16 Maio 2021
Tempo Pascal
Ano B - Sétimo Domingo - Solenidade da
Ascensão
TEMA
A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere que, no final do
caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, a comunhão com
Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus
seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para
os homens e para o mundo.
No Evangelho, Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, ajuda-os a vencer a
desilusão e o comodismo e envia-os em missão, como testemunhas do projecto de
salvação de Deus. De junto do Pai, Jesus continuará a acompanhar os discípulos
e, através deles, a oferecer aos homens a vida nova e definitiva.
Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois
de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da
comunhão com Deus - a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo
"caminho" que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos: eles não podem
ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio
dos homens continuar o projecto de Jesus.
A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que
foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro
dessa "esperança" de mãos dadas com os irmãos - membros do mesmo
"corpo" - e em comunhão com Cristo, a "cabeça" desse
"corpo". Cristo reside no seu "corpo" que é a Igreja; e é
nela que se torna hoje presente no meio dos homens.
LEITURA 1- Act 1,1-11
No meu primeiro livro, ó Teófilo,
narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio
até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo,
as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois
da sua paixão, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de
Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem
de Jerusalém, «da Qual- disse Ele - Me ouvistes falar. Na verdade, João
baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de
poucos dias».
Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais
restaurar o reino de Israel?» Ele respondeu-lhes:
«Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua
autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo,
que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia
e na Samaria e até aos confins da terra».
Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E
estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus se afastava, apresentaram-se-Ihes
dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque
estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o
Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».
AMBIENTE
O livro dos "Actos dos apóstolos" dirige-se a comunidades que vivem
num certo contexto de crise. Estamos na década de 80, cerca de cinquenta anos
após a morte de Jesus. Passou já a fase da expectativa pela vinda iminente do
Cristo glorioso para instaurar o "Reino" e há uma certa desilusão. As
questões doutrinais trazem alguma confusão; a monotonia favorece uma vida
cristã pouco comprometida e as comunidades instalam-se na mediocridade; falta o
entusiasmo e o empenhoD O quadro geral é o de um certo sentimento de
frustração, porque o mundo continua igual e a esperada intervenção vitoriosa de
Deus continua adiada. Quando vai concretizar-¬se, de forma plena e inequívoca,
o projecto salvador de Deus?
É neste ambiente que podemos inserir o texto que hoje nos é proposto como
primeira leitura. Nele, o catequista Lucas avisa que o projecto de salvação e
de libertação que Jesus veio apresentar passou (após a ida de Jesus para junto
do Pai) para as mãos da Igreja, animada pelo Espírito. A construção do
"Reino" é uma tarefa que não está terminada, mas que é preciso
concretizar na história, e exige o empenho contínuo de todos os crentes. Os
cristãos são convidados a redescobrir o seu papel, no sentido de testemunhar o
projecto de Deus, na fidelidade ao "caminho" que Jesus percorreu.
MENSAGEM
O nosso texto começa com um prólogo (vers. 1-2) que relaciona os
"Actos" com o 3° Evangelho - quer na referência ao mesmo Teófilo a
quem o Evangelho era dedicado, quer na alusão a Jesus, aos seus ensinamentos e
à sua acção no mundo (tema central do 3° Evangelho). Neste prólogo são também
apresentados os protagonistas do livro - o Espírito Santo e os apóstolos,
vinculados com Jesus.
Depois da apresentação inicial, vem o tema da despedida de Jesus (vers. 3-8). O
autor começa por fazer referência aos "quarenta dias" que mediaram
entre a ressurreição e a ascensão, durante os quais Jesus falou aos discípulos
"a respeito do Reino de Deus" (o que parece estar em contradição com
o Evangelho, onde a ressurreição e a ascensão são apresentados no próprio dia
de Páscoa - cf. Lc 24). O número quarenta é, certamente, um número simbólico: é
o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e
repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de
iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.
