09/11/2015
Dedicação da
Basílica de S. João de Latrão
A Basílica do Santíssimo Salvador, ou de S. João de Latrão,
foi fundada pelo Papa Melquíades (311-314) sobre a colina de Latrão. Aí se
celebraram sessões de cinco Concílios Ecuménicos. Aí o Papa celebra a Missa da
Ceia do Senhor, em quinta-feira santa. Aí multidões de presbíteros e bispos
foram ordenados ao longo dos séculos. Daí partiram muitos missionários para os
cinco continentes. Uma vez que o Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, tem a sua
sede na Basílica de Latrão, essa igreja é justamente chamada “mãe e cabeça de
todas as igrejas”, como se lê no seu frontispício. O aniversário da sua
Dedicação é celebrado como festa litúrgica, desde o século XII.
Lectio
Primeira leitura: Ezequiel 47, 1-2.8-9.12
Naqueles dias, o Anjo conduziu-me para a
entrada do templo, e eis que saía água da sua parte subterrânea, em direcção ao
oriente, porque o templo estava voltado para oriente. A água brotava da parte
de baixo do lado direito do templo, a sul do altar. 2Fez-me sair pelo pórtico
setentrional e contornar o templo por fora, até ao pórtico exterior oriental;
vi rebentar a água do lado direito. 8Ele disse-me: «Esta água corre para o
território oriental, desce para a Arabá e dirige-se para o mar; quando chegar
ao mar, as suas águas tornar-se-ão salubres. 9Por onde quer que a torrente
passar, todo o ser vivo que se move viverá. O peixe será muito abundante,
porque aonde quer que esta água chegar, tornar-se-á salubre; e a vida
desenvolver-se-á por toda a parte aonde ela chegar. 12Ao longo da torrente, nas
suas margens, crescerá toda a sorte de árvores frutíferas, cuja folhagem não
murchará e cujos frutos nunca cessam: produzirão todos os meses frutos novos,
porque esta água vem do santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas,
de remédio.
O tema da manifestação da Glória de Javé na
terra de Israel, no meio do seu povo, no templo, como centro vivificante,
atinge, a sua máxima expressão no texto de Ezequiel, que hoje escutamos. A
presença da Glória de Deus no meio de Israel provocará transformações, que
trarão ao povo as mesmas condições de vida do início, da criação. Os quatro
rios paradisíacos são agora uma única torrente que irrompe da entrada do templo
e desce até Arabá pelo lado direito do mesmo templo. Começando por ser um
simples arroio, vai crescendo até se tornar uma torrente intransponível, que
fertiliza os campos até ao Mar Morto. O próprio Mar Morto volta a encher-se de
vida, porque as suas águas salgadas se tornam salubres. Na nova Jerusalém dos
tempos escatológicos, a presença de Javé será uma bênção manifestada em poder
vivificante e criador. Este simbolismo da água é retomado pelo Novo Testamento:
do Lado aberto de Cristo, templo de Deus no meio dos homens, brotará o Espírito
que tudo renova e recria, verdadeira fonte de águas vivas que jorram para a
vida eterna.
Segunda leitura: 1 Coríntios 3, 9c-11.16-17
Irmãos: Vós sois o edifício de Deus. 10Segundo
a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, assentei o
alicerce, mas outro edifica sobre ele. Mas veja cada um como edifica, 11pois
ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo. 16Não
sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 17Se
alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é
santo, e esse templo sois vós.
A construção da Igreja é realizada por impulso
da misteriosa dinâmica divina, sob o alicerce que é Jesus Cristo. O contributo
humano necessário, por vontade de Deus, será avaliado, não segundo a dignidade
da tarefa encomendada, mas segundo o esforço voluntário de cada um. Tanto faz
ser arquiteto como pedreiro! Mas o templo de Deus é a própria comunidade
humana. É aí que Deus quer habitar. Os outros templos, mais ou menos
grandiosos, hão-de ajudar a que, todos e cada um, se tornem templo do Deus
vivo.
Evangelho: João 12, 13-22
Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus
subiu a Jerusalém. 14Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e
pombas, e os cambistas nos seus postos. 15Então, fazendo um chicote de cordas,
expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos
cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; 16e aos que vendiam pombas,
disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.» 17Os
seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora.
18Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes
fazer isto?» 19Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em
três dias Eu o levantarei!» 20Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos
levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?» 21Ele,
porém, falava do templo que é o seu corpo. 22Por isso, quando Jesus ressuscitou
dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram
na Escritura e nas palavras que tinha proferido.
Jesus entrara em Jerusalém como vencedor da
morte e senhor da vida - ressuscitara Lázaro; entrara no ambiente próprio de um
rei triunfante, como indicavam os ramos de palmeira associados ao triunfo dos
Macabeus (cf. 1 Mac 13, 50-52; 2 Mac 10, 1-9). Mas é ele próprio que encontra
um jumento e monta nele. Não é, pois, o Messias no sentido que o povo esperava,
mas o Messias anunciado por Zacarias (cf. Zc 9, 9). Só a partir da sua morte e
ressurreição, graças à presença do Espírito, é que tudo isto é entendido pelos
próprios apóstolos. Ao contrário do que se pensava, não é o povo que dá
autoridade a Jesus, mas o Pai. O seu reino também não é deste mundo. Por isso,
os judeus nada tinham a temer, quando verificaram: “toda a gente vai atrás
d´Ele.”
