12 de Setembro - QUINTA - Lc 6,27-38
Bem-aventurados vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos.
Neste Evangelho, Jesus proclama as bem-aventuranças, na
versão de Lucas. Primeiro ele “levantando os olhos para os seus discípulos”.
Sinal que as bem-aventuranças acontecem especialmente com os discípulos.
As bem-aventuranças são Evangelho, alegre notícia dirigida
aos pobres de Deus. Elas vêm confirmar a transformação social anunciada no
magnificat.
De fato, os pobres são os preferidos de Deus em toda a
revelação bíblica, e são os primeiros destinatários da Boa Nova trazida por
Jesus (Cf Lc 4,18-19).
Mt 5,1-12 traz oito bem-aventuranças. Lucas traz apenas
quatro, mas acrescenta quatro ameaças: “Ai de vós...” Essas ameaças esclarecem
o sentido das bem-aventuranças, tanto de Mateus como de Lucas. Porque muitos,
ao explicar esta passagem bíblica, dizem que a palavra “pobre”, para Jesus,
significa “desapegado”; e “rico” significa “ganancioso”. Na prática, isso é
torcer a Bíblia para que ela não me questione. Pobre aqui é pobre mesmo, e rico
e rico mesmo.
A felicidade messiânica dos pobres, dos famintos, dos que
choram e dos perseguidos por causa da fé cristã comprometida, contrapõe-se à
situação perigosa dos ricos, dos que têm fartura, dos que riem e dos que são
aplaudidos por todos.
As Bem-aventuranças são um caminho de felicidade
diametralmente oposto ao apresentado pelo mundo pecador. Os cristãos são
felizes exatamente naquelas situações que, segundo o mundo, trazem a
infelicidade. Veja o contraste: para o cristão, felizes os pobres; para o
mundo, felizes os ricos. Para o cristão, felizes os que agora choram; para o
mundo, felizes os que agora riem... Por aí vemos que dois milênios se passaram
e a humanidade ainda não entendeu nem vive o Evangelho de Jesus.
As Bem-aventuranças estão baseadas em duas grandes verdades:
1) A vida cristã autêntica, devido à oposição do mundo pecador, leva à pobreza,
à aflição etc. 2) Deus assiste os seus filhos e filhas queridos, a ponto de
inverter a situação, transformando em felicidade o que seria infelicidade, em
alegria o que seria tristeza. Portanto, a felicidade dos cristãos não está
nesses tropeços (pobreza, perseguição...), mas na intervenção de Deus em favor
dos seus filhos queridos.
“Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos
chamados filhos de Deus! E nós o somos. Se o mundo não nos conhece, é porque
não conheceu o Pai” (1Jo 3,1-3).
(Irmãos), os que tiram proveito deste mundo, (vivam) como se
não aproveitassem. Pois a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31).
Ao contrário dos dez mandamentos, as bem-aventuranças não
são leis, nem mandamentos, nem sequer conselhos. São simplesmente a constatação
e a descrição de um fato que acontece todos os dias em nossas Comunidades e em
nossas famílias. A vida cristã no meio do mundo pecador gera tristezas, que
Deus, em seu poder, transforma em alegrias.
Jesus não está também dizendo que ser pobre e ser odiado é
bom. Nem que esses tropeços da nossa vida são valores. Também não quis dizer
que a felicidade está em ser pobre, ser insultado etc. A felicidade está em ser
filho de Deus.
Portanto, não devemos procurar esses infortúnios (pobreza,
ser odiado, insultado...). O que devemos é ter paz em meio a todos esses contra
tempos, vendo neles um sinal de predileção de Deus e um sinal de que estamos no
caminho certo, no seguimento do Evangelho.
As Bem-aventuranças são uma realidade que vemos todos os
dias estampada no rosto das Comunidades cristãs. Os cristãos enfrentam as
maiores dificuldades, até o martírio e, em meio a tudo isso, trazem no rosto um
sorriso que ninguém consegue imitar, e que é identificado até numa fotografia.
S. Francisco de Assis, no final de sua vida, vivia
angustiado com a seguinte pergunta: “Será que Deus está contente comigo, com o
que eu fiz?” Em suas orações ele pedia todos os dias a Deus: “Senhor, dê-me um
sinal, mostrando se tudo o que eu fiz foi ou não do seu agrado!” De fato, o
único desejo de Francisco era agradar a Deus.
Numa noite, quando ele acordou, percebeu que estava com as
chagas. Parou a angústia, porque ele viu nas chagas um sinal de amor de Deus
por ele, unindo-o com o seu Filho amado, Jesus Cristo. E daí para frente
Francisco ria até às orelhas.
E foram cinco feridas dolorosas: uma em cada mão, uma em
cada pé, e uma no peito. Elas deram trabalho para Francisco. Ele tinha de fazer
curativos e um longo tratamento. Inclusive, elas limitaram um pouco as suas
atividades.
Que paradoxo, não? Ver como presente de Deus e como sinal do
seu amor, cinco dolorosas feridas! Encontrar a felicidade em chagas! E isso que
Deus fez com Francisco, faz também conosco. Nós não procuramos a cruz, mas,
quando ela vem, justamente pelo fato de estarmos seguindo a Jesus, nós a vemos
como um presente de Deus. A festa de S. Francisco das Chagas é dia dezessete de
setembro. “Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir!”
Existe uma Bem-aventurança que não está, nem neste texto de
Lucas nem no capítulo quinto de Mateus. Ela está em Lc 1,45, foi dita por
Isabel e se refere à Mãe de Jesus: “Bem-aventurada aquela que acreditou, pois o
que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”. Que Maria nos ensine a amar
e viver as Bem-aventuranças.
Bem-aventurados vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos.
Padre Queiroz
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