As palavras de despedida de Jesus (vers. 4-8) sublinham dois aspectos: a vinda
do Espírito e o testemunho que os discípulos vão ser chamados a dar "até
aos confins do mundo". Temos resumida aqui a experiência missionária da
comunidade de Lucas: o Espírito irá derramar-se sobre a comunidade crente e
dará a força para testemunhar Jesus em todo o mundo, desde Jerusalém a Roma. Na
realidade, trata-se do programa que Lucas vai apresentar ao longo do livro,
posto na boca de Jesus ressuscitado. O autor quer mostrar com a sua obra que o
testemunho e a pregação da Igreja estão entroncados no próprio Jesus e são
impulsionados pelo Espírito.
o último tema é o da ascensão (vers. 9-11).
Evidentemente, esta passagem necessita de ser interpretada para que, através da
roupagem dos símbolos, a mensagem apareça com toda a claridade.
Temos, em primeiro lugar, a elevação de Jesus ao céu (vers. 9a). Não estamos a
falar de uma pessoa que, literalmente, descola da terra e começa a elevar-se;
estamos a falar de um sentido teológico (não é o "repórter", mas sim
o "teólogo" a falar): a ascensão é uma forma de expressar
simbolicamente que a exaltação de Jesus é total e atinge dimensões
supra-terrenas; é a forma literária de descrever o culminar de uma vida vivida
para Deus, que agora reentra na glória da comunhão com o Pai.
Temos, depois, a nuvem (vers. 9b) que subtrai Jesus aos olhos dos discípulos.
Pairando a meio caminho entre o céu e a terra, a nuvem é, no Antigo Testamento,
um símbolo privilegiado para exprimir a presença do divino (cf. Ex 13,21.22;
14,19.24; 24,15b-18; 40,34-38). Ao mesmo tempo, simultaneamente esconde e
manifesta: sugere o mistério do Deus escondido e presente, cujo rosto o Povo
não pode ver, mas cuja presença adivinha nos acidentes da caminhada. Céu e
terra, presença e ausência, luz e sombra, divino e humano, são dimensões aqui
sugeridas a propósito de Cristo ressuscitado, elevado à glória do Pai, mas que
continua a caminhar com os discípulos.
Temos ainda os discípulos a olhar para o céu (vers. 10a). Significa a
expectativa dessa comunidade que espera ansiosamente a segunda vinda de Cristo,
a fim de levar ao seu termo o projecto de libertação do homem e do mundo.
Temos, finalmente, os dois homens vestidos de branco (vers. 10b). O branco
sugere o mundo de Deus, o que indica que o seu testemunho vem de Deus. Eles
convidam os discípulos a continuar no mundo, animados pelo Espírito, a obra
libertadora de Jesus; agora, é a comunidade dos discípulos que tem de
continuar, na história, a obra de Jesus, embora com a esperança posta na
segunda e definitiva vinda do Senhor.
O sentido fundamental da ascensão não é que fiquemos a admirar a elevação de
Jesus; mas é convidar-nos a seguir o "caminho" de Jesus, olhando para
o futuro e entregando-nos à realização do seu projecto de salvação no meio do
mundo.
ACTUALIZAÇÃO
+ A ressurreição/ascensão de Jesus garante-nos, antes de mais, que uma vida
vivida na fidelidade aos projectos do Pai é uma vida destinada à glorificação,
à comunhão definitiva com Deus. Quem percorre o mesmo "caminho" de
Jesus subirá, como Ele, à vida plena.
+ A ascensão de Jesus recorda-nos, sobretudo, que Ele foi elevado para junto do
Pai e nos encarregou de continuar a tornar realidade o seu projecto libertador
no meio dos homens nossos irmãos. É essa a atitude que tem marcado a caminhada
histórica da Igreja? Ela tem sido fiel à missão que Jesus, ao deixar este
mundo, lhe confiou?
+ O nosso testemunho tem transformado e libertado a realidade que nos rodeia?
Qual o real impacto desse testemunho na nossa família, no local onde
desenvolvemos a nossa actividade profissional, na nossa comunidade cristã ou
religiosa?
+ É relativamente frequente ouvirmos dizer que os seguidores de Jesus gostam
mais de olhar para o céu do que se comprometerem na transformação da terra.
Estamos, efectivamente, atentos aos problemas e às angústias dos homens, ou vivemos
de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado? Sentimo-nos questionados
pelas inquietações, pelas misérias, pelos sofrimentos, pelos sonhos, pelas
esperanças que enchem o coração dos que nos rodeiam? Sentimo-nos solidários com
todos os homens, particularmente com aqueles que sofrem?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 46 (47)
Refrão 1: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor.
