SEGUNDA - 30 de Dezembro de 2013 -
Evangelho - Lc 2,36-40
Ana pôs-se a louvar a Deus e a falar do
menino.
Este Evangelho nos apresenta uma mulher
muito idosa, a profetiza Ana. Ela soube esperar a hora de Deus, e viu
finalmente cumprida a sua esperança, e premiado o seu constante serviço ao
Senhor através de jejuns e orações.
Ana e Simeão têm muitas coisas em comum.
Ambos eram leigos, isto é, não pertenciam ao corpo sacerdotal, mas ao grupo dos
simples, a quem o Pai revela os mistérios de Cristo e do Reino de Deus. E ambos
sabiam ler, através dos sinais, a presença de Deus na humanidade do seu Filho,
Cristo Jesus.
Por isso, o descobrem e o comunicam aos
outros, do mesmo modo que os pastores de Belém ou os astrólogos do Oriente,
enquanto o mistério continua oculto para os sábios, os vaidosos e os
auto-suficientes.
Lendo o Antigo Testamento, nós
observamos que aparecem muitas profetizas: Miriam, Débora, Judite, Ester,
Hulda... Isso, apesar da cultura machista da época. Essas profetizas são
destacadas na Bíblia como guardiãs da Aliança entre Deus e o povo.
Num momento de virada da História, lá
estava Ana no Templo, acolhendo a novidade que é o Filho de Deus, e
anunciando-o a todos que encontrava. São duas fragilidades que se encontram: O
recém nascido e a mulher idosa que o anuncia. Deus gosta de usar a fraqueza
humana como seu instrumento.
“Derramarei o meu Espírito sobre toda
carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão. Sim, meus servos e minhas
servas anunciarão o meu nome” (Jl 3,1).
“O Reino de Deus é como o fermento que
uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique
fermentado” (Mt 13,33). Como o fermento que atua na massa, assim é a mulher
atuando na sociedade e transformando-a em Reino de Deus. As mulheres atuam nas
Comunidades cristãs com uma força incrível, especialmente na família, onde o
seu trabalho é lento mas irresistível como o fermento.
No ambiente profundo do Natal, adquire
atualidade a família, com os seus valores básicos e permanentes, como célula
que é da sociedade e da Igreja.
A família é uma instituição sempre
passível de aperfeiçoamento, e em constante evolução. Ela é insubstituível,
porque é o melhor e mais adequado clima para o crescimento e a maturidade
pessoal de todos os seus membros, através do amor e da doação.
Este é o caminho evangélico de
realização do ser humano, como pessoa e como cristão. O amor é, e será sempre,
a origem e alma da família, como reflexo do amor de Cristo para com o seu povo,
a Igreja. É também um reflexo da força criadora de Deus, visível na paternidade
e na maternidade humana.
E o evangelista Lucas termina este
Evangelho com um resumo da infância e juventude de Jesus: “O menino crescia e
tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele”. A
Encarnação segue a sua marcha normal. Jesus é uma criança como as outras. Não é
nem um super-homem nem um herói mitológico. Nasceu e cresceu no seio de uma
família, como qualquer um de nós.
A frase de Lucas resume os três
elementos básicos da educação de uma criança: proporcionar-lhe o crescimento na
saúde, na sabedoria e na graça de Deus. Dar condições para que a criança cresça
no corpo, isto é, que ela receba o que é melhor para a sua saúde. A criança não
sabe o que é melhor para a sua saúde, por exemplo, o que e quando comer, mas os
pais sabem.
Dar também condições para que a criança
cresça na sabedoria, que inclui o estudo, a ciência, mas vai além. Ter
sabedoria é saber vivenciar aquilo que se vai aprendendo de bom para a vida.
E dar condições para que a criança cresça
na fé e na graça de Deus, através do catecismo, ensinado em casa e na sala de
catequese. Dentro de casa a fé é transmitida principalmente pelo bom exemplo.
S. Paulo resume o modo como os pais
devem educar os filhos: “Proclama a Palavra, insiste oportuna ou
inoportunamente, convence, repreende, exorta, com toda a paciência e com a
doutrina (2Tm 4,2s). Em outras palavras, S. Paulo diz: “Insiste, repreende,
ensina, transmite a doutrina, com toda paciência e firmeza”. Essas são as
virtudes chaves de uma boa educação.
- Paciência porque cada criança, cada
jovem tem o seu momento próprio de conversão, que é graça de Deus, portanto
escapa ao nosso controle. E essa mudança de comportamento é lenta., não
acontece de uma hora para outra.
- Firmeza porque os pais não podem
mostrar insegurança, voltando atrás ou, pior ainda, indo na onda dos filhos. A
turminha é malandra e muitas vezes querem educar os pais. Querem corrigir e
ditar para os pais o modo de educar.
Seguindo essas orientações de S. Paulo,
haverá uma educação sem rupturas nem traumas, mas firme como a rocha.
Havia, certa vez, na Idade Média, um
castelo inexpugnável situado no alto de uma rocha. Esse castelo foi sitiado por
um exército. Após várias semanas, comando do exército esperava a qualquer
momento a rendição, pois acreditava que os alimentos do castelo tinham se
esgotado. No acampamento do exército, os soldados estavam angustiados e
irrequietos, pois o cerco parecia não ter mais fim, e questionavam se valia a
pena insistir.
No castelo, só restava um boi e um saco
de farinha para alimentar centenas de pessoas que ainda resistiam bravamente ao
cerco. O comandante do castelo decide tomar uma medida desesperada, que para
seus homens parecia pura insensatez: matou o boi, encheu-lhe a cavidade
abdominal com a farinha e ordenou que jogassem tudo pelo rochedo abaixo sobre o
acampamento inimigo.
O comandante do exército tomou aquilo
como uma mensagem e, acreditando que o castelo ainda estava bem abastecido,
levantou o cerco e retirou-se.
Assim como a profetiza Ana, as pessoas
idosas precisam ser corajosas e demonstrar a sua força, como fez o comandante
do castelo. Pois, junto com Deus, os fracos são fortíssimos e invencíveis.
Mesmo que sejamos de idade muito
avançada, como a profetiza Ana, não deixemos de exercer a nossa vocação
profética. É o que pedimos aos dois profetas, Simeão e Ana, e à Rainha dos
Profetas, Maria Santíssima.
Ana pôs-se a louvar a Deus e a falar do
menino.
Padre Queiroz
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