8 Novembro 2017
Lectio
Primeira
leitura: Romanos 13, 8-10
Caríssimos,
não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser isto: amar-vos uns aos outros.
Pois quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. 9De facto: Não cometerás
adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, bem como qualquer outro
mandamento, estão resumidos numa só frase: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo. 10O amor não faz mal ao próximo. Assim, é no amor que está o pleno
cumprimento da lei.
Há uma
dívida que jamais havemos de nos cansar de pagar: o amor recíproco. O amor
resume os mandamentos e é o pleno cumprimento da lei (cf. v. 9). Paulo dedica
um largo espaço a avaliar criticamente a função da lei. Mas, para que a justiça
da lei se cumpra, há um só caminho, o amor gratuito de Cristo, que veio
exactamente para cumprir e não para abolir. Este amor não fecha os olhos diante
das «rivalidades e contendas» (1 Cor 3, 3), mas não paga o mal com o mal, nem
se deixa vencer por ele, mas vence-o com o bem. Cristo deu-nos exemplo desse
amor. Devemos conformar-lhe a nossa vida, para podermos participar na plenitude
de Deus. Uma vez que Cristo resume e cumpre a lei, é também Ele que resume e
cumpre a nossa humanidade.
Evangelho:
Lucas 14, 25-33
Naquele
tempo, seguiam com Jesus grandes multidões; ele, voltando-se para elas,
disse-lhes: 26«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai,
à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até
à própria vida, não pode ser meu discípulo. 27Quem não tomar a sua cruz para me
seguir não pode ser meu discípulo. 28Quem dentre vós, querendo construir uma
torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a
concluir? 29Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo
acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, 30dizendo: ‘Este homem
começou a construir e não pôde acabar.’ 31Ou qual é o rei que parte para a
guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível
com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? 32Se não
pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz.
33Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser
meu discípulo.»
Depois de
deixar a casa do fariseu, Jesus encontra-se com a multidão. E o seu discurso
torna-se mais íntimo e radical. No texto de hoje, temos duas parábolas (vv.
28-32), precedidas (vv. 25-27) e seguidas por dois convites à renúncia (v. 33).
Ambas as parábolas convidam à reflexão antes de empreender qualquer iniciativa,
para nos darmos conta se temos capacidade para as terminar. Há que evitar a
ligeireza e a temeridade. Uma vez que se decidiu, também é preciso avançar com
fidelidade: um fracasso devido à indecisão ou à saudade seria imperdoável.
Também o seguimento de Jesus, no caminho que o leva decididamente para
Jerusalém e para o Calvário, é uma empresa muito exigente pela qual é preciso
jogar toda a vida. É sobre esta realidade que se fundamenta o convite inicial e
final desta página evangélica, onde lemos uma das mais radicais exigências de
Jesus.
“Odiar” o pai e a mãe, carregar a cruz e seguir Jesus, renunciar a todos os bens (vv. 26s., e 33), são algumas das exigências que não deixam margem para dúvidas. Pelo contrário, o seu carácter paradoxal fere a nossa sensibilidade e leva-nos a gritar de escândalo. Mas isso seria um modo, mais ou menos elegante, de nos subtrairmos ao convite de Jesus, para continuarmos a fazer o que nos é mais fácil.
“Odiar” o pai e a mãe, carregar a cruz e seguir Jesus, renunciar a todos os bens (vv. 26s., e 33), são algumas das exigências que não deixam margem para dúvidas. Pelo contrário, o seu carácter paradoxal fere a nossa sensibilidade e leva-nos a gritar de escândalo. Mas isso seria um modo, mais ou menos elegante, de nos subtrairmos ao convite de Jesus, para continuarmos a fazer o que nos é mais fácil.