Refrão 2: Ergue-se, Deus, o Senhor,
em júbilo e ao som da trombeta.
Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.
Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta. Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.
Deus é Rei do universo: cantai os hinos mais belos. Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado.
LEITURA II - Ef 1,17-23
Irmãos:
O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito
de sabedoria e de luz
para O conhecerdes plenamente
e ilumine os olhos do vosso coração,
para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da
sua herança entre os santos
e a incomensurável grandeza do seu poder
para nós os crentes.
Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo,
que Ele ressuscitou dos mortos
e colocou à sua direita nos Céus,
acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania,
acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo
que há-de vir.
Tudo submeteu aos seus pés e pô-l'O acima de todas as coisas como Cabeça de
toda a Igreja, que é o seu Corpo,
a plenitude d'Aquele que preenche tudo em todos.
AMBIENTE
A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma "carta
circular" enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo
está na prisão (em Roma?). Q seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta
dos anos 58/60.
Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura
em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente.
Em concreto, o texto que nos é proposto aparece na primeira parte da carta e
faz parte de uma acção de graças, na qual Paulo agradece a Deus pela fé dos
efésios e pela caridade que eles manifestam para com todos os irmãos na fé.
MENSAGEM
À acção de graças, Paulo une uma fervorosa oração a Deus, para que os
destinatários da carta conheçam "a esperança a que foram chamados"
(vers. 18). A prova de que o Pai tem poder para realizar essa
"esperança" (isto é, conferir aos crentes a vida eterna como herança)
é o que Ele fez com Jesus Cristo: ressuscitou-Q e sentou-Q à sua direita (vers.
20), exaltou-Q e deu-Lhe a soberania sobre todos os poderes angélicos (Paulo
está preocupado com a perigosa tendência de alguns cristãos em dar uma
importância exagerada aos anjos, colocando-os até acima de Cristo - cf. Coi
1,6). Essa soberania estende-se, inclusive, à Igreja - o "corpo" do
qual Cristo é a "cabeça". Q mais significativo deste texto é,
precisamente, este último desenvolvimento. A ideia de que a comunidade cristã é
um "corpo" - o "corpo de Cristo" - formado por muitos
membros, já havia aparecido nas "grandes cartas", acentuando-se,
sobretudo, a relação dos vários membros do "corpo" entre si (cf. 1
Cor 6,12-20; 10,16-17; 12,12-27; Rom 12,3-8); mas, nas "cartas do
cativeiro", Paulo retoma a noção de "corpo de Cristo" para
reflectir sobre a relação que existe entre a comunidade e Cristo.
Neste texto, em concreto, há dois conceitos muito significativos para definir o
quadro da relação entre Cristo e a Igreja: o de "cabeça" e o de
"plenitude" (em grego, "pleroma").
Dizer que Cristo é a "cabeça" da Igreja significa, antes de mais, que
os dois formam uma comunidade indissolúvel e que há entre os dois uma comunhão
total de vida e de destino; significa também que Cristo é o centro à volta do
qual o "corpo" se articula, a partir do qual e em direcção ao qual o
"corpo" cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse
"corpo"; significa ainda que a Igreja/corpo está submetida à
obediência a Cristo/cabeça: só de Cristo a Igreja depende e só a Ele deve
obediência.
Dizer que a Igreja é a "plenitude" ("pleroma") de Cristo
significa dizer que nela reside a "plenitude", a
"totalidade" de Cristo. Ela é o receptáculo, a habitação, onde Cristo
Se torna presente no mundo; é através desse "corpo" onde reside, que
Cristo continua todos os dias a realizar o seu projecto de salvação em favor
dos homens. Presente nesse "corpo", Cristo enche o mundo e atrai a Si
o universo inteiro, até que o próprio Cristo "seja tudo em todos"
(vers. 23).
