27 de Setembro - Sábado -Evangelho - Lc
9,43b-45
“Os
cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no reino dos céus”, disse
Jesus às autoridades judaicas que o escutavam no Templo. Podemos imaginar o
escândalo que estas palavras causaram aos ouvidos dos “justos” de Israel! Ser
precedido nos céus por uma prostituta ou um cobrador de impostos?! No
tempo de Jesus, os cobradores de impostos eram totalmente desonestos. Não
poderia se ouvir ofensa maior. Ser colocado para trás logo por quem? Por
pessoas de má fama?I
Mas, por
que Jesus reprova tanto estes sacerdotes e anciãos? Onde foi que eles erraram?
Exatamente na incoerência entre o “falar” e o “fazer”. E Jesus mostra isso
claramente com a parábola dos dois filhos. Nela, para ambos os filhos, o pai
pede cordialmente que trabalhem na vinha. O primeiro se prontifica
imediatamente: “Sim, Senhor!”, mas não move uma palha. O segundo está decidido:
“Não quero!”, mas pensa melhor e aparece lá para trabalhar.
No
primeiro filho, as palavras são boas e gentis, mas falta a sua realização. No
segundo, as palavras até parecem brutas, mas a ação é boa. As palavras por si
só não salvam, é preciso praticá-las. O próprio Jesus já havia alertado: “Não
quem me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Já o exemplo do segundo filho
é autêntico: ele cumpre a vontade do pai não com palavras, mas com ações.
Os
chefes judaicos até que estavam de acordo que a vontade do Pai só pudesse ser
cumprida com ações, mas não estavam de acordo de jeito nenhum com a aplicação
que Jesus fizera desta parábola. Assim, percebemos que tipo de distância
abismal havia entre o dizer e o fazer na religiosidade farisaica e que é tão
viva ainda hoje. A reprovação de Jesus é dirigida a quem dá mais valor às
aparências do que à essência, mais às palavras que à prática, mas ao exterior
que ao interior. Se formos fazer um exame de consciência bem feito, vamos
perceber imediatamente como somos fariseus, como o primeiro filho pronto a
dizer “sim” com os lábios, mas a não fazer quase nada quando o assunto é
cumprir a vontade de Deus.
A
exortação de Jesus se torna ainda mais provocante, como já dissemos acima,
porque contrapõe aos seus interlocutores os publicanos e as prostitutas. Para
os chefes dos judeus, o fato de serem mencionados juntamente com pessoas dessa
classe era muito ofensivo. Eles desprezavam e excluíam totalmente estas
pessoas. Jesus, pelo contrário, vê nelas o segundo filho. Num primeiro momento,
deram um não, mas depois se arrependeram e fizeram a vontade do Pai. Jesus não
aprova o modo de vida delas, mas reconhece a acolhida que elas deram à mensagem
de conversão de João Batista e a julga como o cumprimento da vontade de Deus.
Jesus
afirma que só aquele que reconhece o seu pecado pode se arrepender; aquele que
se acha justo, um auto-suficiente, seguro de sua justiça, nunca vai reconhecer
que erra. De fato, foi isto o que aconteceu pela pregação de João Batista: os
fariseus o rejeitaram, enquanto os pecadores se arrependeram e se converteram.
Aqueles, de fato, não se agradaram em ouvi-lo, estavam fechados ao Evangelho e
só quem se deixa tocar pelo Evangelho, se afasta de si mesmo (já que, no fundo,
a religiosidade farisaica é o agradar a si mesmo, pelo próprio comportamento,
pelas próprias ações) e se abandona à vontade de Deus.
Até que
os fariseus faziam boas e muitas ações, pois observavam a lei de Moisés, mas
esqueciam a parte fundamental: reconhecer os sinais da presença de Deus,
primeiramente em João Batista, depois em Jesus. Descobrimos assim que a manifestação
concreta da vontade de Deus não coincide nunca com aquilo que nós desejamos e
que já pré-estabelecemos como o nosso bem, mas tem sempre a ver com a fé, uma
fé que envolve todo o nosso ser e se concretiza numa pequena, simples, mas
dificílima ação. O importante não é, portanto, fazer alguma coisa, mas fazer
aquilo que Deus quer que nós façamos pela obediência da fé.
Pai,
quero ser para ti um filho que escuta a tua Palavra e se esforça para cumpri-la
com sinceridade. Que a minha resposta ao teu apelo não seja pura formalidade.
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