QUINTA
FEIRA DA 23ª SEMANA DO TC 12/09/2013
1ª
Leitura Colossenses 3, 12-17
Salmo 150,6 “Tudo o que respira, louve o Senhor”
Evangelho
Lucas 6, 27-38
Este é um evangelho daqueles bem desconcertantes, porque em tempo em que
se cometem crimes horrendos que chocam a opinião pública, praticados por
bandidos cruéis, há no coração do povo um sentimento de vingança. Um pouco pela
própria natureza humana, que diante de uma agressão pensa na vingança como
forma de punir o agressor, mas este sentimento é também calcado no coração das
pessoas pela mídia sensacionalista que mistura indignação, ódio e vingança,
enfiando tudo goela abaixo do povo que a toma como uma verdade absoluta sendo
que a proposta é sempre a mesma: eliminar a árvore, porém sem mexer em sua
raiz, eliminar o efeito sem se preocupar com a causa.
“Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os
que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam” Para muitos cristãos este
evangelho é difícil de ser praticado e então o empurram para baixo do tapete,
como fazemos com aquela “sujeirinha” inoportuna, quando não queremos fazer uma
faxina pra valer em nossa casa. Primeiramente é bom que se esclareça algo muito
importante: Jesus não fez esse ensinamento a toda multidão, mas apenas aos que
o ouviam, isto é, aos seus discípulos, os mesmos para os quais já havia dito no
sermão da planície, a frase revolucionária “Feliz os pobres porque deles é o
Reino de Deus”.
Mas afinal de contas quem é o nosso inimigo? É todo que nos faz ou nos
deseja algum tipo de mal, de pequenas ou de grandes proporções. A inimizade
existe em todo lugar, escola, trabalho, família, vizinhança, esporte, e até em
lugar onde ela nunca deveria existir: na comunidade, entre ministros, agentes
pastorais, dirigentes, coordenadores e obreiros. Diante desse evangelho,
imediatamente pensamos nas situações críticas da sociedade onde assistimos a
confronto de classes, chacinas, extermínios, atos de violência explícita no
confronto entre nações. Então um sentimento de impotência nos domina e achamos
que nada há para se fazer a não ser rezar.
Mas a coisa mais importante que devemos fazer, de maneira bem prática, é
olharmos mais perto, para o nosso quotidiano onde nos relacionamos com as
pessoas. Que sentimentos alimentamos,
com nossos gestos, palavras e atitudes? A quem devemos ouvir e dar razão: ao
mundo que propõe a vingança e o extermínio de quem pratica o mal, ou ao
evangelho de Cristo, que nos ensina o amor, o perdão e a misericórdia?
Jesus não condena uma pessoa que quer justiça e vingança contra alguém
que lhe fez mal. Esta é uma reação humana, perfeitamente compreensível e
natural, de acordo até com um ensinamento bíblico do Antigo Testamento, de que
se deve fazer o bem a quem nos faz o bem, e o mal a quem nos deseja o mal, é a
lei do talião, olho por olho e dente por dente, fato que acontece com o melhor
e mais santo dos cristãos .Somos homens desta terra, descendentes de Adão e
irmãos de Caim, que cometeu o primeiro crime da história ao matar seu próprio
irmão Abel por ciúmes e inveja.
Porém, lembra-nos o apóstolo Paulo na segunda leitura, o Espírito
vivificante nos transformou em Homens celestiais a partir da graça que Jesus
nos concedeu, dom imerecido que nos santifica e nos configura ao próprio
Cristo, portanto capacitados para viver na relação com o próximo, aquele único
e verdadeiro amor com o qual Deus nos ama em seu Filho Jesus.
A proposta desse jeito novo de se relacionar é apenas para os discípulos
do Senhor que hoje são todos os que creem e são batizados, vivendo em
comunidade com os irmãos e irmãs. É aí que devemos trabalhar no sentido de
superarmos na graça de Deus, qualquer sentimento de ódio, mágoa ou vingança,
contra alguém que nos fez o mal.
Da comunidade vamos para a família e desta para o nosso ambiente de
trabalho, é isso que Jesus pede de nós nesse evangelho, pois somente nos
exercitando no amor, na misericórdia e no perdão, com as pessoas com quem
convivemos, é que teremos a coragem de anunciar o evangelho falando o contrário
do que o mundo nos ensina.
Somente assim estaremos sendo Filhos do Altíssimo, imagem e semelhança
do Pai de Misericórdia que em Jesus nos ama, jamais nos tratando segundo as
nossas faltas. Então o primeiro passo nesse processo de conversão, é que reconhecermos
que somos imperfeitos, ainda uma imagem muito distorcida de Deus que é todo
perfeição e santidade. Dado este primeiro passo, a graça transbordante do
Senhor, em um processo dinâmico de conversão, nos configurará a Cristo, imagem
perfeita do Amor de Deus vivido com os irmãos.
Diácono José da Cruz
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP
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