ACTUALIZAÇÃO
+ Na nossa peregrinação pelo mundo, convém termos sempre presente "a
esperança a que fomos chamados". A ressurreição/ascensão/glorificação de
Jesus é a garantia da nossa própria ressurreição/glorificação. Formamos com Ele
um "corpo" destinado à vida plena. Esta perspectiva tem de dar-nos a
força de enfrentar a história e de avançar - apesar das dificuldades - nesse
"caminho" do amor e da entrega total que Cristo percorreu.
+ Dizer que fazemos parte do "corpo de Cristo" significa que devemos
viver numa comunhão total com Ele e que nessa comunhão recebemos, a cada
instante, a vida que nos alimenta. Significa também viver em comunhão, em
solidariedade total com todos os nossos irmãos, membros do mesmo
"corpo", alimentados pela mesma vida. Estas duas coordenadas estão
presentes na nossa existência?
+ Dizer que a Igreja é o "pleroma" de Cristo significa que temos a
obrigação de testemunhar Cristo, de torná-l'O presente no mundo, de levar à
plenitude o projecto de libertação que Ele começou em favor dos homens. Essa
tarefa só estará acabada quando, pelo testemunho e pela acção dos crentes,
Cristo for "um em todos".
(Nota: em vez desta leitura, pode-se escolher a seguinte leitura facultativa:
Ef 4,1-13)
ALELUIA - Mt 28,19a.20b
Aleluia. Aleluia.
Ide e ensinai todos os povos, diz o Senhor:
Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.
EVANGELHO - Mc 16,15-20
Naquele tempo,
Jesus apareceu aos Doze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo
e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será
salvo; mas quem não acreditar será condenado.
Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em
meu nome;
falarão novas línguas;
se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal;
e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados».
E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e
sentou-Se à direita de Deus.
Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles,
confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.
AMBIENTE
A perícopa de Mc 16,9-20 distingue-se, no conjunto do Evangelho segundo Marcos,
por se apresentar com um estilo e com vocabulário muito diferentes do resto do
texto. Aliás, os manuscritos mais importantes e mais antigos que conservaram
este Evangelho concluíam o texto de Marcos em 16,8, com o medo das mulheres
que, na manhã de Páscoa, encontraram o túmulo vazio. Provavelmente, foi assim
que Marcos terminou o seu Evangelho, dando-lhe um final "aberto" e
como que convidando o leitor a completar o relato com a sua própria experiência
pessoal de seguimento de Jesus, superando o medo, "vendo" Jesus e
dando testemunho d'Ele.
No entanto, este final pareceu deixar insatisfeitos os leitores de Marcos e
apareceram várias tentativas de dar ao Evangelho segundo Marcos um final mais
satisfatório. Algumas dessas tentativas estão, aliás, atestadas em diversos
documentos antigos que nos transmitiram o texto do segundo Evangelho. De entre
os diversos "finais" que apareceram, houve um que se impôs aos
outrosOTrata-se de um texto de meados do séc. II, que apresenta um resumo das
aparições de Jesus ressuscitado contadas por outros evangelistas. Embora tardio
e não redigido por Marcos, este "final" é, contudo, parte integrante
da Escritura Sagrada. A Igreja reconhece-o como canónico, como inspirado por
Deus e como Palavra de Deus.
O texto que nos é proposto é parte da perícopa em causa. Os elementos
apresentados no texto são pequenos resumos de relatos feitos por outros
evangelistas. Assim, a aparição de Jesus ressuscitado aos Onze depende de Lc
24,36-43 e de Jo 20,19-29; a definição da missão dos apóstolos depende de Mt
28,16- 20 e de Lc 24,44-49; o relato da Ascensão depende de Lc 24,50-53 e de
Act 1,4-11.
O quadro traçado pelo autor da perícopa apresenta os discípulos a reagir de uma
forma muito negativa ao facto de Jesus já não estar com eles. Na manhã da
ressurreição, eles estavam "em luto e em pranto" (Mc 16,10); depois,
receberam o testemunho das mulheres que encontraram Jesus ressuscitado, com
incredulidade e com um coração obstinado (cf. Mc 16,14). Num caso e noutro,
negam-se a ir em frente e a continuar a aventura que começaram com Jesus. Têm
medo de arriscar e preferem ficar comodamente instalados a "lamber as
feridas". É o anti-seguimento eD encontro com Jesus ressuscitado vai,
porém, obrigá-los a sair do seu letargo e a assumir os seus compromissos e
responsabilidades, como membros da comunidade do Reino.
