07/12/2015
Advento
- Segunda Semana - Segunda-feira
Tempo do Advento Segunda Semana -
Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 3S, 1-10
1 *0 deserto e a terra árida
alegrar-se-ão, a estepe exultará e dará flores belas como narcisos. 2Vai
cobrir-se de flores e transbordar de júbilo e de alegria. Tem a glória do
Líbano, a formosura do monte Carmelo e da planície de Saron. Verão a glória do
Senhor, e o esplendor do nosso Deus.3Fortalecei as mãos débeis, robustecei os
joelhos vacilantes. 4Dizei aos que têm o coração pusilânime: «Tomai ânimo, não
temeist» Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar. Deus vem em pessoa
retribuir¬vos e salvar-vos. 5Então se abrirão os olhos do cego, os ouvidos do
surdo ficarão a ouvir, 6*0 coxo saltará como um veado, e a língua do mudo dará
gritos de alegria. Porque as águas jorraram no deserto e as torrentes na
estepe. 7A terra queimada mudar-se-e em lago, e as fontes brotarão da terra
seca. No covil onde repousavam os chacais, crescerão canas e juncos. 8Haverá
ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada. Nenhum impuro passará
por ele; é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se perderão.
9ali não haverá leões, e nenhum animal feroz por ali passará. Apenas passarão
os remidos. 1 DOs que o Senhor libertar é que passarão por ela. Chegarão a Sião
entre cânticos de júbilo com a alegria estampada nos seus rostos, transbordando
de gozo e de alegria; nos seus corações, não haverá mais tristeza nem aflição.
Isaías oferece-nos hoje um verdadeiro
"hino à alegria" pela renovação do cosmos e, sobretudo, do próprio
homem. Essa renovação é obra de Deus criador e salvador. Não estamos, pois,
diante de uma simples celebração motivada pelo regresso de Babilónia, mas
diante de uma proclamação de fé que reconhece na intervenção de Deus a
realização dos mais profundos anseios do coração humano.
A alegria contrasta com a aridez do
deserto e da estepe. É o contraste entre uma alegria que vem de Deus, que
atravessa e vivifica toda a existência, e o sofrimento e a aflição que pesaram
sobre o povo durante o exílio. O júbilo fundamenta-se, pois, na intervenção do
Senhor, que deu uma volta à história, e que agora guia o seu povo por um
caminho seguro. Por isso, até o coxo pode percorrê-lo aos saltos e o mudo pode
gritar de alegria.
A beleza poética do texto, à luz do Novo
Testamento, torna-se profunda teologia. Deus fez-se nosso próximo e carregou
sobre Si as nossas misérias, dando uma volta à história do homem, morrendo por
nós, restituindo-nos a vida, a alegria.
Evangelho: Lucas 5, 17-26
17*Certo dia, enquanto Jesus ensinava,
estavam ali sentados alguns fariseus e doutores da Lei, que tinham vindo de
todas as localidades da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor
levava-o a realizar curas. 18Apareceram uns homens que traziam um paralítico
num catre e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. 19*Não achando
por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao tecto e, através das
telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. 20*Vendo a
fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados.» 210s
doutores da Lei e os fariseus começaram a murmurar, dizendo: «Quem é este que
profere blasfémias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?» 22Mas Jesus,
penetrando nos seus pensamentos, tomou a palavra e disse-lhes: «Que estais a
pensar em vossos corações? 23Que é mais fácil dizer: 'Os teus pecados estão
perdoados; ou dizer: 'Levanta-te e anda? 24*Pois bem, para que saibais que o
Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar pecados, ordeno-te -disse ao
paralítico: Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» 25*No mesmo
instante, ergueu-se à vista deles, pegou na enxerga em que jazia e foi para a
sua casa, glorificando a Deus. 26Todos ficaram estupefactos e glorificaram a
Deus, dizendo cheios de temor: «Hoje vimos maravilhas!»
Jesus surpreendeu os que O rodeavam
quando, em vez curar logo o doente que Lhe foi trazido de modo um tanto
rocambolesco, lhe dirigiu palavras de perdão: «Homem, os teus pecados estão
perdoedos» (v. 20). Mas o próprio texto sugere a razão porque Jesus agiu desse
modo: «Vendo a fé daqueles homens ... » (v. 20). É a fé daqueles maqueiros que
permite a Jesus falar como fala. Só quem tem fé é capaz de compreender que o
maior problema do homem é o pecado, raiz de todos os males que o afligem.
