Não houve quem voltasse para dar glória
a Deus, a não ser este estrangeiro.
Este Evangelho nos trás a cena da cura
dos dez leprosos. Eles estavam fora do povoado porque uma lei obrigava os
leprosos a viverem separados da sociedade.
Só um deles voltou para agradecer a
Jesus. Os outros ficaram felizes com a cura, mas se esqueceram de dizer muito
obrigado a quem os curou. Já aquele que agradeceu recebeu outra graça muito
maior: a salvação: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.
Como é bom ser agradecido, ter a virtude
do reconhecimento e da gratidão! De manhã até a noite recebemos benefícios de
Deus e nem tomamos consciência disso. Não existe o tal “por acaso”.
A própria sociedade pecadora nos ensina
a ser ingratos e não reconhecidos. Ela destaca as pessoas erradas, publicando o
que elas fazem pelos meios mais modernos de comunicação. Já as que fazem o bem,
mesmo com heroísmo, ficam desconhecidas. Seguindo essa “escola”, nós costumamos
comentar entre nós sobre os crimes, esquecendo-nos dos bons gestos que vemos.
Se na nossa rua existem vinte famílias que andam certinho e uma que é errada, é
desta que falamos. Que coisa triste!
De modo geral, a proporção é a mesma da
cena da cura dos leprosos: de cada dez pessoas, só uma agradece, e mesmo esta,
cada dez benefícios que recebe, agradece um só, e olhe lá.
A Bíblia toda, tanto o Antigo como o
Novo Testamento, segue o caminho contrário, destacando os benefícios recebidos
de Deus e as pessoas exemplares. Veja Hb 11, que bela lista de pessoas que são
para nós modelos de fé.
Nossas orações geralmente ficam no
pedir, pedir, pedir... E agradecer, nada. Nos Salmos nós encontramos as quatro
espécies de oração: o louvor a Deus, a súplica, o pedido de perdão e o
agradecimento. Os Salmos de ação de graças estão entre as páginas mais belas da
Sagrada Escritura.
Jesus gostava de agradecer. Antes da
ressurreição de Lázaro, ele disse: “Pai, eu te agradeço porque sempre me
ouves!” (Jo 11,41). Na parábola da ovelha perdida, o pastor fez uma festa para
agradecer o encontro do animal. O mesmo faz a mulher que encontrou a moeda. O
pai do filho pródigo fez um banquete para festejar a chegada do filho
querido...
Contemplando todos os presentes que
ganhamos de Deus, o nosso sentimento devia ser como o de S. Paulo: “Por isso
dobro os joelhos diante do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo...” (Ef 3,14).
“Irmãos, sede agradecidos. Cantai a
Deus, em vossos corações, com Salmos, hinos e cânticos inspirados pelo
Espírito. E tudo o que disserdes ou fizerdes, que seja sempre no nome do Senhor
Jesus, por ele dando graças a Deus Pai” (Cl 3,16-17).
Também S. Paulo reclama da humanidade
pecadora, que é ingrata a Deus: “Apesar de conhecerem a Deus, não o
glorificaram nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-se em seus
pensamentos fúteis, e seu coração insensato se obscureceu. Alardeando
sabedoria, tornaram-se tolos” (Rm 1,21-22).
Quem é grato a Deus, é também grato às
pessoas pelos benefícios que recebe. Por outro lado, quem é ingrato a Deus, é
ingrato também ao próximo.
Certa vez, um garoto surpreendeu sua mãe
com uma listinha. Esta listinha dizia assim: A mamãe me deve: levar o recado
para a tia Anita: R$2,00; comprar o pão: R$0,50; tirar o lixo: R$0,50; varrer o
chão: R$3,00. Total: R$6,00.
A mãe não deixou por menos. Pegou na
hora um papel e escreveu: carregar você dentro de mim durante nove meses: R$000;
dar banho e cuidar de você quando criança: R$0,00; fazer a comida e lavar a
roupa: R$0,00 Total que você me deve: R$0,00. A sociedade moderna nos ensina a
cobrar tudo. Mas Jesus nos ensina a gratuidade, o reconhecimento, a gratidão.
Maria Santíssima era uma pessoa
agradecida a Deus. O Magnificat é o mais belo hino de ação de graças existente
na Bíblia. Ali, ela agradece até coisas que ainda não tinham acontecido, como
Jesus fez na ressurreição de Lázaro. De fato, “a fé é a certeza daquilo que
ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem” (Hb 11,1). Que
Maria nos ajude a ser sempre gratos.
Não houve quem voltasse para dar glória
a Deus, a não ser este estrangeiro.
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