Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana –
Quinta-feira
27 Maio 2021
Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana
– Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Ben Sirá 42, 15-26
(gr. 15-25)
Relembrarei, agora, as obras do Senhor e
anunciarei o que vi. Pelas palavras do Senhor foram realizadas as suas obras e
segundo a sua vontade realizou-se o seu decreto. 16O Sol que brilha contempla
todas as coisas; a obra do Senhor está cheia da sua glória. 17Os santos do
Senhor não têm capacidade para contar todas as suas maravilhas, que o Senhor
omnipotente solidamente estabeleceu, a fim de que subsistam na sua glória.
18Ele sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais
subtis. Realmente, o Senhor conhece toda a ciência e contempla os sinais dos
tempos futuros. 19Anuncia o passado e o futuro e descobre os vestígios das
coisas ocultas. 20Nenhum pensamento lhe escapa, não se esconde dele uma só
palavra. 21Dispôs em ordem os grandes feitos da sua sabedoria. Ele que existe
antes de todos os séculos e para sempre. Nada se lhe pode acrescentar nem
diminuir, nem necessita do conselho de ninguém. 22Quão amáveis são todas as
suas obras! E todavia não podemos ver delas mais que uma centelha. 23Estas
obras vivem e subsistem para sempre e, em tudo o que é preciso, todas lhe
obedecem. 24Todas as coisas vão aos pares, uma corresponde à outra, e Ele nada
fez incompleto. 25Uma contribui para o bem da outra, e quem se saciará de
contemplar a sua glória?
O autor sagrado celebra a glória de Deus
na natureza. O termo hebraico kabod, glória, remete-nos para algo de pesado,
que se torna visível. A natureza manifesta a glória do Criador: «Os céus
proclamam a glória de Deus», diz o Sl 19, 2.
No Génesis, Deus cria o mundo pela sua palavra: Ele diz e tudo é feito. O nosso
autor recolhe esta tradição bíblica e afirma: «Pelas palavras do Senhor foram
realizadas as suas obras e segundo a sua vontade realizou-se o seu decreto» (v.
15). Depois de se referir ao sol, como o mais maravilhoso representante da
criação, o autor sagrado contempla a sabedoria que tudo regula e celebra a
omnisciência divina. Pressentimos o Sl 139: «Senhor, Tu examinaste-me e
conheces-me, sabes quando me sento e quando me levanto; à distância conheces os
meus pensamentos. Vês-me quando caminho e quando descanso; estás atento a todos
os meus passos. Ainda a palavra me não chegou à boca, já Tu, Senhor, a conheces
perfeitamente».
Quanto ao homem, é bem pouco o que conhece da criação. Pensemos nos mistérios
do microcosmos ou do macrocosmos, que tentamos perscrutar, mas de que ainda
conhecemos tão pouco. Mas o que conhecemos já é mais do que suficiente para
glorificar o Criador. O autor sublinha a estabilidade das coisas e louva a Deus
por isso.
Evangelho: Marcos 10, 46-52
Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de
Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu,
o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. 47E ouvindo dizer que se
tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David,
tem misericórdia de mim!» 48Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele
gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» 49Jesus parou
e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele
chama-te.» 50E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus.
51Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» –
respondeu o cego. 52Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou
a vista e seguiu Jesus pelo caminho.
Quando Jesus passa por Jericó, um
mendigo cego, chamado Bartimeu, procura ir ao encontro dele, apesar da oposição
de muitos que rodeiam o Senhor. Mas Jesus apercebe-se da situação, manda
chamá-lo e dialoga com ele. O cego dirige-se ao Senhor com a mesma palavra que
Maria usou na manhã da páscoa: «Rabbuni», «Meu mestre» (v. 51; cf. Jo 20, 16).
Esta expressão traduz estima, afecto. Jesus restitui a vista ao cego e atribui
a cura à sua fé. De facto, o cego, uma vez curado, põe-se a seguir Jesus.
Ao contar este episódio, pouco depois do terceiro anúncio da paixão, o
evangelista quer esclarecer o que se entende por fé e o que implica seguir
Jesus. Tal como aquele pobre homem, o discípulo deve ser um alguém que reza com
perseverança, que invoca Jesus nas dificuldades, recebe encorajamento, vai ao
seu encontro, deixa-se interrogar por Ele, deixa que lhe abra os olhos e O
segue pelo caminho. Temos aqui um bom documento sobre a pedagogia da fé.
