SEXTA- 14/06
Mt 5,27-32
Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores
para a conversão.
Este Evangelho narra a vocação de S. Mateus, que
aqui é chamado de Levi. A sua profissão – cobrador de impostos – era
considerada impura, pelo fato de tocar em moeda estrangeira. Por isso, todos os
cobradores de impostos eram considerados pecadores. Jesus não tinha esse
preconceito.
No grande banquete oferecido por Mateus, além de
cobradores de impostos havia pecadores de verdade, e Jesus estava feliz no meio
deles. Diante do protesto, ele explicou: “Eu não vim chamar os justos, mas sim
os pecadores para a conversão”. A frase não exclui ninguém do chamado de Jesus.
É apenas um convite aos que se consideram justos para a conversão, pois “o
justo cai sete vezes por dia”.
“Os que são sadios não precisam de médico, mas sim
os que estão doentes.” Os fariseus não entenderam essa frase pronunciada também
para eles, os doentes terminais do orgulho, auto-suficiência e hipocrisia.
“Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande
amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele
nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos” (Ef 2,4-5.7-9).
“Deus retira o pobre do monte de lixo...” (Cântico de Ana – 1Sm 2). “Derruba os
poderosos de seus tronos e eleva os humildes” (Magnificat).
Quando Davi cometeu um grande pecado, mandando
matar Urias para se casar com a sua esposa Betsabéia, Deus o perdoou
completamente. Tanto que escolheu Salomão, o segundo filho dele com Betsabéia
(2Sm 12,24), para continuar a geração do Povo de Deus.
“O Senhor é bondade e retidão. Ele aponta o caminho
aos pecadores” (Sl 25,8). Esse amor de Deus pelos pecadores nos encanta, seduz
e nos dá esperança, pois quem não é pecador? “Tu me seduziste, Senhor, e eu me
deixei seduzir” (Jr 20). Deus não nos trata conforme nossos erros (Sl
103,8-14).
“Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus
é amor” (1Jo 4,8). Nós temos amor, Deus é amor. “Nós conhecemos e cremos no
amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece
em Deus e Deus permanece nele” (1Jo 4,16).
Esse grande amor de Jesus pelos pecadores é
mostrado também no seu acolhimento à mulher adúltera, ao Zaqueu, à Samaritana,
a S. Paulo... Ele não podia ver ninguém longe de Deus, que já se aproximava
para o cativar.
Jesus perdoou até os que o mataram, e rezou por
eles: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!” E ele nos pede para
fazermos a mesma coisa: “Não julgueis...” (Mt 7,1-7).
A misericórdia, que é o amor aos pecadores e aos
que sofrem, é uma das Bem-aventuranças: “Felizes os misericordiosos...” (Mt
5,7).
S. Paulo nos pede: “Irmãos, tende em vós os mesmos
sentimentos de Cristo Jesus...” (Fl 2,6). Assim, as Comunidades cristãs são
chamadas a continuar o amor misericordioso de Deus Pai, manifestado em Jesus. A
Comunidade é compreensiva para com todos, é agente de inclusão dos pecadores.
Diante de pessoas que praticam ações más, mesmo que
sejam os piores crimes, devemos pensar: a misericórdia de Deus é maior que o
erro dessa pessoa. E assim, amá-la, acolhê-la e ajudá-la a se levantar. A
Igreja acolhe o pecador, não o pecado que ele cometeu, por isso o ajuda a
vencer o pecado.
“Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9,13).
Jesus criticava incansavelmente o culto vazio e hipócrita dos que se crêem em
ordem com Deus por cumprir determinados ritos cultuais, como sacrifícios,
dízimos e jejuns, enquanto esquecem a disponibilidade perante Deus, o amor
fraterno e a reconciliação fraterna.
Faz parte do amor misericordioso usar o dinheiro
não apenas em benefício de si mesmo e da família, mas dos que precisam para
viver dignamente. É a economia a serviço da vida. Muitos adoram e servem ao
dinheiro, como se ele fosse um deus. Cabe uma pergunta: quem é Deus em nossa
vida? Em que lugar Ele está entre os valores que buscamos? Que esta Campanha da
Fraternidade nos prepare melhor para a Páscoa.
Certa vez, numa sala de aula, uma menina perguntou
à professora: “O que é amor?” A professora sentiu que não só aquela criança,
mas toda a classe merecia uma resposta à altura. Como já estava na hora do
recreio, ela pediu que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e
trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.
As crianças saíram muito interessadas. Quando
terminou o recreio, voltaram e começaram a apresentar os objetos que trouxeram.
Uma trouxe uma flor, outra trouxe uma borboleta, outra criança pediu emprestado
a uma funcionária a sua aliança e trouxe...
Terminada a apresentação, a professora notou que
uma menina estava toda envergonhada, porque não havia trazido nada. Então,
dirigiu-se à aluna e perguntou: “Meu bem, por que você não trouxe nada?” A
garotinha, timidamente, respondeu: “Desculpe, professora, eu vi a flor, mas não
quis apanhá-la. Preferi que ela continuasse enfeitando o jardim da escola. Vi a
borboleta, leve e colorida, mas eu nunca teria coragem de segurar um
animalzinho tão bonito. Isso pode machucá-la. Vi também um ninho com filhotes
de sabiá, mas nem mexi; se eu soubesse o que eles comem, até levaria alimento
para eles”.
Emocionada, a professora explicou para as crianças:
“Esta aluna fez a melhor escolha: Não trouxe objetos, mas trouxe para nós, em
seu coração, o perfume do amor”. E deu à menina a nota máxima.
O respeito e a proteção da vida é o que mais
desperta em nós o sentimento de amor.
Na oração Salve Rainha, nós chamamos Maria
Santíssima de Mãe de misericórdia. Ela é também o refúgio dos pecadores. Mãe de
misericórdia, rogai por nós!
Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores
para a conversão.
Padre Queiroz
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