O milagre que Jesus realiza é também uma
tentativa de fazer compreender isso mesmo aos doutores da lei e aos fariseus. A
sua objecção é teologicamente pertinente, mas também mascara a sua indiferença,
a presunção de serem superiores aos outros. Jesus parece-lhes um blasfemo, por
se arroga um poder que só a Deus pertence. Mas esse raciocínio interior, e o desafio
a Jesus, impedem-nos de ver o verdadeiro mal que aflige aquele homem, e que
Deus não é cioso do seu poder de perdoar. Com a chegada do Reino ao mundo, Deus
quer instaurar uma praxe profunda e universal de perdão. O perdão que Jesus nos
veio trazer (v. 24) é o modelo e a sua fonte dessa praxe, que suscita o espanto
e a alegria entre o povo.
Meditatio
É no encontro com Deus que somos salvos.
Deus vem salvar-nos, e nós havemos de ir ao seu encontro pelo caminho que Ele
mesmo nos prepara: «Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via
Sagrada ... é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se
perderão. Apenas passarão os remidos». Mas, para ir ao encontro de alguém, é
preciso caminhar. Por isso, as leituras insistem na cura daqueles que não podem
caminhar: «o coxo saltará como um veado-; «Levanta-te ... e vai».
O Evangelho dá-nos uma lição de
optimismo. São muitos os nossos males, as nossas carências. Mas são exactamente
eles que nos levam a buscar o Senhor. Se aquele homem não fosse paralítico,
talvez nunca tivesse encontrado a Cristo. Foi a sua limitação que o levou a
procurar a Cristo. E Cristo correspondeu ao seu pedido, e ofereceu-lhe muito
mais: «Homem, os teus pecados estão perdoedos». Pode surpreender-nos que Jesus
tenha, em primeiro lugar, oferecido o perdão dos pecados, àquele que lhe pedia
a cura da paralisia. É que o divino Mestre não faz uma leitura superficial dos
males da humanidade. Vai ao fundo dos problemas e faz-nos compreender que a
mais urgente necessidade é o perdão, pois o pecado é o pior mal, e a raiz de
males que afligem a humanidade. O Reino de Deus manifesta-se, em primeiro
lugar, como reconciliação do pecador com Deus, como nova possibilidade,
oferecida pela graça, para retomar o caminho, depois da paralisia da sua
liberdade provocada pela culpa.
Quem não tem fé, continua a pensar que
os mais graves problemas da humanidade são outros: a saúde, a economia, a
gestão do poder, o subdesenvolvimento, os desequilíbrios ecológicos ... A
Palavra de Deus alerta-nos para outra dimensão mais profunda do mal do homem e,
ao mesmo tempo, anuncia a salvação. É por isso que o deserto floresce e a
estepe árida regurgita de nova vida.
As nossas Constituições (n. 4) sublinham a sensibilidade teologal do Pe. Dehon.
As nossas Constituições (n. 4) sublinham a sensibilidade teologal do Pe. Dehon.
O seu conhecimento dos males da
sociedade não é fruto de simples análise sociológica. Leão Dehon vai mais ao
fundo da questão, e dá-se conta de que a causa dos males da sociedade, e da
própria Igreja, está no pecado visto como "recusa do amor de Cristo",
como "amor não é acolhido". Para o Pe. Dehon, se o pecado, recusa do
amor de Deus, é "mal de Deus ... mal do Coração de Jesus", é também
"mal do homem". É a fonte dos "males da sociedade ... , a causa
profunda" da "miséria humana". Por essa razão é que o Fundador,
ao falar aos noviços, chega a afirmar que "a reparação por meio do amor
puro é a salvação da Igreja e dos povos, é a solução da actual questão
social" (CFL III, 46; 25.07.1888). Esta afirmação, desligada da
experiência de vida, e especialmente do intenso apostolado social do Pe. Dehon,
pode parecer espiritualismo abstracto. Mas, para o Fundador, ela tinha um
sentido muito concreto e real: é a fonte espiritual onde se vão beber os meios
concretos, as iniciativas mais adequadas para promover as pessoas, as famílias,
os trabalhadores, para realizar a reino da justiça e da caridade (cf. NHV IX,
90-92; OSP 2, 29-69; OSP 3, 197-215). A reparação, por meio do amor, leva-o a
comprometer-se no apostolado para eliminar, ou, pelo menos reduzir, o poder do
pecado, "mal do homem" e, desse modo, reduzir o "mal de Deus e
do Coração de Jesus".