Meditatio
A primeira leitura ensina-nos a ver mais
além da beleza e da magnificência da Criação, para chegarmos ao mistério que
ela esconde. Tudo o que existe é fruto da palavra de Deus e do seu amor
providente que tudo mantém, regula e faz viver. A profissão da nossa fé começa
pelo atributo de Deus Criador: «Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador
do céu e da terra». O Criador é Pai; a Criação é, sobretudo, obra do seu amor.
Como o cego Bartimeu, peçamos ao Senhor que nos abra os olhos para
contemplarmos a beleza e a grandeza da criação e, por ela, chegarmos ao
Criador, que é nosso Pai. A oração insistente do cego de Jericó fez-lhe
recuperar a vista e, sobretudo, levou-o a descobrir a identidade profunda
d´Aquele que o curou, levou-o à fé: «ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo
caminho» (v. 52).
Ver a luz é um enorme dom de Deus, que os homens sempre apreciaram. Nas antigas
literaturas, ver era quase sinónimo de vida. O que mais assustava os antigos,
quando pensavam na morte, era não poder ver a luz, era permanecer na região das
trevas. Agradeçamos ao Senhor o dom da vista, que nos permite contemplar as
suas obras. Mas peçamos também a luz da fé, para O louvarmos por elas: «Vai, a
tua fé te salvou!» (v. 52).
O melhor comentário a esta frase do evangelho é a palavra de Jesus: «Eu sou a
luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo
8, 12). O cego que segue Jesus encontrou a verdadeira luz, a luz da vida. É o
que já dizia o Sábio, ao recordar que só o Altíssimo conhece a ciência. Nós
vemos as coisas, mas, se não estivermos unidos ao Senhor, vemo-las de modo
superficial: «o Senhor conhece toda a ciência e contempla os sinais dos tempos
futuros. Anuncia o passado e o futuro e descobre os vestígios das coisas
ocultas.Nenhum pensamento lhe escapa» (vv. 18-20).
É na luz de Cristo que vemos a luz. Permaneçamos abertos à sua luz, para sermos
pessoas iluminadas. Peçamos-Lhe que nos faça ver, cada vez mais, a sua luz,
para louvarmos o Pai com todo o coração e atrairmos todos à sua luz.
A Criação é reflexo do Criador, manifesta a sua glória. Isto acontece
particularmente no homem criado «à imagem e semelhança» de Deus, e chamado a
ser à imagem e semelhança de «Cristo, imagem do Deus invisível» (Cl 1, 15).
Assim, a «glória de Deus que refulge no rosto de Cristo» (2 Cor 4, 6) refulge
também no noss
o rosto, irradia da nossa vida. Transformados à imagem de Cristo, devemos viver
e comportar-nos como Ele, como filhos de Deus: «Resplandeça a vossa luz diante
dos homens…, vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos
céus» (Mt 5, 6).
Oratio
Senhor, faz-me ver a minha cegueira ou
pelo menos, as cataratas que me impedem de ver com clareza as tuas obras e
descobrir nelas o teu mistério. Faz-me admirar as obras do teu amor, para ser,
cada vez mais, um poeta que canta a vida e admira o céu, espelho da tua beleza
e do teu amor. As tuas obras são imensas. A todos dás alimento. Manda o teu
Espírito para que renove a face da terra e transforme o meu coração à imagem do
Coração do teu Filho, Jesus Cristo. E hei-de bendizer o teu nome, agora e para
sempre. Amen.
Contemplatio
Deus é artista. O artista tem um ideal
cuja recordação influencia todas as suas obras. A arte grega tinha alguns
modelos escolhidos, obras-primas dos seus grandes mestres, que eram chamados tipos
e cânones e que eram sempre imitados. Um músico tem um tema principal, sobre o
qual executa variações. Deus tinha o seu ideal, o seu cânone, o seu tema
principal, o Coração de Jesus, e para encontrar bela a sua criação, colocou por
toda a parte o selo do Coração de Jesus. Mas na criação, depois do seu Cristo,
objecto de todas as suas infinitas complacências, depois dos seus anjos,
imagens espirituais do Verbo, Deus quis os corações humanos, fracas imitações
do Coração de Jesus, que adquirem valor pela sua semelhança e a sua união a
este divino Coração. Os corações humanos hão-de agradar a Deus se fizerem eco
ao Coração de Jesus, se forem animados pela sua graça, pela sua vida
sobrenatural, se forem como Ele inspirados, conduzidos, vivificados pelo Espírito
Santo. Aqui está então o programa, o ideal da minha vida. Como é elevado, como
é belo! «Deus viu que a sua obra era bela». (Leão Dehon, OSP 4, p. 514s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a
palavra:
«Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
criador do céu e da terra» (Símbolo Niceno-Constantinopolitano).
