DOMINGO - 12 de Outubro -Evangelho
- Jo 2,1-11
Ao narrar a presença de Maria na vida pública de Jesus, João nos
recorda a sua participação em Caná, por ocasião do primeiro milagre: “Nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início
aos Seus milagres“. João salienta neste Evangelho de hoje o papel
discreto e, ao mesmo tempo, eficaz da Mãe que, com a sua palavra, leva o filho
ao “primeiro sinal“. Ela, embora exerça uma influência
discreta e materna, com a sua presença resulta, no final, algo determinante. A
iniciativa da Virgem aparece ainda mais surpreendente se considerarmos a
condição de inferioridade da mulher na sociedade judaica.
Em Caná, com
efeito, Jesus não só reconhece a dignidade e o papel do gênero feminino mas,
acolhendo a intervenção de Sua Mãe, oferece-lhe a possibilidade de ser
partícipe na obra da salvação. Não contraria com esta intenção de Jesus o
apelativo “Mulher“, com o qual Ele se dirige a Maria. Ele, de
fato, não contém em si nenhuma conotação negativa e será de novo usado por
Jesus em relação à Mãe, aos pés da Cruz (cf. Jo. 19, 26). Segundo alguns
intérpretes, este título “mulher” apresenta Maria como a nova Eva, Mãe de todos
os crentes na fé.
O evangelista usa
a expressão “movida de compaixão“, deixando entender que Maria era
inspirada pelo seu coração misericordioso. Tendo notado a eventualidade da
tristeza dos esposos e dos convidados pela falta de vinho, a Virgem compadecida
sugere a Jesus que intervenha com o seu poder salvador. A alguns o pedido de Maria
parece desproporcionado, porque subordina a um ato de piedade o início dos
milagres do Messias. À dificuldade respondeu Jesus mesmo que, com o seu
assentimento à solicitação materna, demonstra a superabundância com que o
Senhor responde as expectativas humanas, manifestando também quanto pode o amor
de uma Mãe.
A expressão “dar início aos milagres” chama a nossa atenção. O termo
início, princípio, foi usado por João no prólogo do seu Evangelho: “No principio já existia o Verbo” (1, 1). Esta
coincidência induz a estabelecer um paralelo entre a primeira origem da glória
de Cristo na eternidade e a primeira manifestação da mesma glória na sua missão
terrena. Ressaltando a iniciativa de Maria no primeiro milagre e recordando
depois a sua presença no Calvário, aos pés da Cruz, o evangelista ajuda a
compreender como a cooperação de Maria se estende à inteira obra de Cristo.
O pedido da Virgem coloca-se no
interior do desígnio divino de salvação. No primeiro sinal operado por Jesus os
Padres da Igreja divisaram uma forte dimensão simbólica, acolhendo, na
transformação da água em vinho, o anúncio da passagem da antiga à nova Aliança.
Em Caná precisamente a água das jarras, destinada à purificação dos Judeus e ao
cumprimento das prescrições legais (cf. Mc. 7, 1-15), torna-se o vinho novo do
banquete nupcial, símbolo da união definitiva entre Deus e a humanidade.
O contexto de um banquete de
núpcias, escolhido por Jesus para o Seu primeiro milagre, remete ao simbolismo
matrimonial, freqüente no Antigo Testamento para indicar a Aliança entre Deus e
o Seu povo e no Novo Testamento para significar a união de Cristo com a Igreja.
A presença de Jesus em Caná
manifesta, além disso, o projeto salvífico de Deus a respeito do matrimônio.
Nessa perspectiva, a falta de vinho pode ser interpretada como alusiva à falta
de amor, que infelizmente, não raro, ameaça a união esponsal. Maria pede a
Jesus que intervenha em favor de todos os esposos, que só um amor fundado em
Deus pode libertar dos perigos da infidelidade, da incompreensão e das
divisões.
A graça do Sacramento oferece aos
esposos esta força superior de amor, que pode corroborar o empenho da
fidelidade também nas circunstâncias difíceis. Segundo a interpretação dos
autores cristãos, o milagre de Caná contém, além disso, um profundo significado
eucarístico. Realizando-o na proximidade da solenidade da Páscoa judaica, Jesus
manifesta, como na multiplicação dos pães, a intenção de preparar o verdadeiro
banquete pascal, a Eucaristia. Esse desejo, nas bodas de Caná, parece sublinhado
ainda mais pela presença do vinho, que alude ao sangue da Nova aliança, e pelo
contexto de um banquete. Desse modo Maria, depois de ter estado na origem da
presença de Jesus na festa, obtém o milagre do vinho novo, que prefigura a
Eucaristia, sinal supremo da presença do seu Filho ressuscitado entre os
discípulos.
No final da
narração do primeiro milagre de Jesus, que se tornou possível pela fé sólida da
Mãe do Senhor no seu divino Filho, o evangelista João conclui: “Os Seus discípulos acreditaram n’Ele“. Em Caná Maria
inicia o caminho da fé da Igreja, precedendo os discípulos e orientando para
Cristo a atenção dos servos. A sua perseverante intercessão encoraja, além
disso, aqueles que às vezes se encontram diante da experiência do “silêncio de
Deus”. Eles são convidados a esperar para além de toda a esperança, confiando
sempre na bondade do Senhor.
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