Homilia de João Paulo II
"Todas as vezes que comerdes deste
pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele
venha" (1 Cor 11, 26).
Com estas palavras, São Paulo recorda
aos cristãos de Corinto que a "ceia do Senhor" não é apenas um
encontro de convívio, mas também e sobretudo o memorial do sacrifício redentor
de Cristo. Quem nele participa explica o Apóstolo une-se ao mistério da morte
do Senhor, aliás, faz-se "anunciador" da mesma.
Portanto, existe um relacionamento muito
estreito entre o "fazer a Eucaristia" e "o anunciar
Cristo". Entrar em comunhão com Ele, no memorial da Páscoa, significa ao
mesmo tempo tornar-se missionário do evento que tal rito atualiza; num certo
sentido, significa torná-lo contemporâneo de todas as épocas, até que o Senhor
volte.
Caríssimos Irmãos e Irmãs, revivemos
esta maravilhosa realidade na hodierna solenidade do Corpus Christi, em que a
Igreja não apenas celebra a Eucaristia, mas também a leva de forma solene em
procissão, anunciando publicamente que o Sacrifício de Cristo é para a salvação
do mundo inteiro.
Reconhecido por este dom imenso, ela
reúne-se em redor do Santíssimo Sacramento, porque ali estão a fonte e o ápice
do próprio ser e agir. Ecclesia de Eucharistia vivit! A Igreja vive da
Eucaristia e sabe que esta verdade não exprime apenas uma experiência
quotidiana de fé, mas encerra de modo sintético o núcleo do
mistério que ela mesma é (cf. Carta
Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 1).
Desde que, com o Pentecostes, o Povo da
Nova Aliança "iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este
sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de consoladora
esperança" (Ibidem).
"Dai-lhes vós mesmos de comer"
(Lc 9, 13).
A página evangélica que acabamos de
escutar oferece uma imagem eficaz do vínculo íntimo que existe entre a
Eucaristia e esta missão universal da Igreja. Cristo, "pão vivo que desceu
do Céu", é o único que pode saciar a fome do homem de todos os tempos e em
todas as regiões da terra.
Porém, ele não quer fazê-lo sozinho, e
assim, como na multiplicação dos pães, envolve também os discípulos:
"Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu,
pronunciou sobre eles a bênção, partiu-os deu-os aos discípulos para que os
distribuíssem à multidão" (Lc 9, 16).
Este sinal milagroso é figura do maior
mistério de amor que se renova cada dia na Santa Missa: mediante os
ministros ordenados, Cristo dá o seu Corpo e o seu Sangue pela vida da
humanidade. E quantos se nutrem dignamente à sua Mesa, tornam-se instrumentos
vivos da sua presença de amor, de misericórdia e de paz.
"Lauda, Sion, Salvatorem...
Sião, louva o Salvador
o teu guia, o teu pastor
com hinos e cânticos".
Com íntima emoção, ouvimos ressoar no
coração este convite ao louvor e à alegria. Contemplando Maria, compreenderemos
melhor a força transformadora que a Eucaristia possui. Colocando-nos à escuta
dela, encontraremos no mistério eucarístico a coragem e o vigor para seguir
Cristo Bom Pastor e para O servir nos irmãos.
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