09 de Fevereiro - sábado
"A SÓS COM
O SENHOR..." -
Diac. José da Cruz
Sempre ouço uma crítica contundente em nossa Igreja, de que, “no dia em
que Jesus voltar, não vai nos encontrar unidos, mas reunidos”. Há de fato um
excesso de reuniões, as vezes sem pauta e nem assunto determinado, e o que é
pior, sem horário para terminar, onde patina-se em assuntos pessoais e troca-se
muitas “farpas”. Seria necessário refletirmos sobre a qualidade de nossas
reuniões, avaliando-se os resultados. Lembro-me da primeira vez em que fui
convocado para uma reunião na igreja, isso já faz tempo. Senti-me muito
importante, hoje confesso que o entusiasmo já não é tanto justamente porque ás
vezes o clima de uma reunião torna-se tenso.
Pelo jeito os discípulos também gostavam de uma reunião, haviam sido
enviados em missão, e no evangelho de hoje voltam para Jesus, querendo fazer
uma reunião de avaliação, mas ao que parece, o Mestre não era muito chegado em
reunião, porque assim que eles começaram a expor o relatório de tudo o que
tinham feito, Jesus os convidou a irem para um lugar á parte: “Vamos descansar
um pouco em um lugar á parte!” –
Prestemos atenção nesse verbo,
“descansar”, que tem muitos significados: descontrair, fazer algo diferente,
jogar um pouco de conversa fora, dar boas risadas de coisas engraçadas que
aconteceram na missão, rir dos próprios erros e enganos “Imagine Senhor, que eu
por engano bati na porta de um ateu, e quando comecei a falar em teu nome,
pensei que o home ia ter um “saracotico”!, Fico imaginando o grupo todo caindo
na risada com aquele Missionário distraído, e Jesus exclamando bem humorado
“Mas você é uma anta mesmo !”, e tome mais risada e até o sisudo Pedro, quase
se engasga de tanto rir, e me dirão os extremamente conservadores, que isso não
está no evangelho. E nem precisaria...O riso e o bom humor faz parte do ser
humano e Jesus era Homem cem por cento, como bem definiu o Concílio de
Calcedônia em 451. O leitor tire suas conclusões...
Modéstia á parte, nossas reuniões de diáconos da diocese de Sorocaba,
são um pouco assim, as vezes o Dirigente tem que dar um “breque” para acalmar
os faladores e piadistas, e não pensem que os mais idosos não gostam, até eles
fazem rodinhas para contar suas anedotas ou coisas engraçadas do seu
ministério. Faz muito bem a alma, ao coração e à nossa “psique”, esses momentos
de pura alegria por estarmos juntos, pois não se conhece arma mais poderosa do
que o isolamento, para destruir por completo uma vocação, agente de pastoral
que se isola dos demais, catequistas, ministros, padres e diáconos. Começou a
ficar sozinho, está dando “sopa” para a derrota e o fracasso na sua vocação,
daí vêm certas tristezas, angústias e desvios de conduta, por falta de apoio.
Na correria dos trabalhos pastorais e ministérios, é preciso parar de
vez em quando, e aqui há outro sentido belíssimo nessa reflexão, pois,
descansar com o Senhor, significa abastecer-se, na intimidade da oração, no
mistério da Eucaristia, onde Deus é um frágil pedacinho de pão, na palma da
minha mão, ou ainda como Maria, irmã de Marta, sentar-se confortavelmente aos
pés do Senhor, para ouvir a sua palavra. De que me adianta não ter tempo para
mais nada, nem para mim mesmo, nem para os amigos, nem para a família, nem para
comer, por conta de uma agenda lotadíssima de compromissos, se vou aos poucos
me distanciando daquilo que é essencial?
O ativismo exacerbado das atividades pastorais e ministeriais começa a
nos fazer sentir que somos Donos do reino e da igreja colocando-nos no centro
das atenções, quando na verdade apenas trabalhamos para o Mestre Jesus. É ele quem nos envia, quem nos confia a
missão, é portanto ele, que no “intervalo” do jogo, como fazem os técnicos de
futebol, irá nos dar as instruções, fazer as correções necessárias,
mostrando-nos a melhor estratégia para sermos bem sucedidos na missão.
Não tenho nenhuma dúvida, de que sem essa intimidade dos bastidores, com
Nosso Senhor, retirados em um lugar á parte, sem essa descontração com o grupo
todo, que solidifica a amizade e o carinho entre os membros, qualificando as
relações pessoais, corre-se o risco de estressar-se diante do volume de
trabalho a ser feito na comunidade e na evangelização.
Fora da Igreja, a multidão que
temos que servir é muito grande, as pessoas buscam desesperadamente algo que o
cristianismo tem de sobra, que é a esperança, presente na palavra da qual somos
portadores, mas é perigoso esse “corre-corre” nos tornar insensíveis a dor, ao
sofrimento e as necessidades das pessoas, tornando-nos profissionais da
palavra, realizando trabalhos belíssimos e ações arrojadas, mas não movidos por
essa COMPAIXÃO, que Jesus tem pelas pessoas que o procuram, mas apenas levados
por nossos interesses mesquinhos, pela nossa vaidade, prepotência e arrogância,
manifestando de vez em quando o nosso mau humor e azedume naquilo que fazemos.
E Agentes de Pastoral ou
ministros da igreja, com essa característica, longe de atrair as pessoas, como
o Mestre fazia, as vezes é melhor manter a devida distância, porque nunca se
sabe em que hora que o “Rei ou a Rainha da Cocada”, vai dar o seu terrível
“coice”, que magoa, machuca e gera tantas divisões e intrigas na comunidade, perdendo
de vista a compaixão, vivida por Jesus. Compaixão que o levou a interromper o
descanso, para atender os que o procuravam.
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