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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando
Fonseca, scj
Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Sexta-feira
28 Maio 2021
Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana –
Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Ben Sirá 44, 1.9-13
Louvemos os homens ilustres, nossos
antepassados, segundo as suas gerações 9Outros há, cuja memória já não existe;
pereceram como se não tivessem existido, nasceram como se não tivessem nascido,
e da mesma maneira, os seus filhos, depois deles. 10Porém, aqueles foram homens
de misericórdia, cujas obras de piedade não foram esquecidas. 11Na sua
descendência permanecem os seus bens, e a sua herança passa à sua posteridade.
12Os seus descendentes mantiveram-se fiéis à Aliança, os seus filhos também,
graças a eles. 13A sua posteridade permanecerá para sempre, e a sua glória não
terá fim.
Depois de contemplar a glória de Deus na
criação, Ben Sirá contempla-a na História. Essa contemplação acaba por
fortalecer o sentido de pertença à própria família, ao próprio povo. As
gerações são como as águas de um rio que, da nascente, avança para o mar. Mas é
sempre a mesma família, é sempre o mesmo povo.
O autor sagrado elogia os homens ilustres, aquelas pessoas que deram brilho ao
seu povo, que contribuíram para apoiar a história de Israel, passando em
revista as diversas gerações, desde as origens até ao século V a. C. Hoje
escutamos a introdução a esse texto onde são apresentadas pessoas que marcaram
a história pelas suas virtudes, ou pela sua piedade, como lemos no texto
hebraico. Esta piedade consistia na fidelidade e no amor a Deus, mas também na misericórdia
para com os pequenos e oprimidos, no precioso serviço da educação dos mais
novos.
O bem nunca se perde, mas deixa lançadas sementes que, mais cedo o mais tarde,
acabam por germinar e dar fruto. Por isso, a memória dos antigos virtuosos é
uma bênção.
Evangelho: Marcos 10, 1-12
Naquele tempo, Jesus, depois de ser aclamado
pela multidão, chegou a Jerusalém e entrou no templo. Depois de ter examinado
tudo em seu redor, como a hora já ia adiantada, saiu para Betânia com os Doze.
12Na manhã seguinte, ao deixarem Betânia, Jesus sentiu fome. 13Vendo ao longe
uma figueira com folhas, foi ver se nela encontraria alguma coisa; mas, ao
chegar junto dela, não encontrou senão folhas, pois não era tempo de figos.
14Disse então: «Nunca mais ninguém coma fruto de ti.» E os discípulos ouviram
isto. Chegaram a Jerusalém; e, entrando no templo, Jesus começou a expulsar os
que vendiam e compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os
bancos dos vendedores de pombas, 16e não permitia que se transportasse qualquer
objecto através do templo. 17E ensinava-os, dizendo: «Não está escrito: A minha
casa será chamada casa de oração para todos os povos? Mas vós fizestes dela um
covil de ladrões.» 18Os sacerdotes e os doutores da Lei ouviram isto e
procuravam maneira de o matar, mas temiam-no, pois toda a multidão estava
maravilhada com o seu ensinamento. 19Quando se fez tarde, saíram para fora da
cidade. 20Ao passarem na manhã seguinte, viram a figueira seca até às raízes.
21Pedro, recordando-se, disse a Jesus: «Olha, Mestre, a figueira que
amaldiçoaste secou!» 22Jesus disse-lhes: «Tende fé em Deus. 23Em verdade vos
digo, se alguém disser a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, e não
vacilar em seu coração, mas acreditar que o que diz se vai realizar, assim
acontecerá. 24Por isso, vos digo: tudo quanto pedirdes na oração crede que já o
recebestes e haveis de obtê-lo. Quando vos levantais para orar, se tiverdes
alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, 25para que o vosso Pai que
está no céu vos perdoe também as vossas ofensas. 26Porque, se não perdoardes,
também o vosso Pai que está no Céu não perdoará as vossas ofensas.»
