O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles
tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.
Este Evangelho narra que, em meio à euforia do povo pelo que
Jesus fazia, ele disse aos discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas
mãos dos homens”.
Jesus se auto-aplica o título messiânico de “Filho do Homem”
(Dn 7,13), que ele relaciona com a figura do servo sofredor do Senhor. “Mas os
discípulos não compreenderam e tinham medo de perguntar.” Tal era a distância
entre essa afirmação e a expectativa dos discípulos em relação ao Messias, que
nem entendiam essa linguagem de união entre Messias e sofrimento. Jesus fez
tudo para evitar o “escândalo de cruz”, mas não houve jeito. Só em Pentecostes
os discípulos entenderam.
Entretanto, o fato de ter medo mostra que os discípulos
ficavam inseguros ou “perdidos” quando Jesus falava isso. É a atitude de quem
chega perto do mistério, mas não consegue entrar nele.
Por incrível que pareça, esse choque de mentalidades entre o
pensamento do mundo e o de Cristo continua até hoje. Quantos ensinamentos de
Jesus são totalmente ignorados pelo mundo pecador. As pessoas conhecem, mas
fazem de conta que não conhecem. Isso em relação ao casamento, à partilha dos
bens, ao modo de se comportar diante de uma agressão etc. O fato de surgirem
seitas em toda parte, criando um “evangelho” diferente do de Jesus, é outra
atitude paradoxal do homem moderno. Todas as seitas são diferentes uma da outra
e todas se entendem como a única verdade de Cristo! Todas têm o seu fundador e
data de fundação, e pensam que foram fundadas por Jesus Cristo!
O discípulo de Jesus não busca aplausos. Pelo contrário,
fica preocupado quando o mundo pecador o elogia muito, pois a proposta cristã
entra em choque com o mundo.
Quando nós não entendermos algumas palavras de Jesus, vamos
nos lembrar que ele é o próprio Deus encarnado, portanto é fidedigno. Podemos
obedecer os seus ensinamentos “como se víssemos o invisível”.
O melhor é não ter medo de fazer perguntas, quando não
entendemos alguma coisa da nossa fé. É trocando conhecimentos e experiências
que perseveramos e cresçamos na vida cristã.
“Caminheiro, você sabe, não existe caminho. Passo a passo,
pouco a pouco, o caminho se faz.” Ser discípulo de Jesus é caminhar com ele. É
no caminho que se aprende, inclusive nas quedas. É pena que, na hora da cruz,
muitos desistem, e outros procuram atalhos, com o objetivo de evitar a cruz!
Não é aqui na terra que recebemos retorno pelo bem que
fazemos. O discípulo de Jesus continua pobre, aflito e com fome e sede de
justiça. Mas ele ou ela confia em Deus e vai em frente, vencendo todos os
obstáculos.
No batismo, nós nos tornamos discípulos e discípulas e
missionários de Jesus Cristo. Ali começamos a nossa caminhada, procurando
imitar Jesus em tudo. “Quero conhecer o Cristo e tornar-me semelhante a ele em
tudo, até no sofrimento” (Fl 3,10-11). “Já não sou mais eu que vivo, é Cristo
que vive em mim” (Gl 2,20).
Assim como Jesus vivia em Comunidade com os Apóstolos, nós
queremos viver sempre em Comunidade. A vida em Comunidade é, muitas vezes, uma
cruz, mas nem por isso vamos abandoná-la. “Todos os que abraçavam a fé viviam
unidos e possuíam tudo em comum” (At 2,44). A vida em Comunidade é, ao mesmo
tempo, difícil e bela. Ela é uma cruz, mas uma doce cruz.
O que Jesus mais detesta é o discípulo convencido, que pensa
já ter chegado à perfeição cristã. Essas pessoas são as primeiras a ver o cisco
no olho do irmão, sem reparar na trave do próprio olho.
“Tenho nojo, detesto as vossas celebrações. Quem pediu para
pisardes nos meus átrios? Mãos sujas de sangue!... No dia do juízo, Sodoma e
Gomorra terão sorte melhor que vós!” (Is 1,10-17).
A melhor atitude do discípulo é jogar-se nas mãos de Deus
como uma criança se joga nos braços da mãe. Cuidar apenas do momento presente,
deixando para Deus o futuro e o passado. Ele nos protege em tudo, inclusive nos
indicando o que devemos falar numa hora difícil. Não perderemos um só fio de
cabelo.
Certa vez, um rapaz universitário, filho único, estava em
sua cidade, de férias. Um dia, ele estava na praça, viu uma briga e foi
apartar. Com isso, infelizmente foi atingido por uma faca e morreu. O assassino
foi preso em flagrante. No julgamento, o moço pegou vários anos de prisão.
Mas o pai da vítima, que estava presente, pediu a palavra e
disse: “Senhoras e senhores, nós, eu e minha esposa que está aqui ao meu lado,
tínhamos um filho só, o qual amávamos muito. Sua morte deixou em nossa casa uma
grande lacuna. Nós dois gostaríamos de adotar alguém que preenchesse esse vazio
e suavizasse a nossa dor. Resolvemos adotar como filho o próprio rapaz que
acaba de ser julgado. Que ele possa pagar a sua pena morando em nossa casa. É o
que pedimos”.
Todos os presentes ficaram emocionados diante de tal
atitude. Os jurados, unanimemente, e o juiz, acolheram o pedido, e o casal
acolheu, como filho, o assassino do seu próprio filho!
Dá até para imaginar o que esses pais pensaram: “Esse rapaz
fez isso num momento de bobeira. No fundo, ele é bom. Quem sabe agora, morando
conosco, ele se emenda”. Acontece que esse tipo de raciocínio vale para
qualquer assassino, qualquer criminoso. Para alguns, a gente vai dizer: “Sim,
foi um crime premeditado. Mas olhe o passado dele. No fundo, ele é bom. O que
falta é ser amado, para que aprenda a amar”. A misericórdia caminha por aí. Ela
não é ingênua, é real e verdadeira.
A atitude desse casal foi parecida com a de Jesus. Vivendo
no meio dessa sociedade pecadora, os três, Jesus e o casal, tiveram um amor
universal. Não excluíram ninguém do seu amor, nem mesmo pessoas que lhes
fizeram um grande mal. O nosso perdão deve ser completo e de coração.
Na vida pública de Jesus, quando ele era aclamado, Maria
certamente estava ali por perto, mas não aparecia. Quando Jesus foi humilhado
na cruz, ela esta estava em destaque, de pé, sofrendo junto com ele as
humilhações, mas sem odiar ninguém. Virgem Mãe das Dores, rogai por nós!
O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles
tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.
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