29 Setembro 2016
Tempo Comum – Anos Pares
XXVI Semana –
Quinta-feira
Lectio
Lectio
Primeira leitura: Job 19,
21-27
Job tomou a palavra e
disse: 21Compadecei-vos! Compadecei-vos de mim, vós, meus amigos, porque a mão
de Deus me feriu. 22Porque me perseguis como Deus, e vos mostrais insaciáveis
da minha carne? 23Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se
consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se
esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor vive e
prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se
desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei,
os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se
dentro de mim. 21Compadecei-vos! Compadecei-vos de mim, vós, meus amigos,
porque a mão de Deus me feriu. 22Porque me perseguis como Deus, e vos mostrais
insaciáveis da minha carne? 23Quem me dera que as minhas palavras se
escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete
de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor
vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se
desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei,
os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se
dentro de mim..
O diálogo entre Job e os
três amigos chega ao auge no capítulo 19. Os amigos não se tinham cansado de
repetir que as provações que atingiam Job eram prova evidente das suas culpas
diante de Deus. Job, pelo contrário, teimava em afirmar a sua inocência. O seu
maior sofrimento era, agora, resistir às palavras dos amigos. Sentia-se e
dizia-se inocente, mas não conseguia prová-lo, nem diante de Deus, nem diante
dos amigos. Estava completamente extenuado: «Grito contra essa violência e
ninguém responde, levanto a voz e não há quem me faça justiça. Deus fechou-me o
caminho, para eu não passar, e encheu de trevas as minhas veredas» (19, 7-8).
Então Job pensa escrever a sua defesa para que, um dia, alguém, talvez nós que lemos as suas palavras, pudesse fazer-lhe justiça: «Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre!» (v 23 s.). Mas esta solução não o convence. Então apela para o supremo “vingador” para que lhe faça justiça: «Eu sei que o meu redentor vive» (v. 35). Depois de ter insultado a Deus, chama-o “Vingador, Redentor”. Nós, que conhecemos o Evangelho, apelamos para o amor, para a caridade, para Deus omnipotente, misericordioso, salvador.
Então Job pensa escrever a sua defesa para que, um dia, alguém, talvez nós que lemos as suas palavras, pudesse fazer-lhe justiça: «Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre!» (v 23 s.). Mas esta solução não o convence. Então apela para o supremo “vingador” para que lhe faça justiça: «Eu sei que o meu redentor vive» (v. 35). Depois de ter insultado a Deus, chama-o “Vingador, Redentor”. Nós, que conhecemos o Evangelho, apelamos para o amor, para a caridade, para Deus omnipotente, misericordioso, salvador.
Evangelho: Lucas 10, 1-12
1Naquele tempo, o Senhor
designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua
frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A
messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da
messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide! Envio-vos como cordeiros
para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos
detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer casa em que entrardes,
dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6E, se lá houver um homem de paz,
sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa,
comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário.
Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade em que entrardes e vos
receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e
dizei-lhes: ‘O Reino de Deus já está próximo de vós.’ 10Mas, em qualquer cidade
em que entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: 11‘Até o pó da
vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos, para vo-lo deixar. No
entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já chegou.’» 12«Digo-vos: Naquele
dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade.
O sim cordial dos
discípulos a Cristo torna-se a força da missão evangélica. Jesus manda os
discípulos a fazer o que Ele mesmo fez. É o que a Igreja continua, ainda hoje,
a fazer. Os Doze são o fundamento da missão da Igreja. Mas Jesus escolheu ao
longo dos séculos, e continua a escolher hoje, muitos outros. A messe é grande
e os operários são poucos. Os 72 de que nos fala o evangelho anunciam a
mensagem do Reino. O número “Doze” evoca as doze tribos de Israel. O número
“Setenta e dois” evoca os 72 povos da terra elencados em Gn 10. A missão dos
discípulos é universal, destinada a toda a terra. Os Setenta e dois são sinal
de todos quantos o Senhor da messe chama para o anúncio do Evangelho. Trata-se
de uma empresa divina, do Reino, que só é possível realizar com a força de
Deus, e não com as simples forças humanas.
