Comentários Prof.Fernando* A Justiça definitiva. (26ºDom.dComum) 25
setembro 2016
800 anos antes de Cristo assim gritava o profeta Amós (1ªleit.6,
vv1.4-7):
Ai dos que vivem acomodados,
que põem toda sua confiança em coisas,
e só andam atrás de gente importante;
dão banquetes e se regalam em sofás macios
com carnes de cordeiro e vitela;
só fazem cantar, entre bebida e música,
sempre bem vestidos e perfumados,
mas sem consciência das calamidades que destroem a Casa de José.
Serão os primeiros a ser presos e deportados
e seus banquetes vão
acabar.
·
Em todas as culturas, especialmente pela reflexão de filósofos e poetas,
como também pela doutrina das religiões, o ser humano sempre postulou uma vida
após a morte onde a Justiça injusta neste mundo fosse corrigida e plena. Dos
vestígios pré-históricos às múmias faraônicas e seus hieróglifos, descrevendo a
balança e o peso das ações humanas, boas e más; dos filósofos pré-socráticos,
procurando uma “razão” organizadora do mundo e da vida humana a Sócrates,
Platão, Aristóteles e outros, autores das bases da ciência e da cultura
ocidental; das religiões mais simples ou mais elaboradas à longa aventura judaico-cristã:
há sempre a mesma exigência de alguma Justiça definitiva e completa que
ultrapasse as éticas precárias e os costumes sociais.
·
A parábola da 3ªleitura, na Boa Notícia ensinada pelo Mestre de Nazaré,
dá nome ao mendigo doente – Lázaro, que significa “Deus ajuda” – e fala do
outro personagem, anônimo representante dos “acomodados” da injustiça – que
“não dão a mínima para a ruína da Casa de José” – como aponta o profeta Amós no
verso 6 generalizando aqueles que não têm a menor consciência de sua humanidade
solidária.
O rico e o mendigo Lázaro
·
A estória inventada pelo Mestre nazareno
não é um conto de fadas nem roteiro de moderna novela de TV. O núcleo da
parábola não é o contraste rico-pobre. O centro da história é Lázaro, aquele a
quem Deus ajuda, como diz seu nome. Como na condenação de Amós, o ricaço
encarna a figura do mau (e do mal) porque não “vê” ninguém nem nada (além de
seus prazeres e bebidas doces, das companhias que seus banquetes atraem, de
suas roupas de marca e seus perfumes importados). O “rico” da estória não
repara na presença de Lázaro na calçada, fedendo a dores, e com fome, que desejava
apenas migalhas que lhe chegassem na calçada daquela mansão.
·
O desfecho é conhecido. Lázaro é abraçado
na restauração da vida “no seio de Abraão”, o pai do povo bíblico, o primeiro
na fé-confiança nas promessas “impossíveis” de Deus. Quem vivia no conforto de
suas riquezas, mas não teve olhos para a fome e dor de seu semelhante, vai
agora para um inferno de castigos, condenado pela indiferença. O curioso final
da estória traz um tardio solidário (ao menos com sua família na terra) pedindo
para ir avisar seus irmãos sobre o futuro que também os espera. Mas a conclusão
é: Não adianta o aviso: eles já têm informação
suficiente e se não ouvirem a Moisés e aos profetas não serão convencidos nem
por um morto ressuscitado.
·
Um número muitíssimo pequeno de muitíssimo
ricos possui hoje quase toda a riqueza do mundo em contraste com a multidão de
pobres – basta ver as estatísticas publicadas pelas pesquisas. Mas a questão
ética não é de dar esmolas ou deduzir do imposto para apoiar instituições
beneficentes, oque não deixa de ser bom para pobres e ricos. O que hoje está em
jogo é o futuro mesmo da humanidade na Terra, pelo incremento da desigualdade, pela
expansão da guerra, pela da migração das massas de refugiados e famintos, pela
poluição do ar, do mar e da terra, pela exaustão de recursos a começar pela
água potável. Não notar “a ruína da Casa de José” (nos 2 sentidos de Casa:
gerações e espaço habitável) nos torna destinatários da condenação de Amós e do
destino que não escapa à Justiça definitiva.
Oremos ao “único
imortal que habita em luz inacessível” (v.16 da 2ªleitura, 1Tim6)
·
Continuemos em oração solidária por
familiares e amigos que, como Lázaro,
vivem sua dor e pobreza por causa de acidentes ou doenças. Para – firmes
na fé – sustenham a esperança de cura, retornando à caridade de seu trabalho,
onde cuidam de outros Lázaros.
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