A "mística" ou "união íntima ao Coração de Cristo", que caracteriza a vida espiritual do Pe. Dehon, é a mesma "mística" que caracteriza o seu apostolado. A dimensão apostólica (oblação pelos homens) é essencial no carisma dehoniano bem entendido (cf. Cst. 5).
A "mística" ou "união íntima ao Coração de Cristo", que caracteriza a vida espiritual do Pe. Dehon, é a mesma "mística" que caracteriza o seu apostolado. A dimensão apostólica (oblação pelos homens) é essencial no carisma dehoniano bem entendido (cf. Cst. 5).
A sensibilidade do Pe. Dehon ao pecado
como "causa ... profunda" da "miséria humana", tem pouco a
ver com a análise do mal-estar social feita por um sociólogo. O Pe. Dehon não
se limita às causas próximas e superficiais; vai à "causa mais
profunda", a "recusa do amor de Cristo". Por isso, é preciso
instaurar o "Seu Reino nas almas e nas sociedades" (Cf. RCJ: OS I,
5).
Oratio
Senhor, Deus da liberdade e da paz, que no perdão dos pecados me dás o sinal da nova criação, faz com que toda a minha vida, reconciliada no teu amor, se torne louvor e anúncio da tua misericórdia.
Concede-me a graça de me juntar ao
louvor e à acção de graças de todos aqueles e aquelas que, ao longo dos séculos,
foram perdoados e curados como o paralítiCO de que fala o evangelho de hoje.
Uma vez perdoado e curado, concede-me usar de compaixão e de solidariedade com
todos os meus irmãos pecadores, para os conduzir a Ti, redentor da humanidade.
Assim exercerei uma importante dimensão da minha vocação reparadora. O teu amor
e a tua misericórdia farão florescer desertos, e estepes áridas serão irrigadas
e tornadas fecundas ... para glória e alegria do teu coração de Pai. Amen.
Contemplatio
o Coração de Jesus permanecerá sempre para nós o Coração de um amigo, de terno pai, de um esposo. Ele exercerá toda a sua comiseração para com aqueles que recorrerem a Ele com toda a confiança, sejam eles criminosos
o Coração de Jesus permanecerá sempre para nós o Coração de um amigo, de terno pai, de um esposo. Ele exercerá toda a sua comiseração para com aqueles que recorrerem a Ele com toda a confiança, sejam eles criminosos
como Judas; e Ele não punirá senão os
infelizes que obstinadamente recusarem recorrer à sua misericórdia. Para fazer
bem esta meditação, basta recordar-se das passagens magníficas nas quais Nosso
Senhor proclama a sua misericórdia pelos pecadores: as parábolas tão tocantes
do pastor que vai procurar a ovelha transviada no deserto e a traz de volta às
costas, da dracma perdida, do filho pródigo e do bom samaritano. Consideremos
também a bondade de Jesus em acção, para com os pecadores; Ele perdoa à mulher
adúltera e à samaritana, a Madalena, ao ladrão, a S. Pedro.
Jesus e a bondade, são um todo. Jesus é
todo coração mesmo pelos pecadores. Antes de proclamar esta misericórdia do seu
Coração, Ele coloca-a perante os nossos olhos através de uma acção simbólica.
Apresentam-lhe um paralítico. Ele não lhe diz: tu és um pecador, tu não mereces
que eu te cure; começa por curá-lo da sua enfermidade espiritual e liberta-o em
seguida da sua enfermidade corporal: «Vai, diz-lhe, os teus pecados estão
perdoados», e acrescenta: «Toma a tua enxerga e volta para casa». Um momento
depois, testemunha aos pobres pecadores, uma bondade, uma condescendência
verdadeiramente espantosas. Vive familiarmente com eles, convida-os à sua mesa,
e a sua indulgência vai até escandalizar os Fariseus. Estes interpelam os
apóstolos e dizem-lhes: «Porque é que o vosso mestre come com os pecadores>
Mas Jesus responde-lhes: «O médico não se inquieta com os que estão de saúde,
mas sim com os doentes». Jesus tem por nós um coração de amigo e de médico, e
não um coração de juiz (Leão Dehon, OSP 2, p. 272s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Coragem: Deus vem selver-nos» (cf. Is 35, 4)
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