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domingo, 3 de agosto de 2014

Manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água-Claretianos

Domingo, 10 de agosto de 2014
19º Domingo do Tempo Comum
São Lourenço, Diácono, Mártir (Festa).
Outros Santos do Dia:Astéria de Bérgamo (virgem, mártir), Aurélio (mártir, venerado em Cutigliano), Bassa, Paula e Agatônica (virgens, mártires), Deusdedit de Roma (leigo), Gerôncio da Danônia (rei, mártir), Irineu (mártir, venerado em Cutigliano), Tiento e Companheiros (monges, mártires).
Primeira leitura:Reis 19,9a.11-13a
Permanece sobre o monte na presença do Senhor.
Salmo responsorial:Salmo 84(85),9ab-10.11-12.13-14 (R.8)
Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!.
Segunda leitura: Romanos 9,1-5
Eu desejaria ser segregado em favor de meus irmãos.
Evangelho:Mateus 14,22-33
Manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.
Entre os primeiros profetas de Israel surgem duas figuras que brilham com luz própria: Samuel e Elias. A tradição bíblica concedeu a eles um lugar de destaque, não somente pelo momento crítico em que agiram, mas, sobretudo pela radicalidade com que assumiram a causa de Javé. A teofania do monte Horeb constitui o centro do que se convencionou chamar o “ciclo de Elias”, isto é, a coleção de relatos que tem este profeta como protagonista (1R 17,1 – 2Rs 2,1-12).
Nessa época havia grande confusão e a fidelidade a Javé e às suas leis estava só no faz de conta, porque o rei havia introduzido cultos a deuses estrangeiros
 (1Rs 16,31-32).
Os novos deuses legitimavam a violência, a intolerância e a expropriação como meios para garantir o poder. Elias levanta sua voz contra estes atropelos e vê na seca que açoita o país as consequências do castigo divino. Elias, então, em meio às perseguições e ameaças, começa uma campanha de purificação da religião israelita. Contudo, suas iniciativas produzem o efeito contrário e a opressão, a violência e a perseguição ficam ainda mais agudas.
Cansado e desanimado, Elias se dirige ao monte Horeb onde descobre que Deus não se manifesta nos elementos telúricos, na tormenta imponente ou no fogo abrasador, mas na brisa fresca e suave que acaricia o rosto e o convida a tomar outro caminho para tornar realidade a vontade do Senhor.
Depois do massacre do monte Carmelo (1Rs 18,20-40), Elias, sem abandonar a denúncia das injustiças (1Rs 21,1-29) e aberrações (2Rs 1,1-18), opta por animar um grupo de discípulos para que continuem sua missão (2Rs 2,1-12).
Elias descobriu assim que pela via da violência não se consegue nada, nem mesmo que seja a favor de causas justas. A força da espada pode se impor a um grupo de pessoas, porém não pode garantir a paz, o respeito e a justiça.
O evangelho mostra outra tentação na qual podem cair os seguidores de Jesus quando não estão certos dos fundamentos de sua própria fé. A cena da “tempestade acalmada” evoca a imagem de uma comunidade cristã, representada pela barca, que adentra no meio da noite em um mar tormentoso. A barca não está em perigo de afundar, porém os tripulantes se abandonam aos sentimentos de pânico. Tal estado de ânimo os leva a ver Jesus que se aproxima como um fantasma saído da imaginação. É tão grande o desconcerto que não atinam em reconhecer nele o mestre que os havia orientado no caminho para Jerusalém. A voz de Jesus acalma os rumores, porém Pedro, levado pela temeridade, se lança a desafiar os elementos adversos. Pedro duvida e afunda, porque não acredita que Jesus possa se impor aos “ventos contrários”, às forças adversas que se opõem à missão da comunidade.
Este episódio do evangelho mostra como as comunidades podem perder o horizonte quando permitem que o temor aos elementos adversos seja o motivador das decisões e não a fé em Jesus. A temeridade pode levar a desafiar os elementos adversos, porém somente a fé serena no Senhor nos dá força para não afundarmos em nossos temores e inseguranças. Da mesma forma que Elias, a comunidade descobre o autêntico rosto de Jesus em meio à calma, quando o vento impetuoso contrário cede e aparece uma brisa suave e que empurra as velas na direção da outra margem.
Nossas comunidades estão expostas à permanente ação de ventos contrários que ameaçam destruí-las; contudo, o perigo maior não está fora, mas dentro da comunidade. As decisões motivadas pelo pânico ante às forças adversas podem nos levar a ver ameaçadores fantasmas em lugar de reconhecer a presença vitoriosa do ressuscitado. Unicamente a serenidade de uma fé posta completamente no Senhor ressuscitado permite colocar nosso pé descalço sobre o mar impetuoso. O evangelho nos convida a enfrentar todas aquelas realidades que ameaçam a barca, animados pela fé segura e exigente que nos impele como suave brisa para a outra margem do Reino.
É fácil ver que os conflitos de justiça entre pobres e ricos no Antigo Testamento não são uma peculiaridade da história de Israel… mas um elemento quase “essencial”, lamentavelmente presente em toda sociedade. As apelações a um ou outro tipo de imagem de Deus, não é senão talvez um reflexo das lutas que na sociedade se dá entre as forças utópicas profundas do subconsciente coletivo e os egoísmos humanos de grupos e de pessoas.
Então, e também agora, se debatem essas forças no campo do imaginário e do discurso religioso, como era “natural” a esse tipo de sociedade. Estamos entrando em um tipo de sociedade na qual pelo efeito do que Guiddens chama de “destradicionalização”, a dimensão religiosa institucional tradicional perde força, se torna menos plausível, e nas sociedades avançadas (próximas ao que se chama tecnicamente “sociedades do conhecimento”) se torna simplesmente ininteligível. Como continuará historicamente a defesa dos pobres e da justiça nas sociedades avançadas (e na nossa, qualquer que seja, no futuro) quando o discurso e o imaginário religioso não estão disponíveis para levar adiante essa luta entre a utopia em favor da justiça e os interesses egoístas?
Muitas narrativas dos evangelhos são simbólicas, teológicas, não históricas. Não são uma narrativa objetiva do que realmente passou. Nem era essa a intenção do evangelista ao incorporar esse texto ao evangelho. Porém, durante mais de um milênio e meio a cristandade entendeu aquelas narrativas ao pé da letra como fatos reais. Todavia, muitas pessoas ainda as entendem assim. É um belo problema…
Oração: Ó Deus, força viva, criadora, energizante, elevante, que nos atrais sem manifestar-te e nos seduzes sem entregar-te, em atravessar nem romper nunca o leve opaco véu que nos separa e nos comunica… Faze-nos sentir tua presença na profundidade de tudo que existe, na natureza, porém também na história, na terra como no céu, no passado como no futuro, em nossa religião como também nas religiões de todos os povos. Nós sentimos tua presença especialmente próxima em Jesus de Nazaré e no mesmo Espírito que ele manifestou, nós te sentimos presente, a ti e a tudo que existe.


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