Depois de uma longa viagem, durante a qual anunciou o Reino e realizou
prodígios, que manifestavam a sua presença, Jesus chega a Jerusalém. Entra no
templo, examina a situação, e retira-se para Betânia, onde pernoita.
No dia seguinte dá-se o episódio da maldição da figueira, um evento que tem
dado aso a muitas discussões e hipóteses entre os exegetas. Não vamos entrar
nelas. Mas, encorajados pela liturgia que nos faz ler hoje três episódios do
ministério de Jesus em Jerusalém, – a madição da figueira (vv. 12-14), a
expulsão dos profanadores do tempo (vv. 15-19), a exortação à fé (vv. 22-25), –
vamos procurar descobrir a ligação que há entre eles. Jesus tem fome, procura
figos na figueira e não os encontra. Marcos informa que «não era tempo de
figos» (v. 14). Este evento inquadra-se no contexto da revelação que Jesus está
a completar. O tempo da fé é salvífico, e não cronológico. Jesus revela que o
Pai, n´Ele, tem fome e tem sede, não de alimento ou de bebida, mas de amor, de
justiça, de rectidão; tem fome e sede de respeito pela sua morada, e não da
profanação do templo santo, que somos cada um de nós. Para saciar esta fome e
esta sede, todo o tempo e todo o lugar são bons. Israel perdera a sua
fecundidade religiosa porque, explorando o povo simples no próprio templo de
Deus, não amava a humanidade e não podia, por conseguinte, correr o risco da
maravilhosa aventura da oração e da fé.
Meditatio
A primeira leitura oferece-nos a possibilidade
de meditar sobre as virtudes e os exemplos dos antepassados. O Sábio canta as
suas glórias e aponta-os como modelos. Hoje, mais do que nunca, num mundo onde
tudo passa vertiginosamente, onde tudo é relativizado, precisamos urgentemente
de referências. O importante é saber onde estão as referências correctas,
aquelas que nos podem ajudar a crescer humana e espiritualmente. Homens
valorosos são aqueles que são fiéis a Deus, como os Santos. Por isso, não só os
invocamos nas nossas necessidades e aflições, mas também procuramos imitá-los
no seu grande amor a Deus e ao próximo.
Jesus, no evangelho de hoje, surpreende-nos. Estamos habituados a repetir as
suas palavras: «aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11,
29). Hoje, porém, o Senhor parece-nos violento. De facto, o amor de Jesus não é
mole. É um amor forte, que em certas ocasiões se manifesta de modo
verdadeiramente violento: «Jesus começou a expulsar os que vendiam e compravam
no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores
de pombas» (Mt 11, 12). O que o faz actuar é o seu amor pelo Pai e por nós.
Quer purificar a casa do Pai que deve tornar-se «casa de oração para todos os
povos», e não uma «covil de ladrões».
O episódio da figueira que não tem frutos ilumina este amor. A propósito desta
árvore que, amaldiçoada por Jesus, seca, – gesto simbólico que mostra a
necessidade de produzir frutos abençoados por Deus – Jesus faz o seguint
e comentário: «Tende fé em Deus. Em verdade vos digo, se alguém disser a este
monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, e não vacilar em seu coração, mas
acreditar que o que diz se vai realizar, assim acontecerá» (v. 23). Jesus, que
está sempre em íntima comunhão com o Pai, conhece a sua generosidade. Por isso,
convida-nos a esta oração confiante. E não se esquece do amor fraterno. Por
isso, acrescenta: «Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa
contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos
perdoe também as vossas ofensas.» (vv. 24-25). O amor pelo Pai está intimamente
unido ao amor pelos homens, os homens que Ele ama. Para estar unidos ao Pai, e
crescer nessa união, é preciso abrir o coração aos outros, ainda que pecadores,
ainda que nos tenham ofendido, como fez Jesus.
Peçamos ao Senhor uma vida cheia de fé, uma vida assente no amor, mesmo por
aqueles que são contra nós. É assim que imitamos o Pai que está no céu. É assim
que seguimos os bons exemplos dos Santos, e deixamos atrás de nós um rasto
luminoso de bem.
O seguimento de Jesus, na fidelidade e no amor, garante uma vida cheia de
frutos que permanecem.