MENSAGEM
A questão central abordada no nosso texto é a do papel dos discípulos no mundo,
após a partida de Jesus ao encontro do Pai. O texto consta de três cenas: Jesus
ressuscitado define a missão dos discípulos; Jesus parte ao encontro do Pai; os
discípulos partem ao encontro do mundo, a fim de concretizar a missão que Jesus
lhes confiou.
Na primeira cena (vers. 15-18), Jesus ressuscitado aparece aos discípulos,
acorda-os da letargia em que se tinham instalado e define a missão que,
doravante, eles serão chamados a desempenhar no mundoD
A primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da
universalidade DA missão dos discípulos destina-se a "todo o mundo" e
não deverá deter-se diante de barreiras rácicas, geográficas ou culturais. A
proposta de salvação que Jesus fez e que os discípulos devem testemunhar destina-se
a toda a terra. Depois, Jesus define o conteúdo do anúncio: o
"Evangelho". O que é o "Evangelho"? No Antigo Testamento
(sobretudo no Deutero-Isaías e no Trito-Isaías), a palavra
"evangelho" está ligada à "boa notícia" da chegada da
salvação para o Povo de Deus. Depois, na boca de Jesus, a palavra
"Evangelho" designa o anúncio de que o "Reino de Deus"
chegou à vida dos homens, trazendo-lhes a paz, a libertação, a felicidade. Para
os catequistas das primeiras comunidades cristãs, o "Evangelho" é o
anúncio de um acontecimento único, capital, fundamental: em Jesus Cristo, Deus
veio ao encontro dos homens, manifestou-lhes o seu amor, inseriu-os na sua
família, convidou-os a integrar a comunidade do Reino, ofereceu-lhes a vida
definitiva. Tal é o único e exclusivo "evangelho", a "boa
notícia" que muda o curso da história e que transforma o sentido e os
horizontes da existência humana.
O anúncio do "Evangelho" obriga os homens a uma opção. Quem aderir à
proposta que Jesus faz, chegará à vida plena e definitiva ("quem acreditar
e for baptizado será salvo"); mas quem recusar essa proposta, ficará à
margem da salvação ("quem não acreditar será condenado" - verso 16).
O anúncio do Evangelho que os discípulos são chamados a fazer vai atingir não
só os homens, mas "toda a criatura". Muitas vezes o homem, guiado por
critérios de egoísmo, de cobiça e de lucro, explora a criação, destrói esse
mundo "bom" e harmonioso que Deus criou D Mas a proposta de salvação
que Deus apresenta destina-se a transformar o coração do homem, eliminando o
egoísmo e a maldade. Ao transformar o coração do homem, o "Evangelho"
apresentado por Jesus e anunciado pelos discípulos vai propor uma nova relação
do homem com todas as outras criaturas - uma relação não mais marcada pelo egoísmo
e pela exploração, mas pelo respeito e pelo amor. Dessa forma, nascerá uma nova
humanidade e uma nova natureza.
A presença da salvação de Deus no mundo tornar-se-á uma realidade através dos
gestos dos discípulos de Jesus DComprometidos com Jesus, os discípulos vencerão
a injustiça e a opressão ("expulsarão os demónios em meu nome"),
serão arautos da paz e do entendimento dos homens ("falarão novas
línguas"), levarão a esperança e a vida nova a todos os que sofrem e que
são prisioneiros da doença e do sofrimento ("quando impuserem as mãos
sobre os doentes, eles ficarão curados"); e, em todos os momentos, Jesus
estará com eles, ajudando-os a vencer as contrariedades e as oposições.
Na segunda cena (vers. 19), Jesus sobe ao céu e senta-Se à direita de Deus. A
elevação de Jesus ao céu (ascensão) é uma forma de sugerir que, após o
cumprimento da sua missão no meio dos homens, Jesus foi ao encontro do Pai e
reentrou na comunhão do Pai.
