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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! Pe. Queiroz

24 de Outubro - Quinta - Evangelho - Lc 12,49-53

Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!
Neste Evangelho, Jesus compara a Vida Nova trazida por ele com o fogo. É o fogo que queima o que é “velho” ou errado em nós; é o fogo do Amor, derramado em nossos corações. Esse fogo vai aos poucos incendiando o mundo e fazendo nascer o Reino de Deus. Ele suscita perseguição, divisões e faz até derramar sangue. Mas o incêndio é implacável.
“Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra!” Um metal incandescente, quando é mergulhado na água fria, faz barulho e espirra água para todo lado. É o choque causado pelo encontro do Reino de Deus com o reino da Besta Fera (Apocalipse). Jesus será o primeiro a ser batizado, isto é, mergulhado neste batismo de sangue. A parte dele foi bem feita; resta a nossa.
“Vos pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra?” Jesus usa a palavra “paz” no sentido que o mundo pecador dá, que é uma aparente tranqüilidade em cima da injustiça e baseada no poder. Essa paz ele veio destruir. Como disse um padre uma vez, no final da Missa: “Ide em paz, e que a paz de Cristo nunca vos deixe em paz”. Estão aí os dois sentidos contrários da palavra paz: a do mundo e a de Cristo. Se a nossa convivência com o mundo pecador é só “de paz”, é de se perguntar que paz é essa.
O mundo vive em tensões, em violência, fruto conflito entre os dos dois senhores que querem dominá-lo: Deus e o dinheiro. E nós somos embaixadores de Cristo no nosso ambiente, portadores do seu fogo. Ao ver a nossa lentidão, ele fica inquieto: “como gostaria que já estivesse aceso!”
“Vim trazer a divisão: pai contra filho, mãe contra filha, sofra contra nora...” A afirmação de Jesus é chocante, mas é real, e a vemos a cada dia. Queremos a união dentro de casa, mas não podemos abrir mão de pontos fundamentais da nossa fé, se há outros que pensam o contrário de nós. E essa nossa firmeza muita vezes gera perseguição sobre nós. A prática do Evangelho não nos conduz a um paraíso terreno.
Após o fogo, surgem das cinzas plantas vicejantes. É o que acontece quando nos deixamos incendiar pelo fogo de Deus.
Antes de batizar Jesus, João Batista falou para o povo: “Eu vos batizo com água. Mas virá aquele que é mais forte do que eu... Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3,16). O Espírito Santo nos dá, no batismo, o dom do amor, que é semelhante ao fogo.
O que nos impulsiona não é um mandamento recebido, ou medo de castigo se não o fizermos, ou busca de vantagens nesta ou na outra vida. O cristão age estimulado por algo que está dentro dele ou dela, que é o amor de Deus.
O amor arde no peito, queima e não deixa a pessoa parada. Impulsiona-a fortemente para a ação e para o testemunho. O Profeta Jeremias dizia: “Tenho de gritar, tenho de arriscar. Ai de mim se não o faço! Como escapar de ti? Como calar, se tua voz arde em meu peito?”
Os inimigos de Deus logo percebem e tentam apagar esse fogo, mas não conseguem. Como diz o evangelista S. João 1,5: As trevas tentaram apagar a luz, mas não conseguiram.
Na morte de Jesus, os inimigos dele pensaram: “Agora apagamos”. Mas que nada! O fogo estava aceso no coração dos discípulos, e agora era impossível apagá-lo. Apagam aqui, ele brota ali.
Os antigos perseguidores dos cristãos perceberam que, quanto mais os matavam, mais eles cresciam em número. Este fogo que Jesus trouxe é muito especial. Quando tentam apagá-lo, fica sempre uma brasa, e através dela o fogo reacende ainda mais forte.
Por isso que Jesus falou: “Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).
Agora, uma coisa é certa: Ninguém consegue acender fogo, apenas falando de fogo. Imagine se alguém pega um punhado de palhas bem sequinhas, coloca-as no sol quente e ainda joga gasolina, depois começa a falar sobre fogo... Não adianta nada. Mas se a pessoa acende um fósforo, aí pronto: Vira aquele incêndio.
O mesmo acontece com o fogo do amor que Jesus veio trazer. Precisamos tê-lo, ao menos um pouquinho dentro de nós, a fim de que ele possa passar para os outros, multiplicar-se e incendiar o mundo.
Quando trabalhamos em Comunidade, por exemplo, já levamos conosco o fogo da Igreja. Aí o nosso trabalho se torna implacável. A Comunidade cristã foi a tática criada por Jesus para transformar (incendiar) a terra, construindo o Reino de Deus.
“O zelo por tua casa me devora” (Sl 69,10). Esse zelo é como fogo dentro de nós.
Jesus, quando estava pregado na cruz, disse: “Tenho sede”. Ofereceram-lhe um líquido e ele não quis. Não era sede de água, mas de ver esse fogo ateado no mundo.
Os santos eram inflamados por esse fogo. Queriam, a todo custo, incendiar o mundo, e alguns deram a vida por essa causa. É preciso muita garra para atear esse fogo!
É esse fogo que nos tira de casa no domingo e nos leva para a Santa Missa. É esse fogo que sustenta os casais unidos. O amor de Cristo é maior que o amor humano.
Jesus não tinha nem onde reclinar a cabeça, mas passou a vida fazendo o bem. E antes de subir para o céu ele disse: “Como o Pai me enviou, eu vos envio. Recebei o Espírito Santo”.
O padre, a freira, todos os batizados são incendiados por esse fogo, e querem passá-lo para os outros.
“Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: ‘Este menino será causa de queda e de re-erguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – e a ti, uma espada traspassará tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc 2,34-35). Maria foi vítima desse fogo trazido por seu Filho, que pôs em evidência a mentira e a violência que moviam a sociedade judia do seu tempo, e a nossa de hoje do mesmo jeito. Mãe das Dores, rogai por nós!
Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!

Pe. Queiroz

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