Tempo Comum - Anos Ímpares - IX Semana - Terça-feira
1 Junho 2021
Tempo Comum - Anos Ímpares - IX Semana -
Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Tobite 2, 9-14
Eu, Tobite, naquela noite de Pentecostes,
depois de ter enterrado o cadáver, lavei-me, entrei no pátio da casa e
deitei-me junto do muro, deixando a face descoberta por causa do calor. 10Não
sabia que havia pássaros no muro por cima de mim e, tendo os olhos abertos, os
pássaros deixaram cair nos meus olhos excremento quente, dando origem a umas
manchas brancas. Procurei os médicos para me tratarem. Contudo, quanto mais me
aplicavam medicamentos, mais se me cegavam os olhos por causa das escamas, até
que perdi totalmente a vista. Fiquei cego quatro anos. Todos os meus irmãos se
afligiam por minha causa e Aicar sustentou-me por dois anos, antes de partir
para Elimaida. 11Nessa época, Ana, minha mulher, trabalhava em labores
femininos, tecendo a lã 12que depois mandava aos patrões recebendo em seguida o
pagamento. Ora, no sétimo dia do mês de Distro, cortou o tecido que
confeccionara e mandou-o aos que o tinham encomendado; estes pagaram-lhe o
preço devido e ainda lhe ofereceram um cabrito pelo tecido. 13Quando o cabrito
chegou a casa, começou a balir. Chamei, então, Ana e disse-lhe: «De onde veio
este cabrito? Não terá sido furtado? Devolve-o aos seus donos, porque não nos é
lícito comer coisa alguma furtada.» 14Disse-me ela: «Foi-me dado de presente,
além do meu salário.» Contudo, não acreditando nela, mandei que o devolvesse
aos donos, envergonhando-me do seu procedimento. Porém, ela respondeu: «Onde
estão as tuas esmolas? Onde estão as tuas boas obras? Aí tens, agora, o
resultado».
Apesar de ser fiel à Lei, Tobite nem sempre
recebeu de Deus a correspondente recompensa. Foi mesmo submetido a duras
provações: tiraram-lhe todos os bens, e o rei procurava dar-lhe a morte. A
última grande provação foi a da cegueira, que durou quatro anos, e o sujeitou
ao escárnio e às críticas da própria esposa, Ana. É claro o paralelismo com a
figura de Job. S. Jerónimo diz que ambos são exemplos de paciência, de
humildade e de mansidão, de fé e de temor de Deus no meio das humilhações e
abatimentos.
É o que frequentemente acontece com o justo na provação. À dor da desgraça,
junta-se a da solidão. E surge a tentação: terá sido inútil ser fiel? Os
amigos, que deviam apoiá-lo, também se colocam contra ele. Mas é nestes
momentos que se verifica a solidez da fé e a força da paciência. A paciência é
a virtude da rocha: pode ser pisada, martelada, mas não se deixa modificar.
Assim é a fé de Tobite. Por isso, morrerá em paz e cheio de anos (Tb 11 e 14).
O livro de Tobite ainda não conhece a ressurreição dos mortos.
Segunda leitura: Marcos 12, 13-17
Naquele tempo, 13foram enviados a Jesus alguns
fariseus e partidários de Herodes, a fim de o apanharem em alguma palavra.
14Aproximando-se, disseram-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero, que não te
deixas influenciar por ninguém, porque não olhas à condição das pessoas mas
ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade. Diz-nos, pois: é lícito ou não
pagar tributo a César? Devemos pagar ou não?» 15Jesus, conhecendo-lhes a
hipocrisia, respondeu: «Porque me tentais? Trazei-me um denário para Eu ver.»
16Trouxeram-lho e Ele perguntou: «De quem é esta imagem e a inscrição?»
Responderam: «De César.» 17Jesus disse: «Dai a César o que é de César, e a Deus
o que é de Deus.» E ficaram admirados com Ele.
Alguns fariseus e partidários de Herodes, que
se consideravam nacionalistas, mas colaboravam com os romanos, fingindo
sinceridade, fazem a Jesus uma pergunta armadilhada. Queriam embaraçá-lo,
tornando-O malvisto pelas autoridades romanas ou pela multidão. Jesus evita a
armadilha, e aproveita a ocasião para oferecer um importante critério para a
vida cristã: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (v. 17).
Deus e César não se opõem, nem se colocam ao mesmo nível. O primado de Deus não
retira ao Estado os seus direitos. O cristão deve obedecer a Deus, mas também
aos homens. Em qualquer caso, obedece por causa de Deus e não por causa dos
homens, porque toda a autoridade humana tem as suas raízes no Eterno. Este
princípio está na origem da liberdade de consciência, afasta da idolatria do
poder, leva a acolher a soberania da Igreja, mas também a do Estado.
