Solenidade do Pentecostes - Ano B
23
Maio 2021
SOLENIDADE DO PENTECOSTES
Tema do Domingo de Pentecostes
O tema deste domingo é, evidentemente, o Espírito
Santo. Dom de Deus a todos os crentes, o Espírito dá vida, renova, transforma,
constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo.
O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus
ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva,
recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos
crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que
Jesus viveu até às últimas consequências.
Na primeira leitura, Lucas sugere que o Espírito é a lei nova que orienta a
caminhada dos crentes. É Ele que cria a nova comunidade do Povo de Deus, que
faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças e
comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e
culturas.
Na segunda leitura, Paulo avisa que o Espírito é a fonte de onde brota a vida
da comunidade cristã. É Ele que concede os dons que enriquecem a comunidade e
que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons não podem ser
usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos.
LEITURA I - Actos 2,1-11
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Quando chegou o dia de Pentecostes,
os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
Subitamente, fez se ouvir, vindo do Céu,
um rumor semelhante a forte rajada de vento,
que encheu toda a casa onde se encontravam.
Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo,
que se iam dividindo,
e poisou uma sobre cada um deles.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo
e começaram a falar outras línguas,
conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem.
Residiam em Jerusalém judeus piedosos,
procedentes de todas as nações que há debaixo do céu.
Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu se
e ficou muito admirada,
pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua.
Atónitos e maravilhados, diziam:
«Não são todos galileus os que estão a falar?
Então, como é que os ouve cada um de nós
falar na sua própria língua?
Partos, medos, elamitas,
habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia,
do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília,
do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene,
colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos,
cretenses e árabes,
ouvimo los proclamar nas nossas línguas
as maravilhas de Deus».
AMBIENTE
Já vimos, no comentário aos textos dos domingos
anteriores, que o livro dos "Actos" não pretende ser uma reportagem
jornalística de acontecimentos históricos, mas sim ajudar os cristãos -
desiludidos porque o "Reino" não chega - a redescobrir o seu papel e
a tomar consciência do compromisso que assumiram, no dia do seu baptismo.
No que diz respeito ao texto que nos é proposto e que descreve os
acontecimentos do dia do Pentecostes, não existem dúvidas de que é uma
construção artificial, criada por Lucas com uma clara intenção teológica. Para
apresentar a sua catequese, Lucas recorre às imagens, aos símbolos, à linguagem
poética das metáforas. Resta-nos descodificar os símbolos para chegarmos à
interpelação essencial que a catequese primitiva, pela palavra de Lucas, nos
deixa. Uma interpretação literal deste relato seria, portanto, uma boa forma de
passarmos ao lado do essencial da mensagem; far-nos-ia reparar na roupagem
exterior, no folclore, e ignorar o fundamental. Ora, o interesse fundamental do
autor é apresentar a Igreja como a comunidade que nasce de Jesus, que é
assistida pelo Espírito e que é chamada a testemunhar aos homens o projecto
libertador do Pai.
MENSAGEM
Antes de mais, Lucas coloca a experiência do
Espírito no dia de Pentecostes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada
cinquenta dias após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual
se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no séc. I, tornou-se
a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a
constituição do Povo de Deus. Ao situar neste dia o dom do Espírito, Lucas
sugere que o Espírito é a lei da nova aliança (pois é Ele que, no tempo da
Igreja, dinamiza a vida dos crentes) e que, por Ele, se constitui a nova comunidade
do Povo de Deus - a comunidade messiânica, que viverá da lei inscrita, pelo
Espírito, no coração de cada discípulo (cf. Ez 36,26-28).
Vem, depois, a narrativa da manifestação do Espírito (Act 2,2-4). O Espírito é
apresentado como "a força de Deus", através de dois símbolos: o vento
de tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando
Deus deu ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18;
Dt 4,36). Estes símbolos evocam a força irresistível de Deus, que vem ao
encontro do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem o Espírito,
constitui a comunidade de Deus.
O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de língua de fogo. A língua
não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas é
também a maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros entre as
pessoas, de criar comunidade. "Falar outras línguas" é criar
relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o
racismo, a marginalização... Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9):
lá, os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à
separação e ao desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à
construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação.
