09- Segunda - Evangelho - Jo 2,13-22
Na cena
do texto, Jesus vai a Jerusalém para a primeira das três Páscoas mencionadas em
João (nos Sinóticos a vida pública de Jesus só durou um ano e eles só mencionam
uma Páscoa). No Templo, que deveria ser o lugar do culto ao Deus verdadeiro da
Bíblia, o Deus de libertação, o Deus dos pobres e sofridos, Ele encontra um
verdadeiro mercado, onde, no pátio externo, era possível comprar os animais
para os sacrifícios, e trocar a moeda, uma vez que a moeda corrente do país não
era aceita no Templo. Quando atacava esse comércio, Jesus estava indo além da
mera condenação de um abuso, pois os animais e o câmbio eram necessários para o
funcionamento do Templo. Como Jesus substituiu a purificação dos judeus no
sinal das Bodas de Caná, aqui Ele demonstra que o centro do culto judaico
perdeu o seu sentido, pois a presença de Deus, antes achada no Templo, agora
deturpado pela elite religiosa e política, doravante reside em Jesus, o Filho
de Deus encarnado. Ele cumpre as profecias de Jeremias e Zacarias que
predisseram uma religião sem templo nacionalista, explorador econômico do povo
(cf. Jr 7,11-14; Zc 14,20-21).
João
entende que o templo é o corpo de Jesus, que será ressuscitado em três dias –
ele usa de propósito o verbo “reerguer” em lugar do “reconstruir” dos Sinóticos
(cf. Mt 26,61). As autoridades judaicas destruíram o sentido do Templo,
abusando do povo economicamente, como vão destruir o corpo de Jesus, matando-o;
mas Jesus tem o poder de reerguer o verdadeiro Templo onde habita Deus, na
ressurreição, depois de três dias.
Mais uma
vez Jesus, através de uma ação profética, desmascara a deturpação da religião,
por parte das autoridades de Jerusalém. Embora o templo fosse muito bonito e
imponente, com liturgias pomposas bem frequentadas, a sua religião era vazia,
pois escondia o rosto verdadeiro do Deus da Bíblia. As igrejas correm este
mesmo risco nos dias de hoje.
Além da
descarada exploração financeira dos seus fiéis por parte de algumas seitas (e
cuidemos para não generalizarmos aqui), aos poucos muitas comunidades cristãs perderam
a sua dimensão profética de denúncia e anúncio, configurando-se ao mundo
neo-liberal de consumismo e gratificação emocional imediata, tornando o
evangelho uma mercadoria a ser vendida através de um marketing, que jamais pode
questionar os valores da sociedade vigente.
Assim o
texto de hoje nos traz um alerta – Jesus não veio compactuar com uma religião
exploradora, alienadora e aliada ao poder, mas para encarnar as opções do Deus
Javé, libertador dos males e de toda exploração; Ele veio “para que todos
tenham a vida e a vida em abundância” (Jo 10,10). Uma religião que abandona a
sua função profética é tão traidora como a religião decadente das elites do
Templo.
Senhor
Jesus, que eu tenha pelas coisas do Pai o mesmo zelo que tiveste, sabendo
reconhecer as exigências práticas da minha fé.
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