Igreja, e daí a gente começa a se
ver nesse evangelho, e principalmente no relato de Lucas em Atos, primeira
leitura, quando vivenciamos uma fé da magia e ficamos olhando para o céu,
esperando que Jesus volte para consertar tudo o que está errado.
“Olha, confesso que estou meio boiando” – comentou o Mota. “Se é a
Festa da Ascensão, ou em outras palavras, é a festa da subida de Jesus ao céu,
é a sua volta para o Pai, como então descartarmos aquilo que no evangelho
parece essencial?”, perguntou a esperta Roseli. De alguém que subiu na vida, a
gente afirma que está em ascensão, na encarnação Jesus desceu, e esvaziando-se
de si mesmo rebaixou-se a condição de escravo ao morrer na cruz, mas estando no
fundo do poço, como podemos dizer, ele fez da condição humana o ponto de apoio
para subir e alcançar a glória no mais alto do céu.
E assim, a natureza humana tão frágil e decaída, dominada pelo mal,
se vê resgatada em sua dignidade maior, porque o Divino vem ao encontro do
humano e se entrelaça na comunhão. Em Jesus toda a humanidade sobe, porque o
céu se abre, o ser humano atinge a sua plenitude resgatando o paraíso do Edem
que havia perdido... “Então esse “Sobe e Desce” de Jesus, nos evangelhos é
apenas uma força de expressão?” – perguntou o Ernesto.
Na verdade Jesus nunca saiu do lado do Pai, mas também nunca nos
deixou, esse entrelaçamento do Divino e humano, por livre iniciativa de Deus, é
o mistério do Verbo encarnado, onde uma pessoa histórica e real, Jesus de
Nazaré, dá um novo significado a vida do homem, trazendo aquele paraíso que
perdemos, aqui dentro de nós e podemos falar sem medo, que festa da ascensão é
a nova criação que agora se concretiza e se realiza em toda a humanidade,
através de Jesus de Nazaré.
O anúncio do evangelho é exatamente essa Boa Nova, de que todo o
homem é em Cristo nova Criatura, redimida, liberta e salva, destinada a
comunhão plena com Deus em seu paraíso, e desta vez não há o perigo de sermos ludibriados
pela serpente, fomos vacinados com a graça de Deus que recebemos no santo
batismo.
O mundo inteiro precisa saber dessa Boa Nova, é essa precisamente a
missão primária da nossa Igreja, acreditar que o anúncio é verdadeiro, e ser
batizado, é condição essencial para quem quer passar por essa renovação
espiritual que chamamos de salvação, onde somos configurados a Cristo e com ele
já estamos no céu, mesmo ainda estando a caminho, por esta vida terrena. Se ele
é a cabeça e nós os membros, não há como duvidar disso, pois o corpo forma uma
unidade da qual a nossa Igreja é a expressão mais fiel. É por esta razão que o
Senhor age com o discípulo, e confirma a palavra, por meio dos sinais,
atestando a sua autenticidade, mesmo vindo de homens tão frágeis como todos
nós. É a chancela, o carimbo de aprovação, que o Espírito imprime em nossa
missão. (FESTA DA ASCENSÃO – Marcos 16, 14-19)
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