É o surgimento de uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da
mesma experiência interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. A
comunidade messiânica é a comunidade onde a acção de Deus (pelo Espírito)
modifica profundamente as relações humanas, levando à partilha, à relação, ao
amor.
É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do
Espírito (cf. Act 2,5-13): todos "os ouviam proclamar na sua própria
língua as maravilhas de Deus". O elenco dos povos convocados e unidos pelo
Espírito atinge representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia,
passando por Canaan, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma: a todos
deve chegar a proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos uma
comunidade de amor e de partilha. A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo
Espírito para criar a nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de
ouvir na própria língua "as maravilhas de Deus" outra coisa não é do
que a comunicação do Evangelho, que irá gerar uma comunidade universal. Sem
deixarem a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos escutarão a
proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação,
onde se fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa
comunhão que tornam povos tão diferentes, irmãos. O essencial passa a ser a
experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve
unir todas as nações da terra.
O Pentecostes dos "Actos" é, podemos dizê-lo, a página programática
da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da acção das
"testemunhas" de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da
acção do Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar
como irmãos, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema,
como fonte de amor e de liberdade.
ACTUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar as seguintes
indicações:
• Temos, neste texto, os elementos essenciais que
definem a Igreja: uma comunidade de irmãos reunidos por causa de Jesus, animada
pelo Espírito do Senhor ressuscitado e que testemunha na história o projecto
libertador de Jesus. Desse testemunho resulta a comunidade universal da
salvação, que vive no amor e na partilha, apesar das diferenças culturais e
étnicas. A Igreja de que fazemos parte é uma comunidade de irmãos que se amam,
apesar das diferenças? Está reunida por causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem
consciência de que o Espírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma
efectiva e coerente, a proposta libertadora que Jesus deixou?
• Nunca será demais realçar o papel do Espírito na
tomada de consciência da identidade e da missão da Igreja... Antes do
Pentecostes, tínhamos apenas um grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz
de superar o medo e de arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho;
depois do Pentecostes, temos uma comunidade unida, que ultrapassa as suas
limitações humanas e se assume como comunidade de amor e de liberdade. Temos
consciência de que é o Espírito que nos renova, que nos orienta e que nos anima?
Damos suficiente espaço à acção do Espírito, em nós e nas nossas comunidades?
• Para se tornar cristão, ninguém deve ser
espoliado da própria cultura: nem os africanos, nem os europeus, nem os
sul-americanos, nem os negros, nem os brancos; mas todos são convidados, com as
suas diferenças, a acolher esse projecto libertador de Deus, que faz os homens
deixarem de viver de costas voltadas, para viverem no amor. A Igreja de que
fazemos parte é esse espaço de liberdade e de fraternidade? Nela todos
encontram lugar e são acolhidos com amor e com respeito - mesmo os de outras
raças, mesmo aqueles de quem não gostamos, mesmo aqueles que não fazem parte do
nosso círculo, mesmo aqueles que a sociedade marginaliza e afasta?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 103 (104)
Refrão 1: Enviai, Senhor, o vosso Espírito
e renovai a face da terra.
Refrão 2: Mandai, Senhor, o vosso Espírito
e renovai a terra.
Refrão 3: Aleluia.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.
Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.
Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.
LEITURA II - 1 Cor 12,3b-7.12-13
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo
aos Coríntios
Irmãos:
Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor»
a não ser pela acção do Espírito Santo.
De facto, há diversidade de dons espirituais,
mas o Senhor é o mesmo.
Há diversas operações,
mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Em cada um se manifestam os dons do Espírito
para o bem comum.
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros
e todos os membros, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim também sucede com Cristo.
Na verdade, todos nós
– judeus e gregos, escravos e homens livres –
fomos baptizados num só Espírito,
para constituirmos um só Corpo.
E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.
AMBIENTE
A comunidade cristã de Corinto era viva e
fervorosa, mas não era uma comunidade exemplar no que diz respeito à vivência
do amor e da fraternidade: os partidos, as divisões, as contendas e rivalidades
perturbavam a comunhão e constituíam um contra-testemunho. As questões à volta
dos "carismas" (dons especiais concedidos pelo Espírito a
determinadas pessoas ou grupos para proveito de todos) faziam-se sentir com
especial acuidade: os detentores desses dons carismáticos consideravam-se os
"escolhidos" de Deus, apresentavam-se como "iluminados" e
assumiam com frequência atitudes de autoritarismo e de prepotência que não
favorecia a fraternidade e a liberdade; por outro lado, os que não tinham sido
dotados destes dons eram desprezados e desclassificados, considerados quase como
"cristãos de segunda", sem vez nem voz na comunidade.
