Senhor, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.
Este Evangelho narra a belíssima cena de Pedro caminhando sobre as
águas, ao encontro de Jesus. E narra também a chegada deles a Genesaré, onde os
doentes vinham e apenas tocavam na barra da veste de Jesus e ficavam curados.
O texto começa descrevendo o que aconteceu logo após a multiplicação dos
pães: “Depois que a multidão comera até saciar-se, Jesus mandou que os
discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do
mar”. Nós precisamos atravessar o mar da vida e ir para o outro lado, isto é,
para uma mudança de nós mesmos e da sociedade ao nosso redor, rumo ao Reino de
Deus.
“Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós.”
Precisamos rezar, conversar com Deus, sozinhos, em família e em Comunidade.
Para isso, precisamos “despedir as multidões”, isto é, fazer uma ruptura com o
nosso ativismo, interrompendo os trabalhos, os quais não acabam nunca.
“A barca, já longe da praia, era agitada pelas ondas, pois o vento era
contrário.” O vento forte e o mar agitado simbolizam as dificuldades que o
mundo e a vida nos oferecem. A noite escura são as nossas limitações pessoais.
A nossa vida na terra é semelhante aos discípulos na barca, atravessando o mar
revolto.
Muitos querem ficar na terra firme da praia. Estes estão mais seguros.
Entretanto, eles não atravessam o mar, rumo a uma vida nova e a um mundo novo,
ao Reino de Deus. É difícil a travessia, porque o vento muitas vezes é
contrário e surgem tempestades, mas Jesus tem poder sobre a natureza, e nós
também, pela fé, podemos ter. Deus está acima das turbulências da vida. Ele é o
Senhor de tudo.
“Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre
o mar.” Deus está acima das turbulências da vida, e Ele não nos abandona; a
noite passa e o dia aparece.
“Os discípulos disseram: É um fantasma. E gritaram de medo.” Deus está
sempre junto conosco, mas a falta de discernimento nos leva a confundi-lo com
fantasmas. Quanta gente se afunda, sem recorrer a Deus que está ao seu lado!
“Jesus, porém, logo lhes disse: Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” A
frase é dirigida também a nós, discípulos e discípulas de hoje.
“Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a
Jesus”. Todos nós, neste mundo, estamos na mesma situação de Pedro. No dia do
batismo, pulamos na água, ao encontro de Cristo. É uma caminhada arriscada, que
exige de nós desinstalação. O nosso testemunho começa a mexer na sociedade, e
vêm as perseguições (vento, ondas). Como Pedro, sentimo-nos sozinhos, longe de
Jesus e da barca, e sem corrimão. Perdemos os apoios humanos – dinheiro,
autoridade, amigos, saúde... – e ficamos confusos. Nesta hora, se nos falta a
fé, começamos a afundar, ou apelamos para falsos corrimões: dinheiro, bebida,
vícios.... Quantos se desviam da caminhada cristã! O povo hebreu construiu o
bezerro de ouro no deserto por esse motivo.
É a hora da oração. “Senhor, salva-me! Jesus logo estendeu a mão,
segurou Pedro, e lhe disse: homem fraco na fé, por que duvidaste?” O nosso
corrimão na caminhada da vida é a oração, porque, se pedimos, Deus vem com
certeza, e com ele tudo se torna fácil.
Jesus deixou todos os recursos à nossa disposição, a fim de nos
lançarmos com coragem no mar. Não podemos ficar eternamente na praia, “vendo a
banda passar”, pois o fermento foi feito para ser misturado na massa, o sal
para ser misturado na comida e a luz para ser colocada num lugar alto, onde não
existe luz.
Humanamente é arriscado, mas a nossa segurança está em Deus que tudo
pode. Na Bíblia, ter fé é sinônimo de ter coragem; e medo é sinônimo de falta
de fé.
“Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco
prostraram-se diante dele, dizendo: Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”
Valeu a lição. É vendo a presença de Deus em nossa vida que vamos crescendo na
fé. O mesmo Pedro que cometeu tantas fraquezas na fé, morreu mártir por Cristo!
Aqueles cristãos e aquelas cristãs que dedicam umas horas do fim de
semana ao trabalho na Comunidade, por exemplo, como vicentinos, legião de
Maria, apostolado da oração, pastoral da criança, pastoral da juventude, equipe
de liturgia..., estão se atirando no mar.
Também aqueles e aquelas que se envolvem na política, porque “a política
é a ferramenta mais poderosa de transformação social” (Papa Paulo VI), e nós
queremos uma sociedade transformada, renovada. Este mar, o da política, é
revolto, mas Cristo nos chama para entrar nele também. Ficar na praia é que não
podemos.
O que faz a diferença entre o cristão medroso e o cristão que se atira
no mar é o tamanho da fé que ele ou ela tem.
Na nossa caminhada de cristãos, Deus vai aos poucos tirando os nossos
corrimões, para que confiemos mais nele e peçamos a sua ajuda. Somos chamados a
seguir Jesus, aplicando a fé na realidade e colocando-nos do lado dos
necessitados. Se fizermos assim, e começarmos a afundar, Cristo com certeza
atenderá a nossa oração e estenderá a mão.
Maria Santíssima enfrentou com coragem a travessia do mar de sua
vida, baseada na fé e no amor. Peçamos a eles que nos ajudem.
Senhor, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.
Bom dia, Padre Queiroz
ResponderExcluirBelas reflexões como essa, nos ajudam a crescer na Fé.