SEGUNDA – DIA 09 Evangelho - Lc 10,25-37
Este Evangelho começa com duas
perguntas de um mestre da Lei a Jesus, pra pô-lo em dificuldade. São pontos
sobre os quais não havia acordo nas escolas rabínicas. Jesus, na sua sabedoria,
faz com que o próprio mestre da Lei responda as duas.
A primeira é: “Que devo fazer
para receber em herança a vida eterna?” O próprio mestre da Lei responde:
“Amarás o Senhor teu Deus...”
Entretanto, o mestre da Lei não
se dá por vencido e faz outra pergunta: “E quem é o meu próximo?” Também sobre
esta questão eles se dividiam. Para uns, eram os amigos. Para outros, eram os
parentes. Para outros, eram os da mesma nação ou raça...
O mestre da Lei quer saber quais
são os limites do amor. Jesus fala que não tem limites. São todos e todas que
encontrarmos pelos caminhos da vida, como o samaritano, que cuidou de um judeu,
povo rival.
Todo homem e toda mulher que
encontrarmos pela vida, e estão em situação de necessidade, são nossos
próximos.
Dos três viajantes que, no
caminho, se encontraram com o ferido, os dois primeiros são membros ativos e
líderes da religião: o sacerdote, e o levita que tinha uma função parecida com
os nossos líderes cristãos. Com isso, Jesus deixa claro que o que vale para
entrar no céu não são títulos ou cargos importantes na Igreja, mas a prática da
caridade.
Já o amor do samaritano foi
bonito: espontâneo, desinteressado, generoso, terno, serviçal, eficaz e
gratuito.
Após terminar a parábola, Jesus
devolve a segunda pergunta ao seu interlocutor, mas a inverte. Ele não focaliza
o destinatário (quem é o meu próximo?), e sim o seu sujeito: “Qual dos três foi
o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” E o mestre da Lei
respondeu corretamente, usando inclusive uma expressão bíblica: “Foi aquele que
usou de misericórdia para com ele”.
A conclusão de Jesus – “Vai e
faze a mesma coisa” – é dirigida a todos nós. O amor verdadeiro sempre coloca
como centro o outro, não eu. A pergunta correta que devemos nos fazer hoje é:
“Quem espera ajuda de mim?” Vemos que o amor não tem limites, pois ele parte
das necessidades do outro.
O sacerdote e o levita viram o
ferido, mas seguiram adiante pelo outro lado do caminho. Eles se colocaram
propositalmente à distância do necessitado. Corresponde um pouco aos nossos
condomínios fechados, muros altos, vidros fumê nos carros... são estratégias
atuais de seguir em frente pelo outro lado. Já quem ama faz o contrário: quer
estar no meio dos necessitados.
Como vemos, a parábola é atual, e
toca no núcleo da nossa vida cristã, que é o amor ao próximo. É o que Jesus,
como Juiz, vai cobrar de nós no Juízo final: “Vinde, benditos de meu Pai!
Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do
mundo!... Pois eu estava doente, e cuidastes de mim”(Mt 25,34ss).
Ser o próximo do outro é não
apenas estar perto, mas estar perto de coração, aproximar-se afetiva e
efetivamente dele. Quem tem o coração duro, fica distante de quem está próximo
em situação de necessidade. Isso pode acontecer dentro das famílias e até das
comunidades religiosas.
O capitalismo interessa-se pelo
próximo, mas apenas por uma parte dele: o seu bolso. Até no caso de doença, ou
de acidente como foi este da parábola, o capitalista vê como oportunidade de
ganhar dinheiro.
“Este mandamento que hoje te dou
não é difícil demais, nem está fora do teu alcance... Está em teu coração, para
que o possas cumprir” (Dt 30,10-14). De fato esta lei do amor ao próximo já
está escrita em nosso coração desde que nascemos. Se alguém não a cumprir, não
terá desculpas.
Uma maneira frutuosa de meditar
sobre esta parábola é tentar descobrir com qual dos personagens que aparecem
nela nós mais nos parecemos. Claro que o nosso desejo é nos parecer com o
samaritano, e até com Jesus. Mas a resposta verdadeira nós a damos com a nossa
vida concreta do dia a dia. Será que nos parecemos com o dono da pensão:
fazemos o bem quando somos remunerados? Ou somos como o sacerdote e o levita:
vivemos tão preocupados com os nossos afazeres que “nem vemos” quem está em
necessidade ao nosso lado? Ou, pior ainda, somos assaltantes disfarçados do
nosso próximo? A sociedade atual que construímos mostra claro que os “bons
samaritanos” não passam de uns 5%. Claro que cada um de nós se julga entre
esses 5%. No entanto, o resultado está aí.
Certa vez, numa grande região,
faltou chuva e a colheita foi pobre. Entretanto, uma grande fazenda, que tinha
irrigação artificial, teve uma colheita abundante. O administrador encheu os
celeiros, depois disse para o dono da fazenda: “A colheita ruim aumentou o
preço dos cereais. Agora é o tempo propício para vender e ganhar muito
dinheiro”. O fazendeiro respondeu: “Eu penso nos pobres lavradores que não
colheram nada e estão com as suas despensas vazias. Agora é tempo propício para
dar”.
O amor é assim, freqüentemente
ele inverte o pensamento cego dos capitalistas, baseado na sede de lucro.
Existem pessoas que disfarçam o
seu egoísmo, como aquele que disse: “Os homens são maus. Só pensam em si. Só eu
penso em mim!” Quem falou isso não percebe que a primeira pessoa má do mundo é
ele mesmo!
É próprio das mães perceber as
necessidades dos filhos e colocar-se ao lado deles. Vamos pedir à nossa querida
Mãe Maria Santíssima que nos ajude a ser bons samaritanos, socorrendo o nosso
próximo em suas necessidades, e assim “recebendo como herança a vida eterna”
Mãe do amor, rogai por nós.
E quem é o meu próximo?
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