DOMINGO- 16/06
Lc 7,36-8,3
A figura de Simão, o fariseu, representa aqueles
que, instalados nas suas certezas e numa prática religiosa feita de ritos e
obrigações bem definidos e rigorosamente cumpridos, se acham dentro das regras
com Deus e com os outros. Consideram-se no direito de exigir de Deus a salvação
e desprezam aqueles que não cumprem escrupulosamente as regras e que não têm
comportamentos social e religiosamente corretos. É possível que nenhum de nós
se identifique totalmente com esta figura; mas, não teremos, de quando em
quando, “tiques” de orgulho e de auto-suficiência que nos levam a
considerar-nos mais ou menos “perfeitos” e a desprezar aqueles que nos parecem
pecadores, imperfeitos, marginais?
O Evangelho deste Domingo de hoje nos apresenta
três personagens: o fariseu Simão, Jesus e uma mulher pecadora e dois grupos:
os convidados para a refeição e o grupo de homens e mulheres que seguiam Jesus.
Simão o fariseu oferece a Jesus sua hospitalidade;
um pouco mais adiante sente em seu coração desconfiança porque Jesus se deixa
tocar por uma mulher, aparentemente, desconhece de quem se trata. Pensa então
que Jesus não pode ser um profeta!
A mulher que entra na casa é uma pecadora da
cidade. Desenvolve várias ações: se coloca atrás de Jesus a seus pés, chora,
com suas lágrimas banha os pés de Jesus, os seca com seus cabelo, derrama sobre
os pés de Jesus óleo perfumado. Esta é a sua única forma de expressão.
Jesus é o grande protagonista do encontro: aceita o
convite de Simão, entra em sua casa, se põe à mesa; em certo momento se dirige
ao anfitrião chamando-o pelo seu nome: “Simão, tenho uma coisa para lhe dizer”.
Relata-lhe a parábola do credor e dos dois devedores a quem lhes é perdoada a
divida. E então lhe faz uma pergunta sobre o amor: quem o amará mais? Pede-lhe
que dirija seu olhar para a mulher: “Você vê esta mulher?”.
A mulher se converte no centro da cena. A
denominada como “pecadora na cidade” se converte para Jesus modelo de
hospitalidade e acolhida. Jesus não denuncia o mal cometido pela mulher, ao
final, “a pesar de tudo” … é uma boa pessoa. Jesus omite intencionalmente
qualquer acusação. Jesus a propõe como “exemplo” ante Simão: Ela sim e tu não!
“Tu não me deste água para os meus pés, tu não me destes um beijo, tu não
derramastes perfume em minha cabeça”; ela tem uma grande fé, tu não. Por isso,
Jesus se atreve a declarar ante Simão: “Te digo: seus muitos pecados lhes são
perdoados, porque tens muito amor; a quem pouco se perdoa pouco ama”. E depois
disse a ela: “te são perdoados teus pecados, tua fé te salvou”. Poderia ter lhe
falado: “teu amor te salvou”. Mas não: Jesus descobriu nesta mulher uma fé
autêntica em sua pessoa, toda ela modelada por um grande amor.
Os dois sujeitos coletivos são os comensais e os
discípulos (as) que o segue. Os comensais se perguntam surpreendidos quem é
Jesus e como se atreve a declarar perdoados os pecados que se cometem contra
Deus. Nem Simão, nem os comensais – pelo que parece – são transformados. Não
dão o passo para fé, nem para o amor. Por outro lado, há um grupo de mulheres e
de varões que seguem Jesus em todos os lugares em que vá. O evangelista Lucas
ressalta que eram muitas mulheres que o seguiam e cita expressamente a Maria
Madalena, Joana e Susana. Elas compartilham a missão de Jesus junto com os
discípulos apóstolos.
A atitude farisaica é educada, aparentemente
acolhedora, porém também distante, discriminadora e condenatória. A atitude
farisaica cresce na comensalidade. Quando Jesus entra nesse círculo, acaba com
o “politicamente correto” e atua de forma explosiva: ela sim, tu não! Esboça o
tema do amor, em primeiro lugar; mostra depois em que consiste a verdadeira fé.
A pecadora é uma mulher que ama muito, é uma mulher que crê: sua fé a salva. A
atitude farisaica não crê o suficiente para salvar-se, nem ama muito.
Nós que nos dedicamos ao ministério sagrado podemos
facilmente cair na atitude farisaica. Receber Jesus em casa, porém sem paixão,
sem amor, sem fé. Queremos que Jesus visite nossa casa, esteja em nossa casa,
para que bendiga o que fazemos na casa. Porém, Lucas nos diz que “Jesus
caminhava de cidade em cidade, de povoado em povoado”, acompanhado por sua
comunidade feminina e masculina. Os que se sentem funcionários de uma casa, de
uma instituição podem perder o sentido de “caminhar” de “acompanhar”. Eles têm
isto muito claro. Vivem uma vida sem aventura. A rotina da função, os impedem
de ter um plano de rota. O amor se torna pequeno, acostumado, a fé se debilita.
Lucas estabelece no texto do evangelho de hoje a
paridade do seguimento entre mulheres e homens e sua implicação na missão. O
que justifica o seguimento de Jesus e a implicação em seu ministério e não a
diferença de gênero, nem a ausência do pecado; se a mulher era pecadora, também
Pedro se confessou pecador ante Jesus; se Jesus confiou a Pedro pastorear suas
ovelhas, foi porque o amava e porque ele acreditou no que lhe foi revelado. Não
ocorre o mesmo com a mulher que muito amou, portadora de aromas?
O mais sublime na cena é aquilo que a mulher
descobriu: a transcendência divina de Jesus. Foi-lhe revelado – embora nós não
saibamos como – que Jesus era o Filho de Deus e, por tanto, podia perdoar em
nome de Deus. Ela soube que estava pedindo ajuda ao Deus do Perdão. Viu, notou
e acariciou Jesus. Jesus se mostrou então mais divino que em outras vezes. Quem
é este? Perguntavam-se. Em Jesus apareceu o rosto do Abbá, do Pai do filho
pródigo, que se deixa abraçar abraçando.
Igual a Pedro, que depois das três negações, foi
reabilitado imediatamente, porque amava; assim também a mulher é reabilitada
imediatamente e acolhida no seguimento, porque ama e crê. Provavelmente Davi,
após sua enorme falha, viu como o amor a seu Deus se apoderava dele e sua dor o
excedia por todas as partes. Seu “miserere” (salmo 50) é expressão de sua dor
apaixonada. Por isso, também o profeta Natã lhe expressou a imediata
reabilitação: porque sua fé o salvou.
Simão o fariseu pode ter seguidores entre nos: homens
ou mulheres quando confiamos demasiadamente na lei. Alguns de nossos
estabelecimentos podem converter-se na casa do fariseu, onde somente é acolhido
o “eclesiasticamente correto”.
Espírito de hospitalidade, abre meu coração para
acolher Jesus, e manifestar-lhe toda a minha gratidão pelo amor que ele tem por
mim.
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