Paulo não pode ignorar esta situação. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele
corrige, admoesta, dá conselhos, mostra a incoerência destes comportamentos,
incompatíveis com o Evangelho. No texto que nos é proposto, Paulo aborda a
questão dos "carismas".
MENSAGEM
Em primeiro lugar, Paulo acha que é preciso saber
ajuizar da validade dos dons carismáticos, para que não se fale em
"carismas" a propósito de comportamentos que pretendem apenas
garantir os privilégios de certas figuras. Segundo Paulo, o verdadeiro
"carisma" é o que leva a confessar que "Jesus é o Senhor"
(pois não pode haver oposição entre Cristo e o Espírito) e que é útil para o
bem da comunidade.
De resto, é preciso que os membros da comunidade tenham consciência de que,
apesar da diversidade de dons espirituais, é o mesmo Espírito que actua em
todos; que apesar da diversidade de funções, é o mesmo Senhor Jesus que está
presente em todos; que apesar da diversidade de acções, é o mesmo Deus que age
em todos. Não há, portanto, "cristãos de primeira" e "cristãos
de segunda". O que é importante é que os dons do Espírito resultem no bem
de todos e sejam usados - não para melhorar a própria posição ou o próprio
"ego" - mas para o bem de toda a comunidade.
Paulo conclui o seu raciocínio comparando a
comunidade cristã a um "corpo" com muitos membros. Apesar da
diversidade de membros e de funções, o "corpo" é um só. Em todos os
membros circula a mesma vida, pois todos foram baptizados num só Espírito e
"beberam" um único Espírito.
O Espírito é, pois, apresentado como Aquele que alimenta e que dá vida ao
"corpo de Cristo"; dessa forma, Ele fomenta a coesão, dinamiza a
fraternidade e é o responsável pela unidade desses diversos membros que formam
a comunidade.
ACTUALIZAÇÃO
Para reflectir e actualizar a Palavra, considerar
os seguintes elementos:
• Temos todos consciência de que somos membros de
um único "corpo" - o corpo de Cristo - e é o mesmo Espírito que nos
alimenta, embora desempenhemos funções diversas (não mais dignas ou mais
importantes, mas diversas). No entanto, encontramos, com alguma frequência,
cristãos com uma consciência viva da sua superioridade e da sua situação
"à parte" na comunidade (seja em razão da função que desempenham,
seja em razão das suas "qualidades" humanas), que gostam de mandar e
de fazer-se notar. Às vezes, vêem-se atitudes de prepotência e de autoritarismo
por parte daqueles que se consideram depositários de dons especiais; às vezes,
a Igreja continua a dar a impressão - mesmo após o Vaticano II - de ser uma
pirâmide no topo da qual há uma elite que preside e toma as decisões e em cuja
base está o rebanho silencioso, cuja função é obedecer. Isto faz algum sentido,
à luz da doutrina que Paulo expõe?
• Os "dons" que recebemos não podem gerar
conflitos e divisões, mas devem servir para o bem comum e para reforçar a vivência
comunitária. As nossas comunidades são espaços de partilha fraterna, ou são
campos de batalha onde se digladiam interesses próprios, atitudes egoístas,
tentativas de afirmação pessoal?
• É preciso ter consciência da presença do
Espírito: é Ele que alimenta, que dá vida, que anima, que distribui os dons
conforme as necessidades; é Ele que conduz as comunidades na sua marcha pela
história. Ele foi distribuído a todos os crentes e reside na totalidade da
comunidade. Temos consciência da presença do Espírito e procuramos ouvir a sua
voz e perceber as suas indicações? Temos consciência de que, pelo facto de
desempenharmos esta ou aquela função, não somos as únicas vozes autorizadas a
falar em nome do Espírito?
SEQUÊNCIA DO PENTECOSTES
Vinde, ó santo Espírito,
vinde, Amor ardente,
acendei na terra
vossa luz fulgente.