Esta mensagem de liberdade surpreende os adversários de Jesus: «Ficaram
admirados com Ele» (v. 17b). A opção a fazer não é entre Deus e César, mas
entre Deus e todo o movimento humano, ainda que chamado libertador, ainda que
seja o dos zelotas. Os movimentos libertadores, mais tarde ou mais cedo,
pretendem tornar-se absolutos. É por isso que o profeta mantém a devida
distância, em relação a eles.
Meditatio
Impressiona-nos a atitude de um homem, como
Tobite, que, atingido pela cegueira, agradece a Deus: na «desgraça da cegueira
que o tinha atingido, Tobite deu graças ao Senhor todos os dias da sua vida». É
a atitude do verdadeiro crente na provação: em vez de se escandalizar com Deus,
continua a dar-Lhe graças, porque sabe que o Senhor não o abandona e continua a
enchê-lo de bens. Quantas vezes vemos à nossa volta pessoas boas que sofrem
duramente! Quantas vezes, nós mesmos, mergulhamos na dor! Diante das nossas
reacções de murmuração e revolta, diante dos nossos gritos de desânimo e de
angústia, diante do vacilar da nossa fé, a resposta de Tobite desconcerta-nos.
As suas palavras soam a música de outro mundo: «Deu graças ao Senhor!» Os
amigos riem-se dele, a mulher insulta-o, a cegueira incapacita-o, a
incompreensão e as mofa dos vizinhos atormentam-no. Mas Tobite bendiz a Deus.
Tobite é figura de Jesus que, na última ceia, antes da sua paixão, bendiz o Pai
ao tomar o pão que estava para se tornar seu corpo entregue por nós. Jesus
reconheceu na paixão um dom do Pai. Depois de Jesus, cada provação é uma
possibilidade, uma ocasião de amor e de união a todos os que sofrem. Por isso,
é justo que se dê graças a Deus pelo amor que nos quer comunicar.
A resposta de Jesus à pergunta insidiosa dos fariseus é simultaneamente simples
e complexa, podendo explicar-se de várias maneiras. Hoje, sublinho o sentido de
coerência que Jesus quer ensinar aos adversários, que apenas procuravam ocasião
para o acusar: «Trazei-me um denário para Eu ver», diz Jesus. Trouxeram-lho.
Assim mostraram que, eles mesmos, usavam a moeda romana, negociando e obtendo
lucros com ela. Estavam, pois, comprometidos com a estrutura criada pelo poder
dos pagãos. Por isso, deviam pagar os impostos. Ao recusar o pagamento,
faziam-no por motivações religiosas, com pretextos religiosos, ou simplesmente
pelo desejo de independência dos romanos. Mas Jesus evidencia-lhes a
incoerência. Se aceitam a imagem de César para o que lhes interessa, deverão
aceitá-la também para pagar
os impostos: «Dai a César o que é de César». Mas logo acrescenta: «Dai a Deus o
que é de Deus». O fundamental é dar a Deus o que a Deus pertence. Mas isso não
exclui os outros deveres.
Na vida social, na vida civil, nem tudo é lógico e coerente. Os cristãos hão-de
ter coragem para recusar situações e leis que não correspondem ao bem dos
cidadãos. Mas também hão-de contribuir leal e rectamente para o bem do país e
das pessoas, mesmo quando perseguidos. Assim participam na bondade de Deus.
Oratio
Obrigado, Senhor, pelas provações da nossa
vida. Ilumina-nos e fortalece-nos com o teu Espírito, para que permaneçamos
firmes na fé e na esperança. Quando o sofrimento, a solidão, o peso da vida e o
cansaço nos oprimirem, ensina-nos a deixar-nos conduzir e apoiar por Ti, a
unir-nos mais fortemente a Ti, sem fazermos perguntas, sem exigirmos
explicações. Então, brilhará a tua luz no nosso céu escurecido e ameaçador,
então florirá a esperança que não engana, então entoaremos o cântico silencioso
de acção de graças a Ti, Deus bom, providente e fiel. Amen.
Contemplatio
Tobite, o pai de Tobias, estava cativo em
Nínive. Fiel a Deus, assiste os seus irmãos infelizes, socorre os pobres,
visita os doentes, sepulta os mortos. Duras provações o assaltam. Um dia em que
tinha adormecido de fadiga junto de um muro, depois das suas corridas de
caridade, dejectos caídos de um ninho cegam-no. Os seus familiares insultavam a
sua infelicidade como os de Job. Já não tinha a consolação de ir assistir aos
seus irmãos infelizes. A penúria fazia-se sentir em sua casa. Queria enviar o
seu filho para recuperar um empréstimo em casa de um familiar no país dos
Medos, mas era preciso um companheiro para ir tão longe. Tobias, o filho, sai
para procurar um guia, e encontra um belo jovem que se oferece para o
acompanhar. É o grande arcanjo, velado sob a aparência de um homem. Não somos
nós demasiado negligentes para com o nosso anjo da guarda? Pensamos nele,
invocamo-lo em todas as nossas dificuldades? (Pe. Dehon, OSP4, p. 389).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Bendito seja Deus e bendito o seu grande nome!» (Tb 11, 9).
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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