Meditatio
«Quem ama o
próximo cumpre plenamente a lei… qualquer outro mandamento, está resumido numa
só frase: Amarás o teu próximo como a ti mesmo..» (v. 10). Caminhar para esta
meta e atingi-la, enche-nos de alegria e de gratidão para com Deus. O
evangelho, que hoje escutamos, insiste na lei do amor: «Se alguém vem ter
comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus
filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu
discípulo» (v. 26). Esta exigência de Jesus, em algumas traduções, está
expressa com o verbo “odiar”: «Se alguém vem ter comigo e não odeia o seu pai…
não pode ser meu discípulo». Ficamos confusos: será que, para amar, é preciso
odiar. A actual tradução parece melhor: Não se trata de odiar alguém, mas de
amar mais a Jesus, de amá-lo acima de tudo e todos. Só assim se pode ser seu
discípulo. Posta a questão em termos de amor, muitos terão ficado
entusiasmados, julgando que se tratava de coisa fácil, ao alcance de todos. Mas
Jesus tira-nos todas as ilusões. Voltando-se para as multidões O seguiam, Jesus
disse-lhes «Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai… não
pode ser meu discípulo» (v. 26). Para ser discípulo, não basta um amor
qualquer. Jesus exige um amor muito forte, um amor decidido, disposto a opções
nem sempre fáceis. Por isso, há que calcular bem as nossas capacidades, antes
de tomar a decisão de se tornar discípulo do Senhor. Jesus ilustra essa
necessidade com duas comparações: a de alguém quer pretende construir uma
torre, e se põe a calcular se tem com que a concluir, e a de alguém que se
prepara para a guerra e calcula se tem homens e armas suficientes para alcançar
a vitória. E conclui: «Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que
possui, não pode ser meu discípulo» (v. 33). Encontramo-nos perante um dilema
entre o amor e o desapego. Se pensarmos bem, Jesus, ao dar-nos a lei do
desapego, dá-nos as condições para o verdadeiro amor. Não se trata de renunciar
a todo o amor, mas ao amor possessivo. De facto, Jesus pede-nos para O amarmos
mais que ao pai e restante família, e mais do que à nossa própria vida (cf. v.
26). Jesus percorreu, antes de nós, esse caminho do desapego, e deu-nos exemplo
do verdadeiro amor, capaz de todos os sacrifícios, um amor que leva ao dom da
própria vida e aceita a humilhação para realizar os desígnios de Deus. Viver um
tal amor está para além das nossas forças humanas. Mas Jesus convida-nos a
procurar esse amor, e a força para o viver, no seu próprio coração. Com o
Coração de Jesus, podemos amar como Ele amou.
Oratio
Senhor, só a
tua graça me pode permitir experimentar um amor semelhante àquele que
demonstras por mim. O amor que me propões é maior que o oceano, cujos limites
desconheço, e que me parece impossível de sulcar. As tuas propostas são claras,
e sem qualquer engano. Também não queres que me engane a mim mesmo, c
om os meus entusiasmos fáceis. Ajuda-me a reflectir antes de Te dizer: «Eis-me aqui!». Apoia-me com a tua graça. Tu queres-me protagonista responsável da minha própria história. Só o teu amor me torna pessoa humana. Só o teu amor me dá a plenitude que tanto procuro, o amor que aprendo de Ti, ao seguir-te como discípulo, o amor com que procuro amar os meus irmãos. Obrigado, Senhor! Amen.
om os meus entusiasmos fáceis. Ajuda-me a reflectir antes de Te dizer: «Eis-me aqui!». Apoia-me com a tua graça. Tu queres-me protagonista responsável da minha própria história. Só o teu amor me torna pessoa humana. Só o teu amor me dá a plenitude que tanto procuro, o amor que aprendo de Ti, ao seguir-te como discípulo, o amor com que procuro amar os meus irmãos. Obrigado, Senhor! Amen.
Contemplatio
«Em verdade
vos digo, responde Nosso Senhor, para vós que deixastes tudo e que me
seguistes, quando no dia da regeneração o filho do homem estiver sentado sobre
o trono da sua glória, também vós estareis sentados sobre doze tronos para
julgardes as doze tribos de Israel; e ninguém terá deixado casa, irmãos, irmãs,
ou pai, mãe, mulher ou filhos, ou terras por minha causa, que não receba cem
vezes e muito mais neste mundo, com perseguições, e no século que há-de vir, a
vida eterna». Desde esta vida, as almas desapegadas encontram o cêntuplo. Deus
faz-se o seu pai e Maria a sua Mãe. Encontram irmãos e irmãs naqueles que
fizeram como eles. Estas almas são felizes mesmo nas perseguições e nas
tribulações: felizes por tudo darem, por tudo sofrerem, por se assemelharem
mais completamente ao Bom Mestre; felizes por suportarem como Ele o ódio e a
perseguição. Mas será no céu sobretudo que a sua recompensa será grande. O
sacrifício que fizeram dá-lhes o direito de entrarem. É uma segurança para a
eternidade; e lá em cima julgarão com Nosso Senhor aqueles que ficaram
agarrados aos bens do mundo, aqueles que conservaram uma alma partilhada e toda
manchada de concupiscências. Ambicionemos a via estreita. Bem poucos têm a
coragem de nela se empenharem, diz Nosso Senhor; peçamos-lhe o favor de sermos
desses. (Leão Dehon, OSP 4, p. 106s.).
Actio
Repete
muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Se alguém não me tem mais amor que ao seu pai e família,
não pode ser meu discípulo» (Cf. Lc 14, 26).
«Se alguém não me tem mais amor que ao seu pai e família,
não pode ser meu discípulo» (Cf. Lc 14, 26).
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