06- Sexta - Evangelho - Lc 16,1-8
O ADMINISTRADOR DESONESTO
- Canção Nova
O Evangelho de hoje apresenta uma parábola em
certo modo bastante atual, a do administrador infiel. A personagem central é o
administrador de um proprietário de terras, figura muito popular também em
nossos campos, quando regiam sistemas usufrutuários.
Como as melhores parábolas, esta é como um drama
em miniatura, cheio de movimento e de mudanças de cena. A primeira tem como
atores o administrador e seu senhor e conclui com uma dispensa taxativa: «Já não podes ser administrador». Este não esboça sequer
uma autodefesa. Tem a consciência suja e sabe
perfeitamente que tudo aquilo que o patrão ficou sabendo a seu respeito é
certo. A segunda cena é um monólogo do administrador que acaba de ficar
sozinho. Não se dá por vencido; pensa em soluções para garantir um futuro. A
terceira cena – o administrador e os camponeses – revela a fraude que idealizou
com esse fim: «‘Tu, quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem sacos
de trigo’. O administrador disse: ‘Pega a tua conta e escreve: oitenta’».
Um caso clássico de corrupção e de falsa contabilidade que nos faz pensar em
frequentes episódios parecidos em nossa sociedade, ainda que em uma escala
muito maior.
A conclusão é desconcertante: «O senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com
esperteza». Será que Jesus aprova ou estimula a corrupção? É
necessário recordar a natureza totalmente especial do ensinamento nas
parábolas. A parábola não deve ser trasladada em bloco e com todos seus
detalhes ao plano do ensinamento moral, mas só naquele aspecto que o narrador
quer valorizar. E está claro qual é a idéia que Jesus quis incutir com esta
parábola.
O senhor elogia o administrador por sua
sagacidade, não por outra coisa. Não se afirma que volta atrás em sua decisão
de despedir este homem. E mais ainda, visto seu rigor inicial e a prontidão com
a qual descobriu a nova artimanha do administrador, podemos imaginar facilmente
a continuação, não relatada, da história. Após ter elogiado o administrador por
sua astúcia, o senhor deve ter-lhe ordenado que devolvesse imediatamente o
fruto de suas transações desonestas, ou pagá-las com a prisão se não pudesse
saldar a dívida. Isso, ou seja, a astúcia, é também o que Jesus elogia, fora
das parábolas. Acrescenta, de fato, quase como comentário às palavras desse senhor:
«Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios que os
filhos da luz».
Aquele
homem, frente a uma situação de emergência, quando estava em jogo seu porvir,
deu prova de duas coisas: de extrema decisão e de grande astúcia. Atuou pronta
e inteligentemente para salvar-se. Isso – Jesus vem dizer a seus discípulos – é
o que deveis fazer também vós para pôr a salvo não o futuro terreno, que dura
apenas alguns anos, mas o futuro eterno. «A vida – dizia um filósofo antigo –
não é dada a ninguém em propriedade, mas a todos em administração» (Sêneca).
Todos nós «administradores»; por isso, devemos fazer como o homem da parábola.
Ele não deixou as coisas para amanhã, não dormiu. Está em jogo algo mais
importante que não pode ser confiado à sorte.
O Evangelho com frequência faz diversas
aplicações práticas desse ensinamento de Cristo. Aquele no qual se insiste mais
tem a ver com o uso da riqueza e do dinheiro: «Eu vos digo: usai o ‘dinheiro’,
embora iníquo, para fazer amigos. Quando acabar, eles vos receberão nas moradas
eternas». É como dizer: fazei como aquele administrador; fazei-vos
amigos daqueles que um dia, quando vos encontrardes em necessidade, possam
acolher-vos. Esses amigos poderosos, sabemos, são os pobres, já que Cristo
considera dado a Ele em pessoa o que se dá ao pobre. Os pobres, dizia Santo
Agostinho, são de certa forma, nossos correios e transportadores: eles nos
permitem transferir, desde agora, nossos bens na morada que se está construindo
para nós no céu.
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