28/09/2016
Reflexão do falecido padre Queiróz
Não desprezeis nenhum desses pequeninos.
Eu te seguirei para onde quer que fores.
Este Evangelho narra três exemplos de vocações. O primeiro e o
terceiro são as pessoas que se apresentam a Jesus, e o segundo é Jesus que
chama.
O primeiro vocacionado é generoso: “Eu te seguirei para onde quer
que fores”. Mas Jesus joga água fria no entusiasmo dele, dizendo: “As raposas
têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar
a cabeça”. Este recado vale para nós hoje. Se alguém assume a vocação cristã,
ou qualquer específica dentro da Igreja, pensando em ter algum retorno em bens
materiais, ou em boa vida, vai dar com os burros n’água, pois acontecerá o
contrário: será pobre e carregará a cruz.
Jesus era pobre e fazia questão que as pessoas que queriam segui-lo
soubessem disso, a fim de não terem ilusões. Soubessem não só que Jesus era
pobre, mas que essa era a sorte dos seus seguidores. Deus é infinitamente
poderoso e é nosso Pai; ele não deixa nenhum de nós passar necessidade de
qualquer bem material que necessita.
Ao segundo vocacionado Jesus apresenta outra condição: “Deixa que
os mortos (espiritualmente) enterrem os seus mortos (materialmente), mas tu,
vai anunciar o Reino de Deus”. Em outras palavras, o discípulo deve sentir-se
livre frente aos compromissos com a sua família e o seu ambiente. Dificilmente
um cristão poderá sentir-se livre, se não está disposto a viver e agir de forma
diferente dos padrões aceitos pelos parentes, vizinhos e os de sua terra natal.
Por exemplo, Francisco de Assis tornar-se mendigo, pertencendo a uma família
rica.
Durante séculos, as ordens religiosas foram o caminho quase único
que libertava do todo-poderoso ambiente familiar e permitia seguir melhor o
caminho do Evangelho.
Ao terceiro vocacionado, que quer despedir-se da família, Jesus
responde: “Quem põe a mão no arado e segue olhando para trás, não está apto
para o Reino de Deus”. Há pessoas que dizem a Jesus que querem segui-lo, mas a
vida diz o contrário. Outras dizem a Jesus: eu gostaria, eu quereria, eu tenho
vontade... Nada disso vale para Jesus. O que vale para ele é: “Eu quero”, e
ponto final.
Nesta última resposta de Jesus: “Quem põe a mão no arado e segue
olhando para trás, não está apto para o Reino de Deus”, há uma referência
bíblica à mulher de Lot (Gn 19,26). Deus permitiu um grande incêndio que
destruiu Sodoma e Gomorra, duas cidades que viviam no pecado. Mas antes Deus
quis salvar os seus amigos Lot e a família. Os anjos de Deus colocaram-nos fora
da cidade e recomendaram: “Não olheis para trás (Gn 19,17). A esposa de Lot
desobedeceu e olhou para trás, e tornou-se uma estátua de sal.
O touro, quando vai numa direção, nem cerca o segura. Assim devemos
ser. Prometer pouco, mas o que prometemos, cumprimos, ainda que caia o mundo ao
nosso redor.
Vivemos uma cultura do descartável: o copo é descartável, o
guardanapo é descartável... E muitos consideram os compromissos também
descartáveis.
Sobre o casamento, alguns dizem: “O casamento dura enquanto dura o
amor”. Vêem o amor como simples sentimento. Mas amor não é só sentimento. É
compromisso. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por quem ama”.
Maria Santíssima, quando foi chamada por Deus, deu uma resposta imediata,
generosa e total. Não só acolheu o chamado, mas disse para Deus que estava à
disposição dele para o que der e vier, pois era sua escrava. Santa Maria ,
rogai por nós.
Eu te seguirei para onde quer que fores.
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