Oratio
Senhor, são muitos os bons e os maus exemplos,
que vejo à minha volta. Também eu dou alguns bons exemplos e, infelizmente, muitos
maus exemplos. Ajuda-me a fixar-me nos bons exemplos dos teus Santos. Ajuda-me
a eliminar os maus exemplos que eu próprio dou aos outros. Que eu saiba imitar
tantos antepassados na fé, no amor por Ti e pelos outros. Que na minha vida,
cheia de fé, o Espírito Santo produza os seus inúmeros frutos de santidade e de
bem. E que esses frutos permaneçam para sempre. Amen.
Contemplatio
O exemplo de Maria e dos santos. – É o cântico
de acção de graças de Maria que meditamos hoje. Este cântico marca as suas disposições
habituais. É Maria mesma que a sua parente acaba de louvar e de cumprimentar.
Isabel, sentindo a graça se espalhou nos lábios de Maria e advertida pelos
estremecimentos de João Baptista, exclamou por um movimento do Espírito Santo:
«sede bendita entre todas as mulheres, e de onde me vem esta felicidade que a
Mãe do meu Deus me venha visitar?» Mas Maria não pensa senão no seu Deus. Canta
o seu cântico de reconhecimento: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu
coração exulta de alegria em Deus meu Salvador». Toda abismada na sua
humildade, ela remete para Deus todos os louvores que a ela lhe dão. Tratam-na
por Mãe de Deus, ela não se considera nem quer ser considerada senão como sua
serva. Protesta com acção de graças que foi Deus quem tudo fez nela; publica a
santidade do nome de Deus, a extensão do seu poder e a grandeza das suas
misericórdias. Assim o seu hino de acção de graças tornou-se a expressão
ordinária do reconhecimento dos fiéis. Ela inspirava-se do espírito de Jesus.
Ele mesmo quis que as efusões do seu reconhecimento para com o Pai fossem
assinaladas no Evangelho, nomeadamente antes e depois da Ceia eucarística, a
maravilha do amor do seu Pai para connosco. Os santos expandiam-se sem cessar
em acções de graças. Temos disso a prova na Sagrada Escritura. Diz-se de Tobias
que dava graças ao Senhor todos os dias da sua vida (Tobias 2, 14). David
exclamava: «Que darei ao Senhor por todos os bens que dele recebi» (Sl 115).
Ele mesmo se excitava ao reconhecimento: «Ó minha alma, bendiz o Senhor e não
esqueças todos os seus benefícios» (Sl 102). E passava em revista os benefícios
sem número de Deus: perdoa os nossos pecados, cura as nossas enfermidades,
faz-nos uma coroa das suas misericórdias (Sl 102). Os salmos são muitas vezes
hinos de acção de graças a Deus sem interrupção (2Tes 2, 14); e ainda: Dai
graças a Deus em todas as coisas, esta é a vontade de Deus em Cristo (Tês 5).
(Leão Dehon, OSP4, p. 543s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Escolhi-vos para que vades e deis muito fruto (Jo 15, 16).
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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando
Fonseca, scj
Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Sábado
29 Maio 2021
Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana –
Sábado
Lectio
Primeira leitura: Ben Sirá 51, 17-27 (gr. 12-20)
Eu te glorificarei, cantarei os teus louvores,
e bendirei o nome do Senhor. 13Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado,
busquei abertamente a sabedoria na oração. 14Pedi-a a Deus, diante do
santuário, e buscá-la-ei até ao fim. 15Na sua flor, como uva sazonada, o meu
coração nela se alegrou; os meus pés andaram por caminho recto; desde a minha
juventude tenho seguido os seus rastos. 16Apliquei um pouco o meu ouvido, e
logo a percebi; encontrei em mim mesmo muita sabedoria. 17Nela fiz grandes progressos.
Tributarei glória àquele que me deu a sabedoria, 18porque resolvi pô-la em
prática; tive zelo do bem e não serei confundido. 19Lutou minha alma por ela e
pus toda a atenção em observar a Lei. Levantei as minhas mãos ao alto e
deplorei a minha ignorância acerca dela. 20Dirigi para ela a minha alma, e na
pureza a encontrei. Graças a ela, adquiri inteligência desde o princípio; por
isso nunca serei abandonado.