Vinde, Pai dos pobres:
na dor e aflições,
vinde encher de gozo
nossos corações.
Benfeitor supremo
em todo o momento,
habitando em nós
sois o nosso alento.
Descanso na luta
e na paz encanto,
no calor sois brisa,
conforto no pranto.
Luz de santidade,
que no Céu ardeis,
abrasai as almas
dos vossos fiéis.
Sem a vossa força
e favor clemente,
nada há no homem
que seja inocente.
Lavai nossas manchas,
a aridez regai,
sarai os enfermos
e a todos salvai.
Abrandai durezas
para os caminhantes,
animai os tristes,
guiai os errantes.
Vossos sete dons
concedei à alma
do que em Vós confia:
Virtude na vida,
amparo na morte,
no Céu alegria.
ALELUIA
Aleluia. Aleluia.
Vinde, Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis
e acendei neles o fogo do vosso amor.
EVANGELHO - Jo 20,19-23
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São
João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou Se no meio deles e disse lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou,
também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser lhes ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
AMBIENTE
Este texto (lido já no segundo domingo da Páscoa)
situa-nos no cenáculo, no próprio dia da ressurreição. Apresenta-nos a
comunidade da nova aliança, nascida da acção criadora e vivificadora do
Messias. No entanto, esta comunidade ainda não se encontrou com Cristo
ressuscitado e ainda não tomou consciência das implicações da ressurreição. É
uma comunidade fechada, insegura, com medo... Necessita de fazer a experiência
do Espírito; só depois, estará preparada para assumir a sua missão no mundo e
dar testemunho do projecto libertador de Jesus.
Nos "Actos", Lucas narra a descida do Espírito sobre os discípulos no
dia do Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa (sem dúvida por razões
teológicas e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa judaica do
Pentecostes, a festa do dom da Lei e da constituição do Povo de Deus); mas João
situa no anoitecer do dia de Páscoa a recepção do Espírito pelos discípulos.
MENSAGEM
João começa por pôr em relevo a situação da
comunidade. O "anoitecer", as "portas fechadas", o
"medo" (vers. 19 a), são o quadro que reproduz a situação de uma
comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada
e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade
e que não sabe, agora, a que se agarrar.
Entretanto, Jesus aparece "no meio deles" (vers. 19b). João indica
desta forma que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus
ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, a
coordenada fundamental à volta do qual a comunidade se constrói e toma
consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma
consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.
Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes "a paz"
("shalom", em hebraico). A "paz" é um dom messiânico; mas,
neste contexto, significa, sobretudo, a transmissão da serenidade, da
tranquilidade, da confiança que permitirão aos discípulos superar o medo e a
insegurança: a partir de agora, nem o sofrimento, nem a morte, nem a
hostilidade do mundo poderão derrotar os discípulos, porque Jesus ressuscitado
está "no meio deles".
Em seguida, Jesus "mostrou-lhes as mãos e o lado". São os
"sinais" que evocam a entrega de Jesus, o amor to
tal expresso na cruz. É nesses "sinais" (na entrega da vida, no amor
oferecido até à última gota de sangue) que os discípulos reconhecem Jesus. O
facto de esses "sinais" permanecerem no ressuscitado, indica que
Jesus será, de forma permanente, o Messias cujo amor se derramará sobre os
discípulos e cuja entrega alimentará a comunidade.
Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os
discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila
(João utiliza, aqui, precisamente o mesmo verbo do texto grego de Gn 2,7). Com
o "sopro" de Deus de Gn 2,7, o homem tornou-se um "ser
vivente"; com este "sopro", Jesus transmite aos discípulos a
vida nova e faz nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em
plenitude e estão capacitados - como Jesus - para fazerem da sua vida um dom de
amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova
aliança e são chamados a testemunhar - com gestos e com palavras - o amor de
Jesus.
Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos (ver. 23): a
eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos
possam ou não - conforme os seus interesses ou a sua disposição - perdoar os
pecados. Significam, apenas, que os discípulos são chamados a testemunhar no
mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. Quem aceitar essa
proposta será integrado na comunidade de Jesus; quem não a aceitar, continuará
a percorrer caminhos de egoísmo e de morte (isto é, de pecado). A comunidade,
animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.
ACTUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar as seguintes
coordenadas:
• A comunidade cristã só existe de forma
consistente, se está centrada em Jesus. Jesus é a sua identidade e a sua razão
de ser. É n'Ele que superamos os nossos medos, as nossas incertezas, as nossas
limitações, para partirmos à aventura de testemunhar a vida nova do Homem Novo.
As nossas comunidades são, antes de mais, comunidades que se organizam e
estruturam à volta de Jesus? Jesus é o nosso modelo de referência? É com Ele
que nos identificamos, ou é num qualquer ídolo de pés de barro que procuramos a
nossa identidade? Se Ele é o centro, a referência fundamental, têm algum
sentido as discussões acerca de coisas não essenciais, que às vezes dividem os
crentes?
• Identificar-se como cristão significa dar
testemunho diante do mundo dos "sinais" que definem Jesus: a vida
dada, o amor partilhado. É esse o testemunho que damos? Os homens do nosso
tempo, olhando para cada cristão ou para cada comunidade cristã, podem dizer
que encontram e reconhecem os "sinais" do amor de Jesus?
• As comunidades construídas à volta de Jesus são
animadas pelo Espírito. O Espírito é esse sopro de vida que transforma o barro
inerte numa imagem de Deus, que transforma o egoísmo em amor partilhado, que
transforma o orgulho em serviço simples e humilde... É Ele que nos faz vencer
os medos, superar as cobardias e fracassos, derrotar o cepticismo e a
desilusão, reencontrar a orientação, readquirir a audácia profética,
testemunhar o amor, sonhar com um mundo novo. É preciso ter consciência da
presença contínua do Espírito em nós e nas nossas comunidades e estar atentos
aos seus apelos, às suas indicações, aos seus questionamentos.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DO
PENTECOSTES
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo do Pentecostes, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa...
2. EVIDENCIAR OS CARISMAS.
O Pentecostes é a festa do nascimento da Igreja. Seria, pois, importante fazer
uma liturgia em que aos variados carismas pudessem aparecer. Seria necessário
pensar em fazer-se apelo aos talentos de leitores, de salmista, de músico, de
director do canto, de decorador, etc... Importa que a assembleia apareça como una
e diversa.
3. NÃO OMITIR A SEQUÊNCIA.
Não omitir a sequência de Pentecostes depois da segunda leitura e antes da
aclamação ao Evangelho. Pode ser lida por duas pessoas (com um fundo musical)
ou, melhor ainda, cantada.
4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o
acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Bendito sejas, Deus de luz e de vida, sopro criador e fogo de amor. Nós Te
louvamos pelo dom do teu Espírito, que chama todos os povos da terra a
proclamar, cada um na sua língua, as maravilhas da tua bondade.
Nós Te pedimos por todos os membros do teu Povo: torna-nos receptivos às
múltiplas linguagens dos nossos irmãos e confiantes no teu espírito de unidade.
No final da segunda leitura:
Nós Te bendizemos, Pai, pelo novo corpo do teu Filho, que é a Igreja, e nós Te
damos graças por nos teres permitido ser os seus membros, cada um na sua parte
e na diversidade das funções confiadas.
Nós Te pedimos, Espírito Santo, Tu que ages em nós para o bem de todos: nós
acolhemos o teu sopro; manifesta em nós a tua presença.
No final do Evangelho:
Nós Te damos graças, Pai, pela maravilha realizada por Jesus ressuscitado,
porque Ele deu nova força aos seus apóstolos, tirando-os do medo e da paralisia,
comunicando-lhes o sopro da sua ressurreição.
Nós Te suplicamos: que a tua Paz esteja connosco, por Jesus, vencedor de todas
as formas de morte, e pelo teu Espírito, que é perdão e santificação.
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III, que contém uma oração própria para o
Pentecostes e que evoca o Espírito...
6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
Tempestade! Fogo! Portas arrombadas! O Pentecostes é a irrupção do Espírito
Santo na vida dos discípulos que vão deixar-se transformar em todas as
dimensões do seu ser. O Pentecostes continua! Mas não estamos muitas vezes,
face a este Espírito Santo, como diante de uma ameaça nuclear? Ousamos, enfim,
deixar-nos irradiar por Ele sem qualquer protecção?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
Proposta para
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos
ResponderExcluirEu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
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