A intronização de Jesus "à direita de Deus" mostra, por sua vez, a
veracidade da proposta de Jesus. Na concepção dos povos antigos, aquele que se
sentava à direita de Deus era um personagem distinto, que o rei queria honrar
de forma especial D Jesus, porque cumpriu com total fidelidade o projecto de
Deus para os homens, é honrado pelo Pai e sentado à sua direita. A proposta que
Jesus apresentou, que os discípulos acolheram e que vão ser chamados a
testemunhar no mundo, não é uma aventura sem sentido e sem saída, mas é o
projecto de salvação que Deus quer oferecer aos homens.
Na terceira cena (vers. 20), descreve-se resumidamente a acção missionária dos
discípulos: eles partiram (quer dizer, deixaram para trás as seguranças e
afectos humanos por causa da missão) a pregar (quer dizer, a anunciar com
palavras e com gestos concretos essa vida nova que Deus ofereceu aos homens
através de Jesus) por toda a parte (propondo a todos os homens, sem excepção, a
proposta salvadora de Deus).
O autor desta catequese assegura aos discípulos que não estão sozinhos ao longo
durante a missão DJesus, vivo e ressuscitado, está com eles, coopera com eles e
manifesta-Se ao mundo nas palavras e nos gestos dos discípulos.
A festa da Ascensão de Jesus é, sobretudo, o momento em que os discípulos tomam
consciência da sua missão e do seu papel no mundo. A Igreja (a comunidade dos
discípulos, reunida à volta de Jesus, animada pelo Espírito) é, essencialmente,
uma comunidade missionária, cuja missão é testemunhar no mundo a proposta de
salvação e de libertação que Jesus veio trazer aos homens.
ACTUALIZAÇÃO
+ Jesus foi ao encontro do Pai, depois de uma vida gasta ao serviço do
"Reino"; deixou aos seus discípulos a missão de anunciar o
"Reino" e de torná-lo uma proposta capaz de renovar e de transformar
o mundo. Celebrar a ascensão de Jesus significa, antes de mais, tomar consciência
da missão que foi confiada aos discípulos e sentir-se responsável pela presença
do "Reino" na vida dos homens. Estou consciente de que a Igreja - a
comunidade dos discípulos de Jesus, a que eu pertenço também - é hoje a
presença libertadora e salvadora de Jesus no meio dos homens? Como é que eu
procuro testemunhar o "Reino" na minha vida de todos os dias - em
casa, no trabalho ou na escola, na paróquia, na comunidade religiosa?
+ A missão que Jesus confiou aos discípulos é uma missão universal: as fronteiras,
as raças, a diversidade de culturas não podem ser obstáculos para a presença da
proposta libertadora de Jesus no mundo. Tenho consciência de que a missão que
foi confiada aos discípulos é uma missão universal? Tenho consciência de que
Jesus me envia a todos os homens - sem distinção de raças, de etnias, de
diferenças religiosas, sociais ou económicas - a anunciar-lhes a libertação, a
salvação, a vida definitiva? Tenho consciência de que sou responsável pela
vida, pela felicidade e pela liberdade de todos os meus irmãos - mesmo que eles
habitem no outro lado do mundo?
+ Tornar-se discípulo é, em primeiro lugar, aprender os ensinamentos de Jesus -
a partir das suas palavras, dos seus gestos, da sua vida oferecida por amor. É
claro que o mundo do século XXI apresenta, todos os dias, desafios novos; mas
os discípulos, formados na escola de Jesus, são convidados a ler os desafios
que hoje o mundo coloca, à luz dos ensinamentos de Jesus. Preocupo-me em
conhecer bem os ensinamentos de Jesus e em aplicá-los à vida de todos os dias?
+ No dia em que fui baptizado, comprometi-me com Jesus e vinculei-me com a
comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A minha vida tem sido coerente
com esse compromisso?
