24 Maio
2021
Tempo Comum - Anos Ímpares - VIII Semana -
Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Ben Sirá 17, 20-28 (gr.
24-29)
Meu filho: O Senhor permite que se arrependam,
deixa recomeçar, e conforta os que perderam a perseverança. 25Converte-te ao
Senhor, deixa os teus pecados, suplica diante dele e evita as ocasiões de
pecado. 26Volta-te para o Altíssimo, afasta-te da injustiça, - pois Ele próprio
te conduzirá, das trevas à claridade da salvação - e detesta profundamente o
que é abominável. 27Quem louvará o Altíssimo no Hades, em lugar dos vivos, quem
o poderá louvar? 28O morto, como quem não existe, já não pode louvar; o homem
vivo e com saúde é que louvará o Senhor. 29Como é grande a misericórdia do
Senhor, e o seu perdão para com todos os que a Ele se convertem!
Ben Sirá, hoje, trata um tema de importância
vital: o arrependimento e o perdão. Não é fácil arrepender-se nem é facil
perdoar. Mas são atitudes indispensáveis na nossa relação com Deus e com os
outros.
O arrependimento nasce da consciência de que, no nosso modo de pensar e de
agir, há sempre algo de incorrecto. Todos nos sentimentos sujeitos a pecar e
mesmo pecadores. Que fazer? A palavra de Deus é clara: «Converte-te ao Senhor,
deixa os teus pecados» (v. 25). A conversão consiste em deixar de pecar e em
voltar-nos para Ele, em regressar ao seu amor. O pecador é incapaz de louvar o
Senhor, porque a sua vida é semelhante à dos que «jazem nas trevas e sombras da
morte». Um salmista pede a Deus que o livre da morte para que, continuando a
viver, tenha oportunidade de O louvar (Sl 88, 11-13).
Deus oferece o seu perdão ao pecador que se arrepende. Trata-se de um dom da
misericórdia divina, pois o homem pecador a nada tem direito.
Evangelho: Marcos 10, 17-27
Naquele tempo, Jesus ia Jesus pôr-se a
caminho, quando um homem correu para Ele e se ajoelhou, perguntando: «Bom
Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» 18Jesus disse: «Porque me
chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. 19Sabes os mandamentos: Não mates,
não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não
defraudes, honra teu pai e tua mãe.» 20Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido
tudo isso desde a minha juventude.» 21Jesus, fitando nele o olhar, sentiu
afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que
tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e
segue-me.» 22Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante anuviado e
retirou-se pesaroso, pois tinha muitos bens. 23Olhando em volta, Jesus disse
aos discípulos: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!»
24Os discípulos ficaram espantados com as suas palavras. Mas Jesus prosseguiu:
«Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.»
26Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode, então,
salvar-se?» 27Fitando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é
impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível.»
O diálogo entre Jesus e o homem rico é
referido pelos três sinópticos. Mas a versão de Marcos apresenta alguns
pormenores interessantes: o homem ajoelha-se diante de Jesus (v. 17); Jesus
verifica que se trata de um homem religiosamente sincero e, por isso, sente afeição
por ele e fala-lhe (v. 21); tendo ouvido as palavras de Jesus, o homem ficou de
semblante anuviado e retirou-se pesaroso (v. 22).
Jesus está a caminho de Jerusalém. A pergunta deste israelita praticante é
séria. Mas Jesus apresenta-lhe uma proposta mais vasta: despojar-se dos seus
bens e aderir à comunidade dos discípulos. Assim daria prova da sinceridade com
que buscava a vida eterna. Mas o homem, que «tinha muitos bens» (v. 22), não é
capaz de dar essa prova. Jesus aproveita a ocasião para sublinhar que as
riquezas são um grave obstáculo para entrar no reino de Deus, porque impedem de
centrar o coração e os afectos em Deus, de tender para Ele, que é o fim de
todos e cada um dos mandamentos e prescrições. Os discípulos ficam espantados,
pois sabem que Jesus não quer uma comunidade de esfarrapados Mas o Senhor
repete a afirmação servindo-se da riqueza metafórica oriental: «É mais fácil
passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de
Deus» (v. 25). «Quem pode, então, salvar-se?» (v. 26), perguntam os discípulos.
Então, Jesus acrescenta: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus
tudo é possível» (v. 27). É a «teologia da gratuidade», característica do
segundo e evangelho, e em consonância com o pensamento paulino (cf. Rm 11, 6;
Ef 2, 5; 1 Cor 15, 10; etc.). Jesus coloca-se numa posição oposta ao
«automatismo farisaico», que supunha que o cumprimento de certas regras de
pobreza assegurava a vida eterna. Mas nada deve ser absolutizado. Só Deus é
absoluto.
Meditatio
A libertação do pecado e das riquezas é
fundamental para acedermos a valores superiores. Sem essa libertação não
alcançamos à «vida eterna».
Mas não é fácil libertar-nos do pecado, dada a nossa grande fragilidade. Há que
estar conscientes dela, para, cada dia, pedir perdão ao Senhor, implorar a sua
misericórdia, e estar sempre dispostos a recomeçar. "Hoje começo!",
dizia um santo, cada manhã.
O homem moderno tem dificuldade em pedir perdão, porque, devido aos seus
grandes progressos científicos e tecnológicos, se julga auto-suficiente.