Ben Sirá conclui o seu livro com uma oração,
que ocupa o capítulo 50, a partir do versículo 29, e se prolonga pelo capítulo
51, até ao versículo 12. É uma digna conclusão para a sua obra sobre a
Sabedoria. As últimas palavras da oração são um propósito em ordem ao futuro:
«Eu te glorificarei, cantarei os teus louvores, e bendirei o nome do Senho» (v.
12). Logo depois, ao fazer memória da sua caminhada na busca da Sabedoria, o
autor tira outra conclusão: «Graças a ela (à Sabedoria), adquiri inteligência
desde o princípio; por isso nunca serei abandonado» (v. 20).
Ben Sirá, na alusão às suas viagens, reconhece que houve tempo, provavelmente
na juventude, em que andou desorientado. Mas teve tempo para encontrar a
sabedoria, na oração: «Pedi-a a Deus, diante do santuário» (v. 14). Não basta a
inteligência e o esforço humano para encontrar a sabedoria, porque ela é,
sobretudo, um dom de Deus, uma participação na Sua própria Sabedoria. É por
isso que a Sabedoria faz caminhar, faz crescer: «Nela fiz grandes progressos»
(v. 17). Sendo a Sabedoria um dom divino, o homem sente necessidade de
agradecê-la a Deus: «Tributarei glória àquele que me deu a sabedoria, 18porque
resolvi pô-la em prática» (vv. 17b-18ª).
Um dom tão precioso como a Sabedoria não se pode desperdiçar. Por isso, Ben
Sirá procura transmiti-la às gerações futuras. Hoje, somos nós que recebemos esse
dom, sendo chamados a desposar-nos com a Sabedoria, que nos prepara para a
vinda de Cristo, «Sabedoria de Deus».
Evangelho: Marcos 11, 27-33
Naquele tempo, Jesus e os discípulos
regressaram a Jerusalém e, andando Jesus pelo templo, os sumos sacerdotes, os
doutores da Lei e os anciãos aproximaram-se dele 28e perguntaram-lhe: «Com que
autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres?» 29Jesus
respondeu: «Também Eu vos farei uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então,
com que autoridade faço estas coisas: 30O baptismo de João era do Céu, ou dos
homens? Respondei-me.» 31Começaram a discorrer entre si, dizendo: «Se dissermos
‘do Céu’, dirá: ‘Então porque não acreditastes nele?’ 32Se, porém, dissermos
‘dos homens’, tememos a multidão.» Porque todos consideravam João um verdadeiro
profeta. 33Por fim, responderam a Jesus: «Não sabemos.»E Jesus disse-lhes: «Nem
Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.»
A atitude «subversiva» de Jesus no templo
inquietou os chefes, que resolveram interrogá-lo. Dir-se-ia que se trata de um
inquérito à margem do processo oficial. A resposta positiva de Jesus, à
pergunta que lhe faziam, equivalia a declarar-se Messias, pois só Messias tem
autoridade para tomar tais atitudes. E nada mais seria preciso para um processo
oficial contra Ele. Com grande habilidade, Jesus responde com outra pergunta,
que lança a confusão entre os seus adversários. Como não tiveram coragem para
responder, e se escudaram num lacónico «não sabemos», Jesus despediu-os com uma
expressão seca: «Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas» (v. 33).
Talvez nos espante esta atitude de Jesus, tão atencioso e compassivo com
Bartimeu. Mas o Senhor detesta a arrogância e a má vontade. É puro, mas não
ingénuo. Além disso, a sua dureza podia levar os adversários a rever posições
ou, pelo menos, a reconhecer que não procuravam a verdade, mas só
desembaraçar-se dele.
Jesus dá-nos exemplo de «ética profética». A sua autoridade está na linha da de
João Baptista. Se os adversários de Jesus reconhecessem a autoridade de João, a
sua resistência a Jesus seria menos grave. Mas não o fizeram. Acabaram por
recusar Jesus, mas também por atraiçoar o Baptista, ignorando a confiança que o
povo tinha nele, pois o considerava um verdadeiro profeta.
Meditatio
A história da Salvação avança enriquecendo-se
progressivamente, até desembocar no Novo Testamento. O Antigo Testamento alude,
esboça e anuncia o Novo Testamento, que completa, realiza e leva a pleno
cumprimento quanto foi aludido, esboçado, anunciado. A Sabedoria, por exemplo,
começa por ser um facto da experiência e do bom senso humano. Mas,
progressivamente, assume tons do Divino. Nos fins do Antigo Testamento, é mesmo
um atributo divino, propriedade que emana de Deus e investe proveitosamente o mundo.
