08- DOMINGO
- Evangelho - Mc 12,38-44
Padre
Antonio Queiroz
Esta
viúva pobre deu mais do que todos os outros.
O
Evangelho de hoje tem duas partes. Na primeira, Jesus nos alerta sobre o perigo
da hipocrisia, que consiste em darmos uma aparência de bons e santos, sendo que
na verdade não somos. Esse pecado está em quase todos nós. Escondemos os nossos
defeitos e publicamos as nossas virtudes.
É
conhecida a expressão “santo de pau oco”. Eram imagens ocas que os portugueses
enchiam de ouro do Brasil para levar clandestinamente para Portugal. Imagine as
cenas no navio: a pessoa com muita “devoção” ao santo, mas na verdade o culto
era ao ouro que estava lá dentro.
Hoje
em dia, se visitarmos as cidades históricas de Minas Gerais, vamos ver muitos
santos e santas nas igrejas. Mas são imagens que enganam, porque o escultor só
faz a cabeça e os braços do santo. O resto, que fica escondido debaixo da
roupa, não existe. Se levantamos a roupa do santo, vemos apenas uma haste de
madeira, sustentando a cabeça e os braços. Todos nós somos um pouco “santos de
pau oco”. Mas de Deus ninguém esconde nada!
Na
segunda parte do Evangelho, vemos a cena da viúva colocando no cofre do Templo
duas moedinhas que não valiam quase nada e Jesus elogiando o gesto dela.
Jesus
fala: “Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas.
Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo
aquilo que possuía para viver”.
Aquela
viúva mostrou uma fé que não é qualquer um que tem: Dar para Deus ou para o
próximo aquilo que necessita para viver. Só faz isso quem tem muita fé e
confiança em Deus.
Ela
nos lembra o gesto de Jesus, que não tinha onde reclinar a cabeça, no entanto,
passou a vida fazendo o bem e servindo a todos e todas. Até que, no fim, deu-se
a si mesmo. Quando celebramos a Eucaristia, comemos a carne e bebemos o sangue
de Jesus. Que este alimento, que comemos todos os domingos, nos ajude a ser
como a viúva, como Jesus, cada um de nós traduzindo o gesto para o nosso jeito
original.
Quem
ama a Deus, confia nele, e não mede os sacrifícios que faz por ele. Aliás, nem
vê seus gestos como sacrifício. A viúva amava muito a Deus, por isso confiava
nele e sabia que não ia passar fome sem aquelas moedas.
As
outras pessoas “deram do que tinham de sobra”. Sinal que colocavam a própria
segurança, não em Deus, mas no dinheiro. Por isso que os ricos são ricos, e por
isso que existe fome no mundo. As pessoas buscam avidamente acumular bens. É
uma avidez que só aumenta. Quanto mais tem mais quer.
Vemos
que a mensagem que Jesus nos dá neste Evangelho vai muito além de oferta em
dinheiro. Isto foi apenas uma ocasião. Podemos nos perguntar: a viúva foi
imprudente? É certo alguém fazer isso que ela fez, dar a Deus tudo o que possui
para viver? É certo ajudarmos um necessitado, usando para isso um tempo não
livre, ou um bem do qual vamos precisar? A cena da viúva de Sarepta (1ª
Leitura) é uma resposta de Deus a essas perguntas.
Também
parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37) vai na mesma linha. O samaritano não
calculou nada, quando desceu do cavalo e socorreu o ferido que viu na beira da
estrada.
Todo
gesto de amor verdadeiro inclui a doação da nossa vida; do contrário é egoísmo
disfarçado em amor. Até um simples dar uma moeda ao mendigo que nos pede, só
será amor verdadeiro se estiver embutida no gesto uma entrega total nossa a
Deus, presente naquele mendigo.
“Ninguém
tem maior amor do que aquele que dá a vida por quem ama” (Jo 15,13). E Jesus,
que falou essa frase, nos deixou o exemplo com a sua própria vida.
“Buscai
em primeiro lugar o Reino de Deus, e tudo o mais vos será dado por acréscimo.”
Aí está o caminho da felicidade, da realização pessoal e do sentido da vida que
todos nós buscamos.
Aquela
viúva certamente tinha alegria e descontração, ao passo que aqueles outros
estavam tensos e preocupados. É o que acontece quando seguimos e quando não
seguimos o plano de Deus.
Havia,
certa vez, um camelô que armava sua barraca na velha praça, e vendia bugigangas.
Ele não fazia propaganda de seu negócio e até parecia que não “regulava bem”.
Algumas pessoas o pagavam com moedas falsas e outras, simplesmente, não
pagavam, garantindo que já o tinham feito. Ele aceitava suas palavras. A todos
acolhia com a mesma bondade e o mesmo sorriso.
Ao
aproximar-se a hora da morte, ele pediu a Deus: “Ao longo da vida aceitei
muitas moedas falsas das pessoas, mas nem uma só eu as julguei em meu coração.
Simplesmente supus que não sabiam o que faziam. Por favor, ó Deus, agora é a
minha vez de ser julgado. Também sou moeda falsa e espero ser julgado com
misericórdia...”
No
acerto final, ele ouviu do Juiz: “Como é possível julgar alguém que nunca
julgou os outros?” E no dia seguinte, ele brilhava como um diamante em meio aos
bem-aventurados. Agora é moeda verdadeira, cunhada pelo próprio Deus.
Pobreza
e misericórdia precisam, necessariamente, andar juntas. Todos somos pecadores
e, por isso, logicamente, precisamos da misericórdia do Pai. Ele é
infinitamente misericordioso. Mais ainda, ele possibilita que nós mesmos
escolhamos a maneira de julgamento: “Com a mesma medida que julgardes, sereis
julgados”. Não é suficiente julgar com misericórdia, Jesus vai além: “Não
julgueis”.
Que
não sejamos hipócritas, isto é, moedas falsas, apresentando-nos como
verdadeiras..
Maria
Santíssima, quando foi ajudar a prima Isabel, que estava grávida, ficou lá três
meses. Se ela fosse calculista, certamente teria voltado antes para casa, ou
nem teria ido, já que ela também estava grávida, e do próprio Messias. Se ela
fosse calculista, também não estaria ao pé da cruz, junto do Filho, devido ao
perigo que isso representava para ela. Mãe do belo amor, rogai por nós. Que
dirijamos os nossos atos pelo amor, que nos leva, às vezes, ao heroísmo.
Esta
viúva pobre deu mais do que todos os outros.
José Salviano; gostei muito, Deus sempre está e estará do seu lado. Que Deus te abençoe.
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