SEGUNDA- 03/06
Mc 12,1-12
Agarraram o filho querido, o mataram, e o jogaram
fora da vinha.
Neste Evangelho, Jesus nos conta a parábola dos
agricultores assassinos que mataram filho do proprietário que lhes tinha
arrendado a vinha.
A vinha representa o Reino de Deus. Os judeus, o
Povo de Deus, chegaram a considerar que os interesses de Deus se confundiam com
os seus próprios interesses. O povo achava que, como povo escolhido, Deus tinha
obrigação de ajudá-los na luta contra seus inimigos. Julgavam-se salvos e não
se interessavam com a sorte dos demais povos, que não conheciam a Deus.
Deus havia confiado a eles o seu Reino, isto é,
tinha colocado-os diante do mundo como exemplo, como um povo que conhecia
melhor a Deus, e o seguia, especialmente na prática da justiça. Mas isso não
aconteceu.
Por isso, Deus lhes enviou seus profetas para
recordar-lhes a dívida que tinham com Deus. Mas, além de não ouvirem,
maltrataram os profetas. Na sua bondade, Deus lhes mandou seu próprio Filho
único, ao qual também eles mataram. E mataram “fora da vinha”, isto é, depois
de rechaçá-lo.
Então a obra do Reino de Deus lhes foi tirada e
entregue a outro povo, a santa Igreja, um povo constituído não baseado em raça
ou nação, mas pela fé e pelo sacramento do batismo.
Nós, como Igreja, queremos nos comportar como bons
agricultores da vinha do Senhor. Não queremos imitar os pecados do antigo Povo
de Deus.
Se as nossas Comunidades começarem a explorar o
povo, se elas deixarem de ser o lugar onde existe mais obediência a Deus e mais
empenho em cultivar a verdade e a justiça, elas correrão o risco de serem
também recusadas por Deus.
Deus nos livre disso! Queremos nos converter.
Queremos ser agricultores honestos, que cultivam bem a vinha do Senhor e não se
apropriem dela, mas dêem ao proprietário, que é Deus, a parte que lhe pertence.
Pois a vinha não é nossa, a Igreja não é nossa, e não podemos usá-la para nos
enriquecer ou para ter qualquer vantagem pessoal.
Deus nos ama, ama aqueles a quem entregou a sua
vinha. Mas é zeloso pela vinha e por seu povo. Ele nos pedirá contas de tudo. A
Comunidade cristã é um povo sagrado, que tem dono e não podemos enganar ou
manipular.
A viagem do dono da vinha para longe significa que
Deus não interfere no nosso trabalho, mesmo que não sigamos o “contrato de
arrendamento”. Naquele tempo, uma pessoa que estava longe não tinha nenhuma
condição de acompanhar um trabalho, e de saber como está indo. A
responsabilidade é toda nossa, como agricultores da vinha do Senhor. Só no fim
Deus nos vai cobrar.
O ato de matar o filho lembra-nos, além da
condenação de Jesus, os irmãos de José do Egito que quiseram matá-lo (Gn 37).
Jesus citou o Sl 118,22s: “A pedra que os
construtores deixaram de lado tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo
Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos”. Citou essa passagem para nos lembrar
que Jesus é a pedra principal na construção do Reino de Deus. Hoje esta pedra
principal é a santa Igreja, o Corpo místico de Cristo.
Como vemos, a parábola tem dois níveis: no primeiro
nível ela se refere aos chefes do Povo de Deus do Antigo Testamento, que eram
aquelas autoridades que estavam ali presentes. No segundo nível ela se refere a
nós, o Povo sacerdotal da Nova Aliança.
E a parábola pode ser entendida também no nível
individual: se eu, ou você, não cumprimos bem a nossa missão como “agricultores
da vinha do Senhor”, isto é, como líderes da Comunidade e testemunhas do Cristo
no mundo, Deus nos tirará este cargo e o confiará a outro ou outra.
Quantos líderes, enviados por Deus, já trabalharam
na nossa Comunidade e deram a vida por ela! Hoje somos nós. Isto é uma alegria,
mas é também uma responsabilidade nossa. O povo não é nosso, é de Deus, e Deus
espera frutos de justiça, de amor e de vida plena para todos. Não podemos
querer tirar proveito pessoal em cima do Povo de Deus, pois, como o próprio
nome diz, ele é de Deus e não nosso. Que bom será se nós, líderes atuais, um
dia ouvirmos de Deus: “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor”.
Quando vemos gansos voando em formação de “V”,
ficamos curioso quanto às razões pelas quais eles escolhem voar dessa forma.
Eis algumas descobertas feitas pelos cientistas:
À medida que cada ave bate suas asas, ela cria uma
sustentação para a ave seguinte. Voando em formação “V”, o grupo inteiro
consegue voar pelo menos 71% a mais do que se cada ave voasse isoladamente.
Pessoas que compartilham uma direção comum e um senso de equipe, chegam ao seu
destino mais depressa e mais facilmente, porque elas se apóiam na confiança uma
das outras.
Outra lição que os gansos nos dão: Sempre que um
deles sai fora da formação, ele a maior resistência do ar, e retorna à formação
“V”, para tirar vantagem do poder de sustentação da ave imediatamente à frente.
Existe força, poder e segurança em grupo, quando se viaja na mesma direção com
pessoas que compartilham um objetivo comum.
Ainda uma terceira lição: Quando o ganso líder se
cansa, ele vai para a traseira do “V”, enquanto outro ganso assume a ponta. É
vantajoso o revezamento, quando se necessita fazer um trabalho árduo.
Quarta lição: Os gansos de trás grasnam para
encorajar os da frente a manterem o ritmo e a velocidade. Todos nós
necessitamos ser reforçados com apoio ativo e o encorajamento.
Quinta lição: Quando um ganso adoece, ou se fere, e
deixa o grupo, dois outros gansos saem da formação e o seguem, para ajudá-lo e
protegê-lo. Eles o acompanham até a solução do problema e, então, reiniciam a
jornada os três ou juntando-se a outra formação, até encontrarem o seu grupo
original. Precisamos ser solidários nas dificuldades.
Vamos procurar nos lembrar mais freqüentemente de
dar um “grasnado” de encorajamento e nos apoiarmos uns aos outros com a força
de uma verdadeira equipe. Vamos ajudar, apoiar quem está nos postos de
liderança ou de governo. Eles precisam do nosso apoio, inclusive para que não
caiam nas tentações.
Nós, como cristãos, queremos nos ajudar mutuamente
a sermos bons agricultores da vinha do Senhor. A nossa ajuda mútua é ampla e
inclui a boa palavra, e até a correção fraterna, a fim de que não imitemos os
agricultores assassinos.
Maria Santíssima foi também uma agricultora da
vinha do Senhor; e ela trabalhou tão bem que foi premiada sendo elevada ao Céu
em corpo e alma. Que Nossa Senhora nos ajude a sermos bons agricultores. Que
trabalhemos com dedicação e desapego, sem querer nos apropriar da Comunidade
cristã, ou usar o nosso cargo em benefício próprio.
Agarraram o filho querido, o mataram, e o jogaram
fora da vinha.
Padre Queiroz
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