O verdadeiro operário do Reino, não é aquele que o anuncia, mas o próprio Jesus Cristo. É Ele que envia, que toma a palavra, que actua. Mais do que fazer, é preciso deixar Jesus fazer. O mais importante é ser como Ele, adoptar o seu estilo, com as suas vicissitudes e os seus frutos – e por isso com alegria. “Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos» (v. 3). Não há que lamentar-se sobre as dificuldades da missão. Elas são o sinal do Reino. São obra do Espírito Santo. Jesus pede aos discípulos que não se preocupem: «Não vos preocupeis com o que haveis de dizer… Não sois vós a falar, mas é o Espírito do Pai que falará por vós» (10, 19 s). O Mestre não nos quer ver ansiosos. A missão é sempre um milagre do Senhor.
O verdadeiro operário do Reino, não é aquele que o anuncia, mas o próprio Jesus Cristo. É Ele que envia, que toma a palavra, que actua. Mais do que fazer, é preciso deixar Jesus fazer. O mais importante é ser como Ele, adoptar o seu estilo, com as suas vicissitudes e os seus frutos – e por isso com alegria. “Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos» (v. 3). Não há que lamentar-se sobre as dificuldades da missão. Elas são o sinal do Reino. São obra do Espírito Santo. Jesus pede aos discípulos que não se preocupem: «Não vos preocupeis com o que haveis de dizer… Não sois vós a falar, mas é o Espírito do Pai que falará por vós» (10, 19 s). O Mestre não nos quer ver ansiosos. A missão é sempre um milagre do Senhor.
Meditatio
A atitude de Job
deixa-nos espantados. Depois de falar contra Deus, depois de ter amaldiçoado o
dia em que nasceu, proclama, agora, a sua esperança: «Eu sei que o meu redentor
vive …Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar» (vv.
25-27). Primeiro foi a lamentação, o choro diante de Deus. Agora é o grito de
vitória.
Como chegou Job a este acto de fé tão profunda e de esperança em Deus? Como passou da angústia e do desejo de morrer a esta confiança em Deus? A resposta é: Job nunca deixou de lutar na oração: adorou, pediu, suplicou. No meio das maiores tribulações, manteve um diálogo íntimo e profundo com Deus. Lutou no meio da noite escura. Experimentou a Deus como desumano, como Aquele que leva a carne e os ossos, como Aquele que rouba mas, por fim, reconheceu-O como o tudo da sua vida. Do nada, ao tudo. Só nesta noite escura, nesta luta desumana é possível chegar a Deus. Em Job, verificamos como é espantoso atravessar o nada. Mas é através da noite que entramos no «mistério da luz infinita».
A oração dos salmos de lamentação confirma esta experiência. O Sl 21 começa com um grito de desespero: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Como estais longe da minha oração?…» E termina com um grito de esperança:
«Para Ele viverá a minha alma». Para chegar à ressurreição, é preciso passar pelo Getsémani. Para entrar na comunhão com Deus, é preciso não afastar-se d´Ele, continuar na sua presença, qualquer seja a situação, o vale tenebroso que tenhamos de passar.
. O sofrimento e a provação são tempos privilegiados na vida de vítima (cf. Cst 68). Para além de todo o sentimentalismo devocional, a experiência da dor é perturbadora e difícil de viver. O próprio Cristo foi perturbado (cf. Lc 7, 13; Jo 11, 33-34) e profundamente chocado com ela (cf. Mt 26, 37-38; Mc 14, 33-34; Lc 22, 43-44).
Ao absurdo da dor e da morte, para a razão, a fé responde com um mistério: o de Cristo crucificado.
A fé não responde ao porquê de cada um dos sofrimentos, mas dá-lhes um sentido, infunde-lhes uma luz e força, que permitem viver como amor a dura realidade do sofrimento.
