Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Quarta-feira
26 Maio 2021
Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana –
Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Ben Sirá 36, 1.4-5.10-17
Tem piedade de nós, ó Senhor, Deus de todas as
coisas; olha para nós e espalha o teu temor sobre todas as nações. 4Que
reconheçam, como também nós reconhecemos, que fora de ti, Senhor, não há outro
Deus. 5Renova os teus prodígios, faz novos milagres. 10Reúne todas as tribos de
Jacob, toma-as como tua herança, como no princípio. 11Tem piedade, Senhor, do
teu povo, que foi chamado pelo teu nome, e de Israel, que trataste como filho
primogénito. 12Tem piedade da cidade do teu santuário, de Jerusalém, lugar do
teu repouso. 13Enche Sião do louvor das tuas maravilhas, e o teu povo com a tua
glória. 14Dá testemunho a favor daqueles que, desde o princípio, são tuas
criaturas, leva a efeito as profecias, em teu nome proferidas. 15Recompensa os
que pacientemente esperam em ti, a fim de que os teus profetas sejam
acreditados. 16Ouve, Senhor, a súplica dos teus servos, segundo a bênção de
Aarão sobre o teu povo, 17e todos sobre a terra reconhecerão que Tu és Senhor,
o Deus dos séculos.
O autor sagrado eleva uma bela oração a Deus em favor do seu povo, Israel. O
povo escolhido tem necessidade de ser libertado e de reencontrar a sua missão
de ser amostra das promessas de Deus, farol da fidelidade e do amor de Deus por
todos os povos. Israel foi, muitas vezes, fiel à sua missão. Mas, tantas
outras, foi infiel, quebrando a Aliança. Assim perdia o canal de ligação à
fonte da sua própria vida. A dramática experiência do exílio, que deitou por
terra as suas esperanças, comprometendo a sua missão histórico-teológica entre
os povos. A partir daqui, encontramos dois importantes pontos da leitura. O primeiro
é o que nos fala da consciência de culpa, que leva a pedir o perdão de Deus,
baseados apenas na Sua misericórdia: «Tem piedade…» é o refrão dirigido a Deus
em favor do «povo», de «Israel», de «Sião», de «Jerusalém». A insistência no
pronome possessivo «teu» recorda a Deus o compromisso que assumiu para com o
povo; mas também recorda ao povo que continua a ser pertença de Deus, apesar
dos seus pecados.
Outro ponto importante é a referência à globalidade, inserindo Israel no
contexto dos povos. Israel não é apenas o povo escolhido para ser o povo de
Deus; é também o povo por meio do qual Deus há-de ser conhecido e amado por
todos os povos. É a consciência missionária e universalista de Israel que
começa a desenvolver-se.
Evangelho: Marcos 10, 32-45
Naquele tempo, Jesus e os discípulos iam a
caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente deles. Estavam
espantados, e os que seguiam estavam cheios de medo. Tomando de novo os Doze
consigo, começou a dizer-lhes o que lhe ia acontecer: 33«Eis que subimos a
Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos
doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. 34E
hão-de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias
depois, ressuscitará.» 35Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e
disseram: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» 36Disse-lhes: «Que
quereis que vos faça?» 37Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos
sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.» 38Jesus respondeu: «Não
sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com
que Eu sou baptizado?» 39Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes:
«Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu
sou baptizado; 40mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não
pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.» 41Os outros
dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. 42Jesus
chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes
das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem
o seu poder. 43Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós,
faça-se vosso servo 44e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo
de todos. 45Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por todos.»
O texto evangélico que escutámos refere
diversos episódios ocorridos durante a caminhada de Jesus para Jerusalém. Jesus
avança rodeado de discípulos apavorados e de pessoas cheias de medo. Pela
terceira vez, fala da paixão, que se aproxima. Fá-lo com muitos pormenores (vv.
33ss.). Mas os discípulos parecem nada compreender. Os filhos de Zebedeu
continuam interessados em alcançar uma boa posição no Reino: um quer ficar à
direita de Jesus e outro à esquerda (v. 37). Em Mateus, é a mãe que pede esses
lugares para os filhos (cf. Mt 20, 20). Os outros discípulos estão preocupados
com assuntos que nada têm a ver com os do Senhor. Mas Jesus revela aspectos
centrais relativos ao discipulado: o essencial é a docilidade a Deus e ao seu
projecto. Ele próprio decidirá a posição de cada um no Reino. Em Mateus será o
Pai a tomar tal decisão (cf. Mt 20, 23).
