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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O Filho do Homem vai ser entregue-Reflexão do falecido padre Queiróz

24/09/2016

O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.
Este Evangelho narra que, em meio à euforia do povo pelo que Jesus fazia, ele disse aos discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”.
Jesus se auto-aplica o título messiânico de “Filho do Homem” (Dn 7,13), que ele relaciona com a figura do servo sofredor do Senhor. “Mas os discípulos não compreenderam e tinham medo de perguntar.” Tal era a distância entre essa afirmação e a expectativa dos discípulos em relação ao Messias, que nem entendiam essa linguagem de união entre Messias e sofrimento. Jesus fez tudo para evitar o “escândalo de cruz”, mas não houve jeito. Só em Pentecostes os discípulos entenderam.
Entretanto, o fato de ter medo mostra que os discípulos ficavam inseguros ou “perdidos” quando Jesus falava isso. É a atitude de quem chega perto do mistério, mas não consegue entrar nele.
Por incrível que pareça, esse choque de mentalidades entre o pensamento do mundo e o de Cristo continua até hoje. Quantos ensinamentos de Jesus são totalmente ignorados pelo mundo pecador. As pessoas conhecem, mas fazem de conta que não conhecem. Isso em relação ao casamento, à partilha dos bens, ao modo de se comportar diante de uma agressão etc. O fato de surgirem seitas em toda parte, criando um “evangelho” diferente do de Jesus, é outra atitude paradoxal do homem moderno. Todas as seitas são diferentes uma da outra e todas se entendem como a única verdade de Cristo! Todas têm o seu fundador e data de fundação, e pensam que foram fundadas por Jesus Cristo!
O discípulo de Jesus não busca aplausos. Pelo contrário, fica preocupado quando o mundo pecador o elogia muito, pois a proposta cristã entra em choque com o mundo.
Quando nós não entendermos algumas palavras de Jesus, vamos nos lembrar que ele é o próprio Deus encarnado, portanto é fidedigno. Podemos obedecer os seus ensinamentos “como se víssemos o invisível”.
O melhor é não ter medo de fazer perguntas, quando não entendemos alguma coisa da nossa fé. É trocando conhecimentos e experiências que perseveramos e cresçamos na vida cristã.
 “Caminheiro, você sabe, não existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz.” Ser discípulo de Jesus é caminhar com ele. É no caminho que se aprende, inclusive nas quedas. É pena que, na hora da cruz, muitos desistem, e outros procuram atalhos, com o objetivo de evitar a cruz!
Não é aqui na terra que recebemos retorno pelo bem que fazemos. O discípulo de Jesus continua pobre, aflito e com fome e sede de justiça. Mas ele ou ela confia em Deus e vai em frente, vencendo todos os obstáculos.
No batismo, nós nos tornamos discípulos e discípulas e missionários de Jesus Cristo. Ali começamos a nossa caminhada, procurando imitar Jesus em tudo. “Quero conhecer o Cristo e tornar-me semelhante a ele em tudo, até no sofrimento” (Fl 3,10-11). “Já não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Assim como Jesus vivia em Comunidade com os Apóstolos, nós queremos viver sempre em Comunidade. A vida em Comunidade é, muitas vezes, uma cruz, mas nem por isso vamos abandoná-la. “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum” (At 2,44). A vida em Comunidade é, ao mesmo tempo, difícil e bela. Ela é uma cruz, mas uma doce cruz.
O que Jesus mais detesta é o discípulo convencido, que pensa já ter chegado à perfeição cristã. Essas pessoas são as primeiras a ver o cisco no olho do irmão, sem reparar na trave do próprio olho.
 “Tenho nojo, detesto as vossas celebrações. Quem pediu para pisardes nos meus átrios? Mãos sujas de sangue!... No dia do juízo, Sodoma e Gomorra terão sorte melhor que vós!” (Is 1,10-17).
A melhor atitude do discípulo é jogar-se nas mãos de Deus como uma criança se joga nos braços da mãe. Cuidar apenas do momento presente, deixando para Deus o futuro e o passado. Ele nos protege em tudo, inclusive nos indicando o que devemos falar numa hora difícil. Não perderemos um só fio de cabelo.
Certa vez, um rapaz universitário, filho único, estava em sua cidade, de férias. Um dia, ele estava na praça, viu uma briga e foi apartar. Com isso, infelizmente foi atingido por uma faca e morreu. O assassino foi preso em flagrante. No julgamento, o moço pegou vários anos de prisão.
Mas o pai da vítima, que estava presente, pediu a palavra e disse: “Senhoras e senhores, nós, eu e minha esposa que está aqui ao meu lado, tínhamos um filho só, o qual amávamos muito. Sua morte deixou em nossa casa uma grande lacuna. Nós dois gostaríamos de adotar alguém que preenchesse esse vazio e suavizasse a nossa dor. Resolvemos adotar como filho o próprio rapaz que acaba de ser julgado. Que ele possa pagar a sua pena morando em nossa casa. É o que pedimos”.
Todos os presentes ficaram emocionados diante de tal atitude. Os jurados, unanimemente, e o juiz, acolheram o pedido, e o casal acolheu, como filho, o assassino do seu próprio filho!
Dá até para imaginar o que esses pais pensaram: “Esse rapaz fez isso num momento de bobeira. No fundo, ele é bom. Quem sabe agora, morando conosco, ele se emenda”. Acontece que esse tipo de raciocínio vale para qualquer assassino, qualquer criminoso. Para alguns, a gente vai dizer: “Sim, foi um crime premeditado. Mas olhe o passado dele. No fundo, ele é bom. O que falta é ser amado, para que aprenda a amar”. A misericórdia caminha por aí. Ela não é ingênua, é real e verdadeira.
A atitude desse casal foi parecida com a de Jesus. Vivendo no meio dessa sociedade pecadora, os três, Jesus e o casal, tiveram um amor universal. Não excluíram ninguém do seu amor, nem mesmo pessoas que lhes fizeram um grande mal. O nosso perdão deve ser completo e de coração.
Na vida pública de Jesus, quando ele era aclamado, Maria certamente estava ali por perto, mas não aparecia. Quando Jesus foi humilhado na cruz, ela esta estava em destaque, de pé, sofrendo junto com ele as humilhações, mas sem odiar ninguém. Virgem Mãe das Dores, rogai por nós!
O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.

 

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