Meditatio
Hoje a Igreja-Mãe chama-nos para Roma a fim
de, ao menos em espírito, celebrarmos com ela o aniversário da Dedicação da Sé
Catedral do Papa, que não é, como muitos julgam, a Basílica de S. Pedro do
Vaticano, mas é exatamente a Basílica de S. João de Latrão.
A liturgia hodierna sublinha claramente o significado da igreja-edifício, como sinal visível do único verdadeiro templo que é o corpo pessoal de Cristo e o seu corpo místico, que é a Igreja, que celebra num determinado lugar o culto em espírito e em verdade (cf. Jo 4, 23; At 2, 46s.). Para além da sacralização do espírito material, somos estimulados a colher em Cristo homem-Deus a verdadeira sacralidade que, a partir dele, se comunica a todo o povo santo e sacerdotal, batizado e crismado no Espírito, unido ao sumo e eterno sacerdote na única oblação (Heb 10, 14).
A casa do povo de Deus, no que diz respeito à estrutura, ao decoro e à funcionalidade, deve ser tida a peito por todos os crentes, que nela renascem para a vida divina, e que nela serão abençoados para o último êxodo pascal, rumo à pátria. É casa de todos e, como tal, deve ser cuidada e guardada com amor também no seu aspeto exterior, que é sinal da nossa pureza interior” (CEI, Rito da Dedicação de uma igreja, Orientações Pastorais, Roma 1981, 12-14).
Na festa da Dedicação da Catedral de Roma, sigamos um conselho do P. Dehon: “Renovemos a nossa devoção e a nossa confiança para com a Igreja romana. Sejamos dóceis a todos os seus ensinamentos, a todas as suas orientações. Amemo-la, veneremo-la tanto mais quanto mais ela for atacada e combatida. Rezemos pelo Soberano Pontífice e pela Igreja”. (Leão Dehon, OSP 3, p. 70).
A liturgia hodierna sublinha claramente o significado da igreja-edifício, como sinal visível do único verdadeiro templo que é o corpo pessoal de Cristo e o seu corpo místico, que é a Igreja, que celebra num determinado lugar o culto em espírito e em verdade (cf. Jo 4, 23; At 2, 46s.). Para além da sacralização do espírito material, somos estimulados a colher em Cristo homem-Deus a verdadeira sacralidade que, a partir dele, se comunica a todo o povo santo e sacerdotal, batizado e crismado no Espírito, unido ao sumo e eterno sacerdote na única oblação (Heb 10, 14).
A casa do povo de Deus, no que diz respeito à estrutura, ao decoro e à funcionalidade, deve ser tida a peito por todos os crentes, que nela renascem para a vida divina, e que nela serão abençoados para o último êxodo pascal, rumo à pátria. É casa de todos e, como tal, deve ser cuidada e guardada com amor também no seu aspeto exterior, que é sinal da nossa pureza interior” (CEI, Rito da Dedicação de uma igreja, Orientações Pastorais, Roma 1981, 12-14).
Na festa da Dedicação da Catedral de Roma, sigamos um conselho do P. Dehon: “Renovemos a nossa devoção e a nossa confiança para com a Igreja romana. Sejamos dóceis a todos os seus ensinamentos, a todas as suas orientações. Amemo-la, veneremo-la tanto mais quanto mais ela for atacada e combatida. Rezemos pelo Soberano Pontífice e pela Igreja”. (Leão Dehon, OSP 3, p. 70).
Oratio
Senhor, Pai santo, nós vos damos graças. Nesta
casa visível, que nos destes a graça de construir, incessantemente concedeis os
vossos favores à vossa família, que, neste lugar, peregrina para Vós. Aqui nos
dais o sinal admirável da vossa comunhão connosco e nos fazeis participar no
mistério da vossa aliança: aqui edificais o vosso templo, que somos nós, e
fazeis crescer a Igreja, presente em toda a terra, na unidade do Corpo do
Senhor, que, um dia, tornareis perfeita na visão da paz da celeste Jerusalém.
Com os Anjos e os Santos, nós Vos louvamos, no templo da vossa glória. Ámen.
(cf. Prefácio da Missa).
Contemplatio
As grandes ordenações em S. João de Latrão são realmente emocionantes. A cerimónia é feita no coro da Basílica, ao pé da mesa da Ceia, testemunha da primeira ordenação no Cenáculo, junto das sagradas cabeças de S. Pedro e de S. Paulo, que depois de Jesus, são a nascente do sacerdócio, e nesta igreja que é a cabeça e a mãe de todas as igrejas. Sobre estas lajes prostraram-se, depois de S. Silvestre e de Constantino, muitos milhares de padres que vinham receber a unção sacerdotal ou a consagração episcopal. Daí partiram os apóstolos de tantas nações. Aí renova-se cada ano a nascente do apostolado pelas ordenações de clérigos de todas as nações. Experimentei aí as mais profundas e as melhores emoções da minha vida. (Leão Dehon, Memórias (NHV), 65-66).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 17).
“O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 17).
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Dedicação Da Basílica De Latrão (9 de
Novembro)
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