QUARTA FEIRA DA 32ª SEMANA DO TC 11/11/2015
1ª Leitura Sabedoria 6, 1-11
Salmo81(82),8ª “Levantai-vos, Senhor, para julgar a terra”
Evangelho Lucas 17, 11-19
http://liturgiadiaria.cnbb.org.br/app/user/user/UserView.php?ano=2013&mes=11&dia=13
A FÉ
COR DE CINZA
Às vezes entre os próprios
cristãos há uma anedota de que, para a pessoa ser crente, tem que ser direita,
séria, a Fé nesse caso é avaliada pelas atitudes, deixou de fumar, de beber, de
levar uma vida devassa, dizem que a pessoa então, virou crente, e qualquer não
participação da mesma, em algo que signifique diversão e descontração, lá vem
alguém com a piadinha desrespeitosa: “ Esse aí virou crente”
Penso que ter uma nova
atitude, a partir do momento em que se encontrou Jesus Salvador, e o
proclama-se Senhor da nossa Vida e da nossa História, é válida e deve ser
respeitada, principalmente em meio a uma sociedade marcada pelo ateísmo.
Essa Fé cor de cinza que eu
quero aqui abordar, vai além dessas aparências que possam sinalizar uma
vivência cristã na vida das pessoas. É exatamente a Fé daqueles nove leprosos
que não voltaram, recebendo a crítica do evangelista Lucas nesse evangelho.
Provavelmente em nossas
igrejas cristãs, nos sentiremos exortados por essa palavra, para que tenhamos
sempre a atitude do Leproso que voltou para dar glória a Deus, pelo dom da sua
cura. Certamente muitos pregadores irão dar enfoque à virtude da gratidão,
dizendo que diante de Deus devemos ser gratos, no que não estão errados, no
fundo a mensagem seria mesmo essa. Mas tenho como proposta fazer uma reflexão
ainda mais profunda, válida para todos os que se declaram e se sentem cristãos:
qual a diferença entre os nove que não voltaram, e aquele que voltou?
Até o momento em que
encontraram Jesus, eles eram exatamente iguais, vítimas da mesma desgraça, a
lepra, uma doença que acabava com a alegria de viver, porque o homem, longe do
seu semelhante, isolado de seus irmãos, se transforma em um “Bicho Triste”.
Banido da sociedade, da família e da comunidade.
O texto não fala que um
suplicou mais do que o outro, ou que um gesticulou, ou ficou de cabeça baixa,
ou que alguém entre eles, se ajoelhou, simplesmente pararam á distância e
clamaram por misericórdia. Vendo-os Jesus disse “Ide mostrar-vos aos
sacerdotes”. Até aqui, portanto, nenhuma diferença, tudo exatamente igual, mas
aconteceu que enquanto caminhavam ficaram purificados....aqui começa a
diferença de atitudes....e a Fé começa a ter uma cor.
Os dez se deram conta de
que algo de extraordinário tinha acontecido com eles, a partir daquele momento
não eram mais leprosos, poderiam voltar de imediato ao convívio dos familiares,
dos amigos, e da comunidade, acabou-se a confinação, o isolamento, a vidinha
triste do acampamento de Leprosário, se tinham esposas ou mães e pais, irmãos e
irmãs, quem sabe alguma noiva, tudo havia agora se renovado, a vida recomeçava
com um horizonte novo e promissor. A cura não era mais uma promessa, mas
realidade palpável e concreta, pele limpa, mãos e rosto intacto e sem
deformações monstruosas. Podiam comemorar e extravasar toda alegria presentes
na alma e no coração.
Com certeza, os dez
sentiram naquele momento toda essa euforia , entretanto, na comemoração, só um
deles teve a ousadia de “extrapolar”, não havia como deixar fora desse clima de
Festa, Aquele que realizara tal prodígio, seria impensável para ele, prosseguir
o caminho sem antes festejar a cura com aquele que o havia curado, mas junto
com a alegria também o sentimento de gratidão,Simplesmente porque acaba de ser
curado. Não damos glória a Deus porque somos bons cristãos, praticantes da
religião, cumpridores das obrigações cristãs, mas damos Glória a Deus, porque o
seu Amor é grandioso e infinito, e em Jesus o Filho de Deus, já podemos sentir
esse amor extremamente misericordioso.
Imagino que no caminho de
volta esse homem fez a maior festa, cantando, dançando, dando murros no ar para
extravasar a sua incontida alegria. A sua Fé tinha a cor da alegria, era uma Fé
contagiante, marcada antes de tudo pelo encanto que começara a sentir pela
pessoa de Jesus, por isso o Senhor irá lhe dizer “Vai, a tua Fé te salvou”. Os
outros nove continuaram curados da lepra, mas este estrangeiro acabara de
descobrir que somente Jesus, Salvador e Redentor consegue dar um sentido novo á
nossa vida, somente ele é a razão de se viver.
Provavelmente procurou o
Sacerdote, representante da Instituição, que iria apenas confirmar aquilo Jesus
realizara em sua vida, o verdadeiro rito manifesta aquilo que é essencial,
sinalizando o agir Divino.
Em todos os domingos, nós
cristãos temos um encontro privilegiado com Jesus em nossas comunidades, sua
palavra nos encanta e a Ceia Eucarística que é o seu Corpo e Sangue passam a
fazer parte do nosso Ser Existencial, O Mistério da Força da Eucaristia nos
desinstala de nós mesmos, nos leva a buscar a comunhão com as pessoas que nos
cercam e com quem convivemos na Comunidade, na Família e na Sociedade.
Qual a cor da Fé que
manifestamos em nossas celebrações? Se for a do rito formal de uma liturgia
“quadrada” que sufoca em nós a alegria de manifestar o amor de Deus, se for a
de um formalismo religioso vivido em uma igreja das obrigatoriedades e
preceitos, ela será sempre CINZA como a dos nove Leprosos, que preocupados com
o aspecto legalista da relação com Deus, esqueceram ou não quiseram comemorar com
Aquele que é a causa, a razão e o sentido desta Vida Nova que nos libertou da
tristeza do pecado.
Fé que se fecha em nossas
igrejas, não irradia alegria de ser amado, e não contagia as pessoas com quem
convivemos, será sempre cor de CINZA, e nossas celebrações serão sempre
enfadonhas, monótonas, não vemos a hora de acabar, para voltar ao Leprosário do
nosso egoísmo, do mundinho religioso que inventamos, onde nada mais enxergamos
além do próprio umbigo. Essa Fé não salva e nem cura ninguém, nem a nós mesmos...
Diácono José da Cruz
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP
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