O sofrimento é uma das possíveis realidades da nossa vida. É preciso falar dele com realismo e com discrição. Às vezes encontram-se pessoas com uma fé maravilhosa que, embora sofrendo, consolam e dão força a quem as quer consolar. É real nelas, com simples heroísmo, a «oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (Cst 24).
Como chegou Job a este acto de fé tão profunda e de esperança em Deus? Como passou da angústia e do desejo de morrer a esta confiança em Deus? A resposta é: Job nunca deixou de lutar na oração: adorou, pediu, suplicou. No meio das maiores tribulações, manteve um diálogo íntimo e profundo com Deus. Lutou no meio da noite escura. Experimentou a Deus como desumano, como Aquele que leva a carne e os ossos, como Aquele que rouba mas, por fim, reconheceu-O como o tudo da sua vida. Do nada, ao tudo. Só nesta noite escura, nesta luta desumana é possível chegar a Deus. Em Job, verificamos como é espantoso atravessar o nada. Mas é através da noite que entramos no «mistério da luz infinita».
A oração dos salmos de lamentação confirma esta experiência. O Sl 21 começa com um grito de desespero: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Como estais longe da minha oração?…» E termina com um grito de esperança:
«Para Ele viverá a minha alma». Para chegar à ressurreição, é preciso passar pelo Getsémani. Para entrar na comunhão com Deus, é preciso não afastar-se d´Ele, continuar na sua presença, qualquer seja a situação, o vale tenebroso que tenhamos de passar.
. O sofrimento e a provação são tempos privilegiados na vida de vítima (cf. Cst 68). Para além de todo o sentimentalismo devocional, a experiência da dor é perturbadora e difícil de viver. O próprio Cristo foi perturbado (cf. Lc 7, 13; Jo 11, 33-34) e profundamente chocado com ela (cf. Mt 26, 37-38; Mc 14, 33-34; Lc 22, 43-44).
Ao absurdo da dor e da morte, para a razão, a fé responde com um mistério: o de Cristo crucificado.
A fé não responde ao porquê de cada um dos sofrimentos, mas dá-lhes um sentido, infunde-lhes uma luz e força, que permitem viver como amor a dura realidade do sofrimento.
O sofrimento é uma das possíveis realidades da nossa vida. É preciso falar dele com realismo e com discrição. Às vezes encontram-se pessoas com uma fé maravilhosa que, embora sofrendo, consolam e dão força a quem as quer consolar. É real nelas, com simples heroísmo, a «oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (Cst 24).
Oratio
«Não rogo só por eles,
mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para
que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim
eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória
que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu neles e Tu em mim,
para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu
me enviaste e que os amaste a eles como a mim» (Jo 17, 20s.).
Senhor Jesus, agradeço-te porque rezaste por mim, que acreditei na palavra dos teus apóstolos. Que eu me mantenha unido a Ti, confiante na tua oração. Se ela me tivesse faltado, não estaria certamente aqui, junto de Ti; não poderia louvar-te, dar-Te graças e dar testemunho de Ti. Que, pelas minhas palavras e pela minha vida, eu dê testemunho de que estás sempre connosco e não nos abandonas, que, se lutas connosco, é para Te render e nos abençoar. Graças à tua oração, posso e quero agora adorar-Te. Obrigado, Senhor!
Senhor Jesus, agradeço-te porque rezaste por mim, que acreditei na palavra dos teus apóstolos. Que eu me mantenha unido a Ti, confiante na tua oração. Se ela me tivesse faltado, não estaria certamente aqui, junto de Ti; não poderia louvar-te, dar-Te graças e dar testemunho de Ti. Que, pelas minhas palavras e pela minha vida, eu dê testemunho de que estás sempre connosco e não nos abandonas, que, se lutas connosco, é para Te render e nos abençoar. Graças à tua oração, posso e quero agora adorar-Te. Obrigado, Senhor!
