SEGUNDA FEIRA DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DE LATRÃO 09/11/2015
1ª Leitura Ezequiel 47,1-2.2.8-9.12
Salmo 45 (46), 5 “Os braços de um rio alegram a cidade de Deus, o
Santuário
do Altíssimo”
2ª Leitura 1 Cor3,9c-11.16-17
Evangelho João 2, 13-22
"O TEMPLO VIVO"
A casa onde morávamos, nos anos 60, esquina das
ruas Albertina Nascimento com a Tarcísio Nascimento em Votorantim, era incompatível
com a nossa classe social, meu pai era um simples operário e a casa de cinco
cômodos era bonita e espaçosa, a sala era o espaço onde recebíamos as visitas.
Certo dia veio a nossa casa a Dona Dita, uma senhora humilde que minha mãe
gostava muito de acolher, sempre a ajudando como podia. Minha Irmã havia
encerado o corredor e a sala, e a mulher, ao entrar, pedindo licença, tirou o
chinelo sujo de barro, pois havia chovido àquele dia, mas minha mãe lhe disse:
“Olhe Dona Dita, a senhora é muito mais importante que esta casa , e esta sala
limpa e organizada, é justamente para receber a senhora, por isso pode por o
chinelo e fique a vontade”
Lembro-me que nos meus nove anos, depois que a
mulher se foi, perguntei à minha mãe se era mesmo verdade que a Dona Dita, tão
pobrezinha daquele jeito, era assim tão importante, ao que minha mãe respondeu:
”As pessoas, ricas ou pobres, inteligentes ou ignorantes, são importantes e
devem ser sempre recebidas com respeito e amizade, porque nelas mora o Deus
vivo, é uma ofensa ao nosso Deus, exigir que um pobrezinho tire o sapato ou o
chinelo, para não sujar a nossa casa”. AH Dona Georgina minha primeira
catequista! Como lhe sou grato por ensinar-me esta lição, apreendida com a
Palavra de Deus!
O comentário simples da minha mãe, é a homilia de
hoje, pois Jesus, indignado por terem feito do templo sagrado um lugar de
comércio, expulsa da casa do Pai os profanadores do templo. Ao afirmar, que o
zelo por vossa casa me devora, Jesus não se refere somente ao templo em si, edificação
material, mas ao templo vivo que é o homem, onde, exatamente como minha mãe me
ensinou, está presente o Deus vivo
Todas as igrejas cristãs, enquanto lugar
consagrado a Deus, onde o povo se reúne para o culto, deve e precisa ser
respeitado como tal, porque se apresenta como sinal dessa presença real de
Jesus em sua igreja. A Festa litúrgica dessa sexta feira, dia 09 de Novembro –
Dedicação da Basílica de Latrão, que não
quer simplesmente prestar homenagem a um lugar histórico para a igreja
católica, como é a Basílica de Latrão, que no século IV, quando o imperador
Teodósio decretou o Cristianismo como a Religião oficial do Império, tornou-se
a residência oficial do Papa, passando depois a ser uma Basílica.
Ao celebrar essa festa tão importante, a Igreja
nos oferece esta reflexão da Palavra de Deus, sobre o sentido do templo,
enquanto lugar da presença de Deus, e o templo vivo onde Deus habita que é no
coração do homem, conferindo-lhe uma dignidade especial, a ponto de Paulo nos
dizer, diante de pecados que profanam o corpo –“ Não sabeis que vossos corpos
são templos do Espírito Santo?”
É na teologia joanina que o corpo será
compreendido enquanto morada de Deus, templo do Deus Altíssimo, afirmando e
confirmando desta maneira, que lá nas profundezas do nosso ser existencial,
envolvendo todas as nossas dimensões, Cristo Jesus se faz presente, graças a
efusão do Espírito Santo, o Santíssimo, Perfeitíssimo e Todo Poderoso, vem
participar da vida dos homens, não dentro de um conformismo com o domínio do
mal, por causa das fraquezas e da concupiscência da carne, antes, para os
resgatar, apontar-lhes o único caminho que é Ele mesmo.
Nesse sentido a morte já não existe, o homem
tornou-se propriedade exclusiva de Deus, através da encarnação de Jesus, nada
poderá derrotá-lo, nenhuma outra força será maior do que a graça santificante e
operante, que preenche todo o seu ser. Esse resgate da dignidade humana, esta
total renovação e renascimento, é o maior de todos os sinais que Jesus
apresenta aos seus interlocutores neste evangelho - “Destruam este templo e em três dias eu o levantarei!”
Este Santuário
que traz em si o Deus vivo e encarnado na história, em Jesus de Nazaré,
vem sendo todos os dias e de todas as formas profanado, violentado, banalizado,
mercantilizado, feito em ruínas. Não se discute aqui o caráter sagrado dos
nossos templos cristãos, mas o que deve nos questionar é a essência daquilo que
Jesus ensina-nos neste evangelho: que como cristãos deste terceiro milênio,
devemos todos ter este mesmo zelo que nos devora, pela vida e dignidade dos
nossos irmãos. Não estaria na hora de usarmos o “chicote da indignação”, diante
de certas ideologias para quem a vida humana nada vale?.Poderíamos começar em
nossas comunidades, acolhendo todos os que vêm sendo vítimas desta profanação.
(Consagração da Basílica de Latrão) João 2, 13-22.
Diácono José da Cruz
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP
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