02 de Outubro - Quarta-Evangelho
- Mt 18,1-5.10
Para entender melhor a mensagem de Jesus, é interessante criar mentalmente o contexto no qual aconteceu esta cena...
Certamente os discípulos estavam com Jesus na presença de uma pequena multidão. Imagino Jesus observando o movimento das pessoas, algumas crianças acompanhando os pais, algumas sentadas, outras inquietas, e todos esperando o momento em que Jesus começasse a falar... Jesus então deve ter percebido que alguns discípulos já vinham, há algum tempo, conversando entre si sobre como deveria ser o Reino dos Céus. Jesus já havia contado várias parábolas sobre o Reino dos Céus, e já havia incutido neles uma enorme vontade de entrar neste lugar maravilhoso, onde eles poderiam ficar face a face com Deus. Agora, o lado humano desses discípulos queria saber qual deles teria maior lugar de destaque no Reino, qual deles seria o maior de todos. E antes de fazer a pergunta a Jesus, eles mesmos devem ter discutido bastante sobre isso, e talvez chegaram até a brigar, antes de chegarem ao ponto de perguntar ao mestre. Devemos observar que a pergunta que eles fazem a Jesus é: “Quem é o maior no Reino dos Céus?” O evangelista Mateus não chega nem a dizer qual deles fez a pergunta, e além disso tem o cuidado de “melhorar” a pergunta, pois em outras passagens da Bíblia, a pergunta é até mais direta: “Quem de nós sentará ao teu lado no Reino?” O que se pode deduzir disso é que Jesus falava tanto e tão bem do Reino dos Céus, que os discípulos fariam qualquer coisa para entrar nele, e com o maior destaque possível!!! A imagem de Reino que eles tinham é a de um reino da terra, então era nessa linguagem que Jesus poderia explicar. Com toda a hierarquia de um reino terreno.
Quando o discípulo fez essa pergunta, Jesus deve ter levado em consideração tudo isso, deve ter percebido os olhares ao seu redor, e visto que todos esperavam ansiosos por uma resposta que exaltasse o mais forte, ou o mais inteligente, ou o mais religioso, ou alguma virtude que eles pudessem discutir quem seria o mais “virtuoso” ou “qualificado” entre eles. O raciocínio rápido e inteligente de Jesus tinha que encontrar uma saída que fizesse com que eles parassem de brigar para ver quem era o maior entre eles, e foi uma saída de mestre a que Ele encontrou. Chamou uma criança e disse exatamente o oposto do que seus discípulos estavam preparados para ouvir: “Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus.” Com isso, Jesus acabou com a discussão dos discípulos para saber quem seria o maior entre eles, pois agora eles deveriam buscar serem pequeninos como uma criança. E Jesus ainda arrematou: “E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe.” Jesus sabia que seus discípulos o tinham como Filho de Deus e, portanto, como presença garantida no Reino. Então agora eles teriam que buscar as qualidades de uma criança, e tratar as crianças como se fossem o próprio Jesus. Mas poderíamos interpretar “criança” com outra conotação: as pessoas simples e humildes, de pouca formação religiosa e acadêmica, os excluídos e marginalizados da sociedade.
Jesus deu mais uma ordem: “Não desprezeis NENHUM desses pequeninos...” E depois uma “ameaça”: “...pois eu vos digo que os seus anjos nos céus vêem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus.” Em outras palavras, se eles desprezassem qualquer pequenino, Deus iria saber na mesma hora, e não iria gostar nada disso. Portanto, o lugar deles no Reino dos Céus estaria ameaçado!!!
O Evangelho conclui falando ainda que Deus se agrada mais de um pequenino que é resgatado, do que de 99 que não precisaram ser resgatados. Eis uma boa pista para quem quer agradar a Deus e garantir um bom lugar no Reino dos Céus.
Jesus dividiu o seu discurso em três partes bem claras. Primeiramente Ele tira a vontade dos discípulos serem grandes (o Reino é dos pequeninos). Depois Ele ameaça a quem fizer qualquer mal a um pequenino (Deus não vai gostar disso). E, por fim, fala como Deus se agrada de reaver um pequenino que estava perdido (faça isso que Deus vai gostar). Isso leva os discípulos de uma posição de superiores, para uma posição de igualdade aos pequeninos. Ao invés de valorizarem o poder, a vaidade, são levados a se colocarem à disposição. E Jesus faz tudo isso porque percebe a grande vontade deles em participar do Reino dos Céus!
Portanto, a lição prática que podemos levar para a nossa vida hoje é: 1) fazer-se pequenino; 2) não desprezar nenhum pequenino; 3) melhor do que se manter num lugar seguro, tomando cuidado para não se perder, seria sair em busca dos pequeninos que se perderam, e resgatá-los.
Jailson Ferreira
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