Contemplatio
As palavras não
impotentes para dizer os sofrimentos da Paixão do Salvador. Por uma inversão
das coisas, era Jesus, o justo, que era arrastado pelos culpados aos tribunais
e ao suplício.
Os sofrimentos da sua alma e do seu coração ultrapassavam os do seu corpo. Os seus apóstolos eram ingratos. O sacerdócio mosaico acabava a sua carreira num acto de suprema loucura. O povo esquecia os benefícios de Cristo e deixava-se levar pelos seus ódios brutais.
As bofetadas, os escarros e os insultos tomavam o lugar das honras que eram devidas à divindade do Salvador.
Os chicotes rasgavam o seu corpo até esgotarem as suas forças. O seu pudor era ofendido para reparar as nossas imodéstias.
A loucura humana insultava a sua sabedoria revestindo-lhe o manto dos loucos.
Pilatos achincalhava a sua realeza coroando-o de espinhos e cobrindo-a com uma púrpura de escárnio para o mostrar ao povo.
Como Isaac levava o madeiro do seu sacrifício, mas era para ser aí realmente sacrificado.
Não havia uma palavra, um passo, um pormenor deste drama que não ferisse todos os seus sentimentos no mais profundo do seu coração. A justiça, a verdade, a doçura, a piedade, a modéstia, o reconhecimento, o respeito, tudo o que Ele ama, era desprezado. Toda a sua alma era partida enquanto o seu corpo era rasgado pelos chicotes e furado pelos cravos.
As três horas da crucifixão são as da sua suprema dor. Condensou lá todos os seus sofrimentos para oferecer o preço infinito ao seu Pai. Revia todos os nossos pecados e assumia a sua expiação. Era rebaixado ao nível dos ladrões, era despojado de tudo, traído pelos seus amigos e abandonado pelo seu Pai. Todo o seu corpo era uma chaga e consumava a doação da sua vida por nós. (Leão Dehon, OSP 2, p. 67).
Os sofrimentos da sua alma e do seu coração ultrapassavam os do seu corpo. Os seus apóstolos eram ingratos. O sacerdócio mosaico acabava a sua carreira num acto de suprema loucura. O povo esquecia os benefícios de Cristo e deixava-se levar pelos seus ódios brutais.
As bofetadas, os escarros e os insultos tomavam o lugar das honras que eram devidas à divindade do Salvador.
Os chicotes rasgavam o seu corpo até esgotarem as suas forças. O seu pudor era ofendido para reparar as nossas imodéstias.
A loucura humana insultava a sua sabedoria revestindo-lhe o manto dos loucos.
Pilatos achincalhava a sua realeza coroando-o de espinhos e cobrindo-a com uma púrpura de escárnio para o mostrar ao povo.
Como Isaac levava o madeiro do seu sacrifício, mas era para ser aí realmente sacrificado.
Não havia uma palavra, um passo, um pormenor deste drama que não ferisse todos os seus sentimentos no mais profundo do seu coração. A justiça, a verdade, a doçura, a piedade, a modéstia, o reconhecimento, o respeito, tudo o que Ele ama, era desprezado. Toda a sua alma era partida enquanto o seu corpo era rasgado pelos chicotes e furado pelos cravos.
As três horas da crucifixão são as da sua suprema dor. Condensou lá todos os seus sofrimentos para oferecer o preço infinito ao seu Pai. Revia todos os nossos pecados e assumia a sua expiação. Era rebaixado ao nível dos ladrões, era despojado de tudo, traído pelos seus amigos e abandonado pelo seu Pai. Todo o seu corpo era uma chaga e consumava a doação da sua vida por nós. (Leão Dehon, OSP 2, p. 67).
Actio
Repete frequentemente e
vive hoje a Palavra:
«O meu Redentor está vivo… Eu mesmo O verei» (cf. Job 19, 25-27)
«O meu Redentor está vivo… Eu mesmo O verei» (cf. Job 19, 25-27)
| Fernando Fonseca, scj |
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