07/09/2016
Bem-aventurados vós, pobres.
Mas, ai de vós, ricos.
Neste Evangelho, Jesus proclama
as bem-aventuranças, na versão de Lucas. Primeiro ele “levantando os olhos para
os seus discípulos”. Sinal que as bem-aventuranças acontecem especialmente com
os discípulos.
As bem-aventuranças são
Evangelho, alegre notícia dirigida aos pobres de Deus. Elas vêm confirmar a
transformação social anunciada no magnificat.
De fato, os pobres são os
preferidos de Deus em toda a revelação bíblica, e são os primeiros
destinatários da Boa Nova trazida por Jesus (Cf Lc 4,18-19).
Mt 5,1-12 traz oito
bem-aventuranças. Lucas traz apenas quatro, mas acrescenta quatro ameaças: “Ai
de vós...” Essas ameaças esclarecem o sentido das bem-aventuranças, tanto de
Mateus como de Lucas. Porque muitos, ao explicar esta passagem bíblica, dizem
que a palavra “pobre”, para Jesus, significa “desapegado”; e “rico” significa
“ganancioso”. Na prática, isso é torcer a Bíblia para que ela não me questione.
Pobre aqui é pobre mesmo, e rico e rico mesmo.
A felicidade messiânica dos
pobres, dos famintos, dos que choram e dos perseguidos por causa da fé cristã
comprometida, contrapõe-se à situação perigosa dos ricos, dos que têm fartura,
dos que riem e dos que são aplaudidos por todos.
As Bem-aventuranças são um
caminho de felicidade diametralmente oposto ao apresentado pelo mundo pecador.
Os cristãos são felizes exatamente naquelas situações que, segundo o mundo,
trazem a infelicidade. Veja o contraste: para o cristão, felizes os pobres;
para o mundo, felizes os ricos. Para o cristão, felizes os que agora choram; para
o mundo, felizes os que agora riem... Por aí vemos que dois milênios se
passaram e a humanidade ainda não entendeu nem vive o Evangelho de Jesus.
As Bem-aventuranças estão
baseadas em duas grandes verdades: 1) A vida cristã autêntica, devido à
oposição do mundo pecador, leva à pobreza, à aflição etc. 2) Deus assiste os
seus filhos e filhas queridos, a ponto de inverter a situação, transformando em
felicidade o que seria infelicidade, em alegria o que seria tristeza. Portanto,
a felicidade dos cristãos não está nesses tropeços (pobreza, perseguição...),
mas na intervenção de Deus em favor dos seus filhos queridos.
“Vede que grande presente de
amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos. Se o mundo
não nos conhece, é porque não conheceu o Pai” (1Jo 3,1-3).
(Irmãos), os que tiram proveito
deste mundo, (vivam) como se não aproveitassem. Pois a figura deste mundo
passa” (1Cor 7,31).
Ao contrário dos dez
mandamentos, as bem-aventuranças não são leis, nem mandamentos, nem sequer
conselhos. São simplesmente a constatação e a descrição de um fato que acontece
todos os dias em nossas Comunidades e em nossas famílias. A vida cristã no meio
do mundo pecador gera tristezas, que Deus, em seu poder, transforma em
alegrias.
Jesus não está também dizendo
que ser pobre e ser odiado é bom. Nem que esses tropeços da nossa vida são
valores. Também não quis dizer que a felicidade está em ser pobre, ser
insultado etc. A felicidade está em ser filho de Deus.
Portanto, não devemos procurar
esses infortúnios (pobreza, ser odiado, insultado...). O que devemos é ter paz
em meio a todos esses contra tempos, vendo neles um sinal de predileção de Deus
e um sinal de que estamos no caminho certo, no seguimento do Evangelho.
As Bem-aventuranças são uma
realidade que vemos todos os dias estampada no rosto das Comunidades cristãs.
Os cristãos enfrentam as maiores dificuldades, até o martírio e, em meio a tudo
isso, trazem no rosto um sorriso que ninguém consegue imitar, e que é
identificado até numa fotografia.
S. Francisco de Assis, no final
de sua vida, vivia angustiado com a seguinte pergunta: “Será que Deus está
contente comigo, com o que eu fiz?” Em suas orações ele pedia todos os dias a
Deus: “Senhor, dê-me um sinal, mostrando se tudo o que eu fiz foi ou não do seu
agrado!” De fato, o único desejo de Francisco era agradar a Deus.
Numa noite, quando ele acordou,
percebeu que estava com as chagas. Parou a angústia, porque ele viu nas chagas
um sinal de amor de Deus por ele, unindo-o com o seu Filho amado, Jesus Cristo.
E daí para frente Francisco ria até às orelhas.
E foram cinco feridas
dolorosas: uma em cada mão, uma em cada pé, e uma no peito. Elas deram trabalho
para Francisco. Ele tinha de fazer curativos e um longo tratamento. Inclusive,
elas limitaram um pouco as suas atividades.
Que paradoxo, não? Ver como
presente de Deus e como sinal do seu amor, cinco dolorosas feridas! Encontrar a
felicidade em chagas! E isso que Deus fez com Francisco, faz também conosco.
Nós não procuramos a cruz, mas, quando ela vem, justamente pelo fato de
estarmos seguindo a Jesus, nós a vemos como um presente de Deus. A festa de S.
Francisco das Chagas é dia dezessete de setembro. “Bem-aventurados vós que
agora chorais, porque havereis de rir!”
Existe uma Bem-aventurança que
não está, nem neste texto de Lucas nem no capítulo quinto de Mateus. Ela está
em Lc 1,45, foi dita por Isabel e se refere à Mãe de Jesus: “Bem-aventurada
aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será
cumprido”. Que Maria nos ensine a amar e viver as Bem-aventuranças.
Bem-aventurados vós, pobres.
Mas, ai de vós, ricos.
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