6 DE MARÇO
5,17-19
Não vim para abolir a Lei, mas para dar-lhe pleno
cumprimento.
Neste Evangelho, Jesus nos fala a respeito do valor e da
importância das Leis do Antigo Testamento para nós hoje.
O “pleno cumprimento” da Lei consiste principalmente na
maneira correta de obediência. Obedecer corretamente a uma lei é procurar
descobrir e praticar a intenção do legislador, o que ele tinha em mente ao
promulgá-la. É o que chamamos espírito da lei. Isso vai muito além da
obediência literal, que só vê o que a lei diz em si, sem considerar o seu
sentido mais profundo.
No caso da Bíblia, as leis do Antigo e do Novo
Testamento vieram do mesmo autor, que é Deus, nosso Pai amoroso. Suas palavras
são as de um Pai que só quer o bem dos filhos e filhas. Também nós devemos
receber essas leis com amor de filhos e filhas. “Não és mais escravo, mas
filho; e, se és filho, és também herdeiro; tudo isso por graça de Deus” (Ef
4,7). Somos de dentro da casa de Deus, somos sua família. Assim que devemos ver
as Leis dele.
Quando amamos uma pessoa, nós lemos no coração dela o
que suas palavras não conseguem expressar. Precisamos fazer o mesmo com Deus.
Jesus fez isso, em relação às Leis do Antigo Testamento.
As palavras do Evangelho de hoje são o começo de um
discurso de Jesus, no qual ele apresenta cinco exemplos, para mostrar como que
as Leis do Antigo Testamento devem ser vistas por nós hoje:
1) “Não matarás.” Deus está dizendo que não quer que
façamos o mal ao próximo, e sim o bem. Isso começa com pequenos gestos, como
tratar o nosso irmão com raiva.
2) “Não cometer adultério.” No fundo, é respeitar a
família, e não desrespeitar o matrimônio nem com um olhar.
3) “Não jurarás falso.”. No fundo, é ser verdadeiro,
falar sempre a verdade e nunca enganar ninguém e nunca colocar Deus como nossa
testemunha. “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não”.
4) “Olho por olho, dente por dente.” Significa não se
deixar levar pelo espírito de vingança ou pela ganância. Se alguém nos tomar a
capa, vamos entregar-lhe também a túnica. Se alguém nos der um tapa, vamos
virar-lhe a outra face.
5) “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.” Com
esta Lei, Moisés cortou noventa por cento do ódio que havia entre as pessoas, e
introduziu um controle. No fundo, o que Deus queria era que amássemos a todos,
até os nossos inimigos. “Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos
céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre
juntos e injustos” (Mt 5,45).
E Jesus termina o discurso com uma frase chave que
resume tudo: “Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
Aí está a grande meta da nossa vida: que sejamos parecidos com Deus Pai, pois o
filho se parece com o pai.
Ser cristão é obedecer aos mandamentos de Deus. “Isto eu
peço a Deus: que o vosso amor cresça ainda, e cada vez mais, em conhecimento e
em toda percepção, para discernirdes o que é melhor. Assim estareis puros e sem
nenhuma culpa para o dia de Cristo...” (Fl 1,9-10).
Ser santo consiste em amar a Deus e amar o próximo como
Deus ama. O amor vem de dentro, o amor tudo transforma. Ele brota da nossa
liberdade, não de leis externas. Jesus nos libertou da lei. Mas é uma libertação
que nos leva a viver para os outros. “Ame, e faça o que você quiser... Se a
verdade nos faz livres, o amor nos faz escravos” (Santo Agostinho).
A propaganda cria em nós o desejo de comprar coisas, de
substituir a geladeira, o fogão, a máquina de lavar... A necessidade muitas
vezes é ilusória, tornando-nos escravos do dinheiro e das lojas que vendem a
prestação. As lojas não querem vender à vista, porque o lucro, ou melhor, o
roubo delas é menor. Os juros embutidos nas prestações são exorbitantes, mas o consumidor
dificilmente percebe isso. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.
Certa vez, um homem encontrou dentro de um baú dos seus
tataravôs, entre as bugigangas, uma moeda. Estava escurecida e desgastada pelo
tempo. Ninguém da família conhecia o seu valor.
O homem então levou a moeda a um economista. Este, após
examiná-la, a desprezou, dizendo que não valia mais nada.
Não conformado, o homem dirigiu-se a um especialista em
raridades. Quando o especialista a viu, sua feição se mudou. Após examiná-la,
disse ao dono da moeda ser dono de uma peça de imenso valor, uma rara moeda de
ouro, na verdade, uma peça única.
Economia e vida. As pessoas são como essa moeda. Elas
não podem ser avaliadas apenas pelo seu valor econômico, isto é, pela
capacidade de trabalhar e de produzir. Toda pessoa é uma peça rara, única, de
valor infinito.
Certa vez, um homem decidiu seguir Jesus Cristo para
valer mesmo. Ele praticava caridade, ajudava todo mundo, dizias boas palavras,
fazia o bem de manhã até a noite. O grande desejo dele era ir para o céu.
Ninguém tinha dúvida de que ela ia mesmo para o céu.
Um dia, ele morreu, chegou à porta do céu e aquele que o
recebeu disse que seu nome não constava na lista. Ele obedeceu direitinho e foi
logo para o inferno.
Dois dias depois, o capeta foi lá à porta do céu e
reclamou: “Vocês me mandaram um que está causando a maior desordem e anarquia.
Está um caos lá no inferno. Está todo mundo se falando, um olhando nos olhos do
outro, se abraçando e querendo bem, perdoando e falando de amor. Trate de
tirá-lo de lá o mais rápido possível”. O porteiro consultou a lista e viu que
houve um engano.
Vamos viver tão bem a nossa fé, sendo caridosos
fraternos e dando bons exemplos que, mesmo se porventura houver um engano lá na
porta do céu, nós não o perderemos. Faça de tudo para o capeta não gostar de
você.
Onde há amor, não há necessidade de lei. Maria
Santíssima amava muito a Deus, e lhe obedecia espontaneamente em tudo.
Não vim para abolir a Lei, mas para dar-lhe pleno
cumprimento.
Padre Queiroz
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