08 de agosto - Sexta - Evangelho - Mt 16,24-28
Que poderá alguém dar em troca de sua vida?
Neste Evangelho, Jesus é claro com aqueles e aquelas que querem
segui-lo: devem renunciar a si mesmos e aceitar a cruz. Pois perder a vida por
causa dele é ganhá-la, e a vida vale mais que o mundo inteiro. “Que poderá
alguém dar a você em troca de sua vida?” Resposta subentendida: nada! Nenhum
valor do mundo supera para nós o valor da vida. E, para salvar a vida futura, é
bom lembrar que Cristo “retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”.
O certo é que Jesus nos pede uma adesão incondicional a ele, até ao
ponto de renunciar a própria vida terrena, a fim de salvarmos a vida futura. É
interessante o jogo de palavras com os dois sentidos da palavra vida: quem
renuncia a vida (corporal) ganha a vida (eterna). Sacrificando a nossa vida
terrena, nós nos incorporamos a Cristo, em sua morte e ressurreição e
participamos da glória com ele.
Há um claro contraste entre esta mensagem e a mentalidade do mundo
atual, que preconiza o gozo da vida ao máximo, sem limitações à liberdade nem
restrições ao capricho.
Entretanto, Jesus não diz que é preciso renunciar ou desprezar esta
vida para ganhar a outra. Ele não coloca a vida atual e a futura como opostas.
Apenas diz que esta vida está subordinada à outra. Colocar este vida em
primeiro lugar é deixar à margem o Evangelho e o amor a Deus e ao próximo.
Devido ao pecado original, cujas raízes subsistem em nós,
precisamos de uma constante ascese, isto é, de um treino e domínio do nosso
corpo, inclinado ao prazer como fim último.
Deus não quis o sofrimento do seu Filho e igualmente não se deleita
com o nosso sofrer. Ele não quer a dor e a morte, e sim a vida e a felicidade
de seus filhos e filhas.
Jesus nunca sugeriu ou ordenou algo que ele não cumprisse primeiro.
Ele nos precedeu com o seu exemplo, praticando tudo o que pede de nós. O que
ele queria era instalar na terra o Reino de Deus, que é um projeto de verdade,
de justiça, santidade, amor e paz. E nessa implantação ele só usou os meios que
estão dentro dos valores acima.
Jesus adiantou-se na entrega da vida para ganhá-la. Tudo o que ele
nos pede, ele foi à frente, com o seu sim incondicional à vontade do Pai.
Assim, Cristo é o modelo do seguir, para todos os que querem ser seus
discípulos e discípulas.
Nenhum fundador de religião apresenta, logo de início, as
dificuldades que os discípulos encontrarão, como fez Jesus. E ele foi mais
longe: não quer pessoas que fiquem no meio do caminho. Para ele, é ou tudo ou
nada. Conclusão: para nós não há outro jeito senão enfrentar as cruzes que
aparecem em nosso caminho de cristãos. E Jesus promete a vida para quem o
seguir, e o faz com competência, pois Deus Pai colocou tudo em suas mãos.
Fica claro, portanto: seguir a Jesus é a coisa melhor do mundo. Mas
não é sopa. Os fracos e indecisos vão espirrando de lado, apresentando para
isso as mais diversas desculpas.
Certa vez, dois homens estavam viajando de trem, numa cabine para
duas pessoas. Um era forte e o outro era franzino. Eles não se conheciam. Como
a viagem era longa, começaram a conversar. A certa altura, o mais franzino
começou a falar mal da Igreja. Criticava os padres, as irmãs, os leigos com
participação mais ativa, tudo. Lá pelas tantas, o outro, que era um líder de
Comunidade, disse a ele:
“Olhe, meu amigo, pare de falar mal da minha Igreja, porque, se não
fosse a minha fé, eu podia agarrar você agora, tomar toda essa fortuna que você
tem aí, depois amordaçá-lo, amarrá-lo aqui e descer tranqüilo na próxima
estação, que ninguém descobriria.”
O franzino falou: “Eu não tenho dinheiro”. “Tem sim”, disse o
outro, “eu vi quando você foi ao banco e sacou o dinheiro. Só não faço isso por
causa da minha fé. Por isso quero que você a respeite”. O outro não teve outra
saída a não ser pedir desculpas e mudar de assunto.
Ser discípulo de Jesus inclui não praticar crimes, como o roubo, e
respeitar a vida do próximo, pois a vida futura é mais importante que esta. O
Profeta Simeão disse para Maria Santíssima: “Uma espada de dor transpassará o
teu coração”. Ela não procurou essa espada, mas também não fugiu dela. Subiu o
Calvário para apoiar o Filho que morria injustamente. Que ela nos ajude a
assumir com amor as cruzes que nos aparecerem, em decorrência do nosso
seguimento de Cristo.
Que poderá alguém dar em troca de sua vida?
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