Ser discípulo de Jesus é ser, como Ele, dócil ao Pai, partilhar a missão que o
Pai Lhe confiou: beber o mesmo cálice, mergulhar no mesmo baptismo. É seguir o
caminho do servo sofredor (Is 52, 13-53, 12), servir a todos até ao dom da
própria vida em resgate de muitos… O resgate (lýtron) é o preço a pagar por um
prisioneiro de guerra, por um escravo. Este resgate é pago, não a Deus, mas ao
príncipe deste mundo (Jo 12,31; 1 Jo 5, 19), ao deus deste mundo (2 Cor 4, 4),
que mantém escrava a humanidade. E Jesus resgata a humanidade, não para se
tornar Ele mesmo um «rei» opressor, mas paradoxalmente um «rei» servo. Também
os cristãos não podem contrapor ao «poder demoníaco» um «poder cristão», mas
colocar-se de modo amoroso e humilde ao serviço da humanidade.
Meditatio
O povo de Israel, escolhido para ser luz das
nações, atraiçoou a Aliança, envolvendo-se em aventuras pecaminosas que o
levaram ao exílio. Desse modo, não realizou a sua vocação nem ajudou os outros
povos. Na primeira leitura, pela boca de Ben Sirá, o povo reconhece as suas
culpas, mostra o seu arrependimento e pede perdão, sem alegar desculpas, pois
está consciente das responsabilidades que tem na sua própria falência.
Reconhece que a misericórdia de Deus é a sua única tábua de salvação. Por isso,
clama repetidamente: «Tem piedade de nós,Senhor» (v. 3ª). A salvação de Israel
irá acontecer com a dos outros povos que o Sábio cita na sua oração. Brilha no
horizonte um raio de esperança.
O evangelho mostra-se a triste figura dos Apóstolos.
Havia tempo que andavam com o Senhor. Mas pareciam não ter aprendido nada, pois
andavam empenhados na divisão do poder. Tudo começa com a atitude arrogante dos
filhos de Zebedeu, Tiago e João. Mas, se estes erram, também os outros se
mostram pecadores, porque se deixam levar por sentimentos de hostilidade contra
os dois irmãos: «Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se
contra Tiago e João» (v. 41). E Jesus tem que intervir. Recomenda aos dois
irmãos que se ponham nas mãos de Deus, que tudo dispõem como acha melhor. Ensina
a todas que a autoridade não é um posto de afirmação pessoal, de busca dos
próprios interesses, mas um serviço a exercer com humildade e generosidade. Se
for necessário, aquele que preside deve estar disposto a dar a própria vida no
exercício da missão que lhe foi confiada. Assim faz o próprio Jesus. No
princípio do evangelho, lemos: «o Filho do Homem vai ser entregue» (v. 33). Os
verbos seguintes explicam em que consiste essa entrega: ser condenado,
escarnecido, flagelado, morto. Depois de todos esses verbos, vêm outros na voz
activa: «o Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate por
todos» (v. 45). O Filho do homem veio para ser entregue; o Filho do homem veio
para servir e dar a vida. Não basta ser passivos, sofrer os acontecimentos, as
situações. Há que ser activo: servir, dar a vida. É realmente admirável quando
um cristão aceita um evento negativo, como a cruz, e o torna positivo, fazendo
dele um dom de amor. É o caso de Jesus que dá a vida em resgate de todos.
As nossas antigas Constituições (1956) afirmavam que «o fim especial» dos
religiosos do Instituto era «professar» uma particular devoção ao sacratíssimo
Coração de Jesus (I, 2, parágrafo 2). Ora, «professar» é testemunhar e, na
qualidade de testemunhas, “servir” evangelicamente, tal como fez Cristo,
testemunha do Pai, «que não veio para ser servido mas para servir e dar a vida
por muitos» (Mt 20, 28), caso contrário, a nossa “especial devoção” ao Coração
de Jesus torna-se intimismo, devocionismo.
Oratio
Pai santo, só Tu podes transformar o
sofrimento em dom generoso de vida. Foi o que fez o teu Filho, quando decidiu
dar-nos o seu Corpo e o seu Sangue, na Eucaristia. Transformaste o evento
doloroso em dom, para, depois, no-lo dares em sacramento. O sacramento, por sua
vez, torna-nos capazes de transformar os nossos próprios eventos, isto é, de
acolher todos os acontecimentos da vida, mesmo quando são difíceis, e
transformá-los em sacrifício generoso de união a Cristo, morto e ressuscitado.
Graças à Eucaristia, essa força está em nós e o espírito de Cristo move-nos a
usá-la permanentemente na generosidade e na fidelidade. Que a nossa vida se
torna eucaristia, bom generoso e gratuito, para tua glória e bem dos irmãos,
particularmente dos mais carenciados. Amen.
Contemplatio
Ecce venio. Eis-me aqui, Senhor, ofereço-me,
dou-me convosco, em união com os sentimentos do vosso divino Coração. Recebei a
minha alma e o meu corpo; a minha memória, a minha inteligência, a minha
vontade; os meus olhos, as minhas orelhas, a minha língua e todos os meus
sentidos. Dou-me a vós. Acolhei-me e não permitais que me retome. (Leão Dehon,
OSP3, p. 120).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (Mc
10, 45).
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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando
Fonseca, scj
DEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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