+ É um tremendo desafio testemunhar, hoje, no mundo os valores do
"Reino" (esses valores que, muitas vezes, estão em contradição com
aquilo que o mundo defende e que o mundo considera serem as prioridades da
vida). Com frequência, os discípulos de Jesus são objecto da irrisão e do
escárnio dos homens, porque insistem em testemunhar que a felicidade está no
amor e no dom da vida; com frequência, os discípulos de Jesus são apresentados
como vítimas de uma máquina de escravidão, que produz escravos, alienados,
vítimas do obscurantismo, porque insistem em testemunhar que a vida plena está
no perdão, no serviço, na entrega da vida. O confronto com o mundo gera muitas
vezes, nos discípulos, desilusão, sofrimento, frustraçãoDNos momentos de
decepção e de desilusão convém, no entanto, recordar as palavras de Jesus: "Eu
estarei convosco até ao fim dos tempos". Esta certeza deve alimentar a
coragem com que testemunhamos aquilo em que acreditamos.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA
ASCENSÃO (adaptadas de "Signes d'eujcurd'hui"}
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 6° Domingo da Ascensão, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-Ia pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemploDEscolher um dia da semana para a meditação comunitária da
Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosaD Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de DeusD
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Estar com o RessuscitadoO Jesus ressuscitado apareceu aos seus Apóstolos e
manifestou-Se de modo diferente, consoante a sua fé lhes permitia
reconhecê-I'O. Agora que eles O viram, escutaram e tocaram, Ele podia
desaparecer aos seus olhos. Doravante, é com os olhos da fé que O verão. Mas
Cristo quer assegurar-lhes a sua presença, uma outra presença, mas real:
"o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres
que a acompanhavam". Assim, os Apóstolos tomam-se "cheios de
poder" e "porta-vozes" de Cristo, mas os seus actos são ao mesmo
tempo actos de Cristo, as palavras que pronunciam são ao mesmo tempo palavras
do seu Mestre. Ele está com eles até ao fim dos tempos. Os Apóstolos
desapareceram, a Igreja permanece e o Ressuscitado está sempre com ela,
trabalha connosco e confirma as nossas palavras. É necessário que também nós
estejamos com EleO
3. À ESCUTA DA PALAVRA.
Olhar para o céu Oe partir! No livro dos Actos, Lucas diz que os Apóstolos,
vendo Jesus elevar-Se à vista delesOestavam de olhar fito no Céu, enquanto
Jesus Se afastava. E que se apresentaram dois homens vestidos de branco, que
disseram:
"Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?" Conhecemos
bem esta tentação de "ficar aí", aqui e agora. Dito de outro modo:
mantermo-nos e, se possível, instalarmo-nos naquilo que temos, naquilo que
somos. É mais seguro apoiarmo-nos na nossa experiência, não mudando os nossos
hábitos, as nossas opiniões! Os Apóstolos passaram por isso! Eles imaginaram
que a sua aventura duraria muito tempo, que poderiam instalar-se no reino que
Jesus iria certamente estabelecer. Com o convite do Ressuscitado a irem pelo
mundo inteiro pregar a Boa Nova, com a pergunta dos anjos, eles têm que partir,
deixar os seus hábitos, o seu cantinho de terra. Que transformação! Não poderão
mais parar. Devem ir até aos confins da terra. No seguimento dos Apóstolos, os
cristãos não podem instalar-se. A Igreja não pode parar nem fixar-se num
momento do tempo, muito menos andar para trás. Não basta olhar para o céu para
encontrar solução para os problemas. Acabou a nostalgia do passado. Os cristãos
devem ser homens do seu tempo, sem medo das novidades. Jesus lança-nos para lá
das nossas rotinas, para que inventemos hoje os meios de tornar compreensível a
Boa Nova, como os Apóstolos souberam fazê-lo, ao irem para além da Lei de Moisés.
Os cristãos? Homens que se deixam levar pelo grande sopro do Espíritoo
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUEO
SinaisONão é evidente, é certo, termos sinais tangíveis e visíveis da nossa
acção apostólica O Entretanto, de tempos a tempos, Deus concede-nos esses sinais.
Procurando bem, procuremos anotá-los e dar graças deles: uma palavra de
agradecimento que nos surpreendeu pela sua verdade, um encorajamento recebido
de alguém que pudemos ajudar a retomar o caminhoO
Grupo Dinamizador
Pe. Joaquim Garrido - Pe. Manuel Barbosa - Pe. Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos) Rua Cidade
de Tele, 10:: 1800-129 Lisboa - Portugal
Tel: 218 540 900:: Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
ResponderExcluirObrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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