SEXTA FEIRA DA 17ª SEMANA DO TC 02/08/2013
1ª Leitura Levítico 23, 1-4
Salmo 80(81),2ª “Exultai em
Deus, nosso Protetor”
Evangelho Mateus 13, 54-58
Quando Jesus chegou a sua “terrinha” de Nazaré, acompanhado dos
discípulos, deve ter causado um verdadeiro “rebuliço”, pois a fama de suas
pregações e milagres já tinha chegado por ali, e no sábado, como todo piedoso
judeu, foi á celebração da palavra da comunidade, onde qualquer pessoa adulta
poderia partilhar o ensinamento na hora da reflexão, e Jesus, usando desse
direito, começou a pregar á sua gente fazendo a homilia.
O povinho da terra nunca tinha ouvido uma pregação feita com tanta
sabedoria, que superava o ensinamento dos Mestres da Lei e Fariseus, imaginemos
que na comunidade, algum ministro da palavra pregue melhor do que o padre... E
com o estudo teológico acessível aos leigos, isso hoje não seria novidade.
Aquilo que causa muita admiração, também logo acabará despertando inveja e
ciúmes. Basta que olhemos para os nossos trabalhos pastorais, onde o carisma
das pessoas não deveria jamais perturbar o coração de ninguém, ao contrário,
deveria motivar um hino de louvor, por Deus ter dado a alguém um carisma tão
belo, colocado a serviço da comunidade. Mas logo surgem os questionamentos
maldosos: Como é que ele faz isso? Onde aprendeu? Quem o ensinou, de onde é que
vem todo esse saber? Será que o padre o autorizou? (esta última coloquei por
minha conta) E a admiração, contaminada por sentimentos de inveja, vai logo se
transformando em desconfiança aumentando o questionamento: “Quem ele pensa que
é, para falar assim com a gente? Será que ele não se enxerga? E ainda tem gente
que o aplaude...” Os que não gostam muito do padre, logo vão afirmar que o
sujeito faz parte da sua “panelinha”, ou então, irão inventar alguma coisa para
que o padre “corte a asinha” do tal.
As pessoas, quando enxergam algo de extraordinário no carisma de alguém,
começam a fazer do sujeito uma referência importante, acham que a sua oração é
especial, que um toque de sua mão poderosa pode realizar curas prodigiosas, e
em pouco tempo, a propaganda é tanta, que o tal não pode mais sair as ruas que
é logo procurado para resolver os mais complicados problemas, inclusive de
relacionamento entre as pessoas, apaziguar casais brigados, aconselhar jovens,
e assim a sua palavra se torna poderosa e em consequência passa a ter poder
religioso paralelo, e se na comunidade não houver um espaço para ele atuar,
terão de criar um, pois ele precisa ser o centro das atenções.
Jesus não quis formar um grupo só para ele, para bater de frente com os
Doutores da lei, escribas e fariseus, e como ele pertencia a uma das famílias
do local, a ponto de sua mãe e seus irmãos serem de todos conhecidos, começaram
a vê-lo como um vulgar, que nada de extraordinário tinha feito em Nazaré, para
que merecesse toda aquela fama. Na verdade, Jesus não quis assumir o papel de
“Salvador da Pátria”, diferente de muitos cristãos, que se julgam o máximo
naquilo que fazem, e pensam que sem eles, a comunidade estaria perdida. Essa
rejeição á ele, suas obras e ensinamentos, iria se ampliar e lhe traria
conseqüências muito trágicas na cruz do calvário, tudo porque suas palavras
anunciavam um reino novo, que exigia uma total renovação e mudança de vida.
Na sinagoga de Nazaré foi assim, e nas nossas comunidades, não é muito
diferente. Quem prega mudanças de mentalidade e conduta, vai sempre arrumar uma
bela de uma encrenca. Enfim, o Jesus que há dentro de nós, criado pelas nossas
fantasias, ou fruto de nossas ideologias sociais ou políticas, não coincide com
esse Jesus, Profeta de Nazaré, Ungido de Deus. E o pior, é que projetamos tudo
isso nas pessoas que lideram a comunidade, nos cooperadores, nos coordenadores,
nos ministros, nas catequistas, nos padres e diáconos e assim vai. Um dia,
basta um desentendimento mais sério e o nosso Jesus idealizado “vai pro espaço”
com a pastoral e o movimento.
Quanto mais somos realistas em nossa fé, mais nos adequamos á comunidade
aceitando-a como ela é, quanto mais nos iludimos com o Jesus da nossa fantasia,
mais difícil será vivermos em comunidade, aceitando as pessoas do jeito que
elas são. Daí, como em Nazaré, nenhum milagre acontece, por causa dessa fé
infantil e ilusória...
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