Fecha-se em si, faz-se medida de si mesmo, tem por bem o que lhe parece bem, se
procurar qualquer referência fora de si mesmo. Desse modo, bloqueia o caminho
espiritual, ficando impedido de regressar ao Pai.
O evangelho propõe a libertação das riquezas. O homem de que nos fala Marcos
quer encontrar o caminho para a «vida eterna». Mas está enredado nas suas
riquezas. Jesus convida-o a desfazer-se delas, não destruindo-as, mas dando-as
aos pobres, prometendo-lhe «um tesouro no céu». Mas o homem não consegue dar
esse passo. Pensa no que deixa e não na riqueza que é seguir Jesus: deixa tudo
o que tens; «depois, vem e segue-me» (v. 21). Mais importante do que o que
deixamos, é Aquele que seguimos, com quem partilhamos a vida e a missão. A proposta
de Jesus consiste em entrar, desde já, no Reino e de ter, desde já, um tesouro
nos céus. Mais que tudo, é a proposta de uma vida de intimidade com o Senhor:
«vem e segue-me».
As riquezas deste mundo podem tornar-se um obstáculo para escutar Jesus e
segui-lo. O Senhor reconhece que, deixar essas riquezas, não é fácil: «Quão
difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» (v. 23). Mas, Ele
mesmo, nos aponta o remédio para as nossas dificuldades em desapegar-nos dos
bens: «Aos homens é impossível, m
as a Deus não; pois a Deus tudo é possível» (v. 27). Com a graça do Senhor,
tantos cristãos sacrificaram tudo, incluindo a própria vida, para seguir Jesus
e Lhe ser fiel nas perseguições. Tantos outros deixaram tudo para se
consagrarem na vida religiosa e sacerdotal: «a Deus tudo é possível!».
Com a graça de Deus, podemos libertar-nos do pecado e das riquezas, e seguir
Jesus pelo caminho por onde nos quiser chamar.
Cristo, lembram-nos as Constituições (n. 44), «convida-nos à bem-aventurança
dos pobres no abandono filial ao Pai» (cf. Mt 5, 3). Viver esta bem-aventurança
é permitir a Cristo viver a Sua pobreza em nós, com a sua mansidão, aflição,
paz, misericórdia. É deixar «viver... Cristo» em nós (cf. Fl 1, 21), é garantir
a posse do «tesouro escondido», e da «pérola de grande valor», que é o próprio
Cristo das bem-aventuranças, vividas na nossa vida. Por isso, de acordo com as
Constituições (n. 44), «recordaremos o seu insistente convite: "Vai, vende
tudo o que tens, dá-o aos pobres; depois vem e segue-Me» (Mt 19,21)" (n.
44).
Oratio
Senhor, faz-me sentir que, com a tua graça,
não há dificuldades nem obstáculos que não possa ultrapassar, que não há pesos
que não possa suportar, nem pecado de que não possa libertar-me. Contigo, tudo
é possível! A palavra que, pelo teu Anjo, dirigiste a Maria, confirma aquela
que, hoje, me diriges a mim: «A Deus nada é impossível!». Maria, apesar da sua
pobreza e da sua humildade, seria mesmo a Mãe do teu Filho. Abre, Senhor, a
minha mente e o meu coração, para que compreenda que o essencial consiste em escutar
a tua palavra e ser dócil na fé, seguindo confiadamente o caminho que nos
propões. Amen.
Contemplatio
Satanás, vencido pela segunda vez, volta com
uma outra das suas armas mais poderosas, a terceira grande concupiscência, a
cupidez. Transporta Jesus sobre uma montanha, mostra-lhe todos os reinos deste
mundo e a sua glória, e diz-lhe: Se me adorardes, dar-vos-ei tudo isto. - É
como se dissesse: sou o príncipe deste mundo, quereis ser o meu glorioso
vassalo? Vede estas vastas regiões, estas terras opulentas, estas cidades
prósperas, e todo o resto do mundo, da sua glória e das suas riquezas, posso
dar-vos tudo isto. Todas estas coisas me foram entregues, e dou-as a quem
quiser... Jesus contenta-se a responder: «Retira-te, está escrito: Adorarás o
Senhor Deus e só a ele servirás». Como é que esta tentação podia mesmo de leve
tocar o Coração de Jesus, ele que escolheu por preferência os abaixamentos da
incarnação, as humilhações de Belém, as privações do exílio, o trabalho
mercenário de Nazaré? Mas para nós, todas estas tentações são sedutoras, o
dinheiro, o bem-estar, as comodidades da vida, mesmo que devesse sofrer a
justiça e a pureza da alma. Onde está o remédio? Está ainda na meditação da
vida de Jesus, no amor daquele que quis ser pobre para nos resgatar, para
expiar as nossas cobiças: Belém, Nazaré e o Calvário, leiamos, meditemos,
rezemos. Amaremos o desapego, o sacrifício, cada um segundo a nossa vocação e a
nossa graça. As pessoas do mundo podem tentar adquirir uma fortuna moderada
respeitando as leis de Deus. As almas mais generosas irão até à pobreza
voluntária. (Leão Dehon, OSP3, p. 226s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Como é grande a misericórdia do Senhor, e o seu perdão
para com todos os que a Ele se convertem!» (Sir 17, 29).
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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando
Fonseca, scj
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