Domingo, 23 de novembro de 2014
Jesus Cristo, Rei do Universo
Ezequiel 34,11-12.15-17: Quanto a vós, minhas ovelhas, farei
justiça entre uma e outra.
Salmo 22: O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma.
1Cor 15,20-26.28: Entregará a realeza a Deus Pai, para que Deus seja
tudo em todos
Mateus 25,31-46: Vai sentar em seu trono glorioso e separará uns dos
outros.
COMENTARIO
Problemas pastorais concretas da festa de
Cristo Rei: Vamos começar por remover os obstáculos, porque há problemas em relação
aos possíveis significados desta festa. Aqui estão alguns:
A origem desta festa e de seu contexto original. Problemática concreta
da festividade de Cristo Rei.Vamos começar removendo obstáculos. Há alguns
problemas em torno dos possíveis significados desta festa. Vejamos alguns:
A origem da festa e seu contexto original.Esta festa foi estabelecida
em um contexto anterior ao Vaticano II, em 1925, por Pio XI, e com um espírito
muito próximo da cristandade, quando o Vaticano expressava claramente seu
desejo de que o cristianismo fosse a religião oficial dos estados cristãos. Ao
confessar Cristo como Rei universal pretendia-se com isso veicular o desejo de
que também a Igreja fosse testemunha e participante já aqui na terra dessa
realeza: uma realeza de Cristo reconhecida como uma igreja que fosse
respeitada, favorecida pelo Estado, com alto status na sociedade, forte e
organizada. Mesmo não estando revestida do poder político temporal, ao menos
podia participar dele por uma relação estreita e harmoniosa com os poderes
sociais. Durante muito tempo, o título “Cristo Rei”, o “reinado social do
Coração de Jesus”... incluíam esses aspectos de autodenominação da Igreja,
esquecendo que a prática de Jesus de Nazaré foi, não só diferente, mas
totalmente contrária.
O conceito de Reino– monárquico. O Reino não é hoje a forma mais
frequente de organização sociopolítica. A maior parte dos países possuem regime
republicano, de diferentes matizes. Os reinos que persistem, já não o são – em
sua maioria – em sua forma clássica, e sim adaptações, e a mentalidade atual
(por exemplo, as monarquias “parlamentares”), ao superá-la, negam no fundo a
essência do que é um “reino”. Ainda tendo consciência da limitação inevitável
que todo linguajar teológico tenha, por sua própria natureza analógica,
figurada, simbólica, apofática... cada vez mais se insiste que a palavra
“reino” não seria a mais adequada nesta altura da história, pois já não
expressa uma forma de organização sociopolítica desejável para os humanos. Cada
vez se evidencia mais a dificuldade de falar de Deus (e de Cristo) como “rei” e
de seu projeto escatológico como um “reino”. Estamos seguros de que um reino,
uma monarquia, poderia ser uma analogia do “Reino de Deus” realizado? Ou em
muitos aspectos a realização do reino de Deus exigiria a superação de muito do
que na sociedade se parece com uma monarquia ou um “reino”? Uma comunidade,
pode ser comparada com um “reino”, com uma “monarquia”? E uma família?
Paulo Suess vem propondo a expressão “democracia participativa do RD”
para corrigir a distorção que o termo clássico leva consigo. E sabemos que não
se pode simplesmente substituir uma expressão por outra, porém é evidente que é
bom aludir com frequência a essa insuficiência da expressão clássica, para que
os ouvintes caiam na conta e para libertar o conteúdo (do reino mesmo, do
significado), das limitações do significante (a palavra não completamente
adequada).
Para falar do Reino pode ser melhor falar do Projeto, da Utopia de
Deus... que fazemos nossa: queremos “construir a Democracia de Deus, cósmica,
pluralista e inclusiva, e por isso, amorosa, encarnação viva do Deus dos mil
rostos, cores, gêneros, culturas, etnias, sentidos...”.
Conotação de gênero da palavra “Reino”:É útil saber que no
âmbito da teologia feminista de língua inglesa, se rejeita também a expressão
(God’s Kingdom) por causa de seu machismo exacerbado. Em espanhol e português
não existe o problema, porém saber que ele existe em outras línguas, isto nos
convida a prevenir seu uso de forma consciente.
Os grandes temas da festa de hoje e da
semana: Há vários temas que poderiam servir para orientar a reflexão da homilia
ou da reflexão do círculo bíblico ou da comunidade cristã em torno dos textos
deste domingo. Será preciso escolher entre eles. Aqui sugerimos alguns:
O Reino de Deus, como conteúdo da mensagem de Jesus. Jesus nunca se
proclamou Rei: nada mais distante dele. O que Jesus fez foi colocar-se ao
serviço total do Reino, de forma que este foi o centro da sua pregação e de sua
vida, pois por ele deu a vida. Importa, pois, honrar esta identidade verdadeira
de Jesus.
Jesus falou do Reino, foi um servidor de sua mensagem, porém seus
seguidores se esqueceram do Reino e o constituíram como o Reino mesmo, como o
Rei... A mensagem foi substituída pelo mensageiro. É preciso voltar para Jesus....
Para falar concretamente do Reino é bom reparar no texto do prefacio desta
festa, nele há uma “descrição” muito plástica de seu conteúdo. Essa ideia foi
recolhida no conhecido estribilho do Salmo 71 do compositor Manzano, que diz:
“Teu Reino é Vida, teu Reino é Verdade, teu Reino é Justiça... é Paz... é
Graça... é amor, venha a nós o teu Reino, Senhor”. Bem glosada, e devidamente
justificada essa perspectiva teológica pode ser uma boa orientação para a
homilia. E não deveria faltar esse canto na celebração de hoje.
A relação entre cristianismo e reinocentrismo. Certa interpretação de
uma festa – muito comum no cristianismo em geral – propicia um cristocentrismo
exagerado, absoluto, que não faz justiça à verdade da revelação, à mensagem
real de Jesus, ao que disse, não ao que depois dissemos que disse. Importa,
pois pastoralmente, discernir a correta hierarquia de valores, que hoje mais e
mais se costuma chamar “reinocentrismo”.
O messianismo de Jesus.A aclamação ou a espera de Jesus como Rei deu-se
no contexto do messianismo: esperava-se um libertador. Hoje a prostração é tal
que não se espera nada, podendo fazer da aclamação de Jesus como Rei algo bem
distante do que o messias supôs para os que o esperavam.
A dimensão escatológica: O final dos tempos, nosso iniludível caminhar
na história, o “juízo final”... O final do ano litúrgico nos faz tematizar em
nossa reflexão o próprio final da história e o final também de nossas vidas
pessoais.
Oração: Ó Deus que quiseste reunir todos os povos em
teu amor universal e em tua comunicação multiforme e inefável para com todos.
Faze que toda a criação e a humanidade, unidas pelo cuidado mutuo e pelo
diálogo, alcance a plenitude do amor para o qual sempre atraíste a todos. Tu
que vives e estás presente em todos os povos e religiões, desde sempre e para
sempre. Amém.
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