O Sábio percebeu esse progressivo movimento de enriquecimento, e começa a
dar-se conta e a comunicar que não se pode viver sem a Sabedoria, que, ao fim e
ao cabo, é um dom de Deus. Sem ela, não temos contacto com o divino, e a vida
perde sabor. Mas, com ela, tudo tem sentido.
O evangelho apresenta-nos os chefes do povo de Jerusalém que, indispostos, vão
interrogar Jesus sobre os milagres que faz. O Senhor contra-ataca, fazendo
perguntas que os deixam embaraçados, porque lhes fazem ver que não só não aceitaram
o baptismo de João, não procuraram Jesus com pureza de coração, e nem sequer a
verdade, mas unicamente os seus interesses mesquinhos. Por isso, acabam por
responder: «Não sabemos». Não encontraram a Sabedoria. Pelo contrário, Maria,
que sempre gostamos de recordar, particularmente em dia de sábado, é, para nós,
modelo da busca da Sabedoria, porque procura a vontade de Deus com simplicidade
e pureza de coração. Também ela fez uma pergunta ao anjo, na Anunciação: «Como
será isso, se eu não conheço homem?» (Lc 1, 34). A pergunta de Maria não é má.
A Virgem apenas pede um esclarecimento. Ouve respostas que não esclarecem tudo,
mas lhe dizem que Deus tem um projecto onde Ela entra. E Maria aceita
confiadamente participar nele. É o mesmo abandono e disponibilidade que Deus
nos pede.
Muitas vezes, os nossos pedidos a Deus, na oração, não obtêm logo resposta.
Essa chega-nos na vida, nos acontecimentos
. É por isso que Maria observava o que se passa à sua com Jesus, guardando e
meditando tudo no seu coração. Com humildade, paciência e constância, Maria
procurava a sabedoria sobre o projecto de Deus, que se revelava pouco a pouco,
e ao qual aderia de todo o coração. Assim há-de ser também a nossa atitude.
Oratio
Senhor Jesus, pelas mãos de Maria, tua e minha
Mãe, ofereço-Te a minha inteligência para os teus pensamentos; ofereço-Te a
minha vontade, para os teus desejos; ofereço- Te os meus sentidos para as tuas
obras; ofereço-Te o meu coração, para o teu amor. Faz que, vivendo de Ti,
trabalhando por Ti, eu me transforme em Ti. Mãe de Jesus, faz de mim outro
Jesus. Amen.
Contemplatio
As qualidades e as condições do
reconhecimento. – O nosso reconhecimento (para com Deus) deve ser sobretudo
afectuoso, cheio de ternura e de amor. Poderíamos nós amar demasiado aquele que
nos ama com um amor tão paternal e que nos cumula com tantos benefícios? O
nosso reconhecimento deve ser contínuo. Deve manifestar-se desde o nosso
despertar, ao primeiro som dos sinos, que recordam a mensagem do anjo Gabriel a
Maria; depois de um empreendimento coroado de sucesso, depois das /545
refeições, ao tomarmos conhecimento de uma notícia feliz e agradável, mesmo no
meio da tribulação e das adversidades, a cruz é tão preciosa para nos purificar
e nos merecer graças! Façamos de modo a que a nossa vida seja uma acção de
graças contínua. Tenho praticado esta virtude até ao presente? O meu espírito
tem pensado nisso tão frequentemente como devia? O meu coração está dela
penetrado? A minha boca fala dela muitas vezes? Oferece ao meu Deus os
sacrifícios de louvor que Ele espera de mim? Sinto retinir as lamentações tão
tocantes expressas por Nosso Senhor à Bem-aventurada Margarida Maria: «Não
recebo da maior parte senão ingratidões, pelos desprezos, pelas irreverências,
pelos sacrilégios e pelas friezas que têm para comigo no sacramento do meu
amor… A ingratidão dos homens é-me mais sensível que tudo o que sofri na minha
Paixão». (Leão Dehon, OSP4, p. 544s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eu te glorificarei, cantarei os teus louvores, e bendirei o nome do Senhor»
(Sir 51, 12).
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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando
Fonseca, scj
DEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.