Tempo
Comum – Anos Ímpares – VII Semana – Quinta-feira
23
February 2017
Lectio
Primeira
leitura: Ben Sirá 5, 1-10 (gr 1-8)
Não
te fies nas tuas riquezas, e não digas: «Tenho suficiente para mim.» 2Não sigas
os teus desejos e a tua força, indo atrás das paixões do coração. 3Não digas:
«Quem terá poder sobre mim?», porque o Senhor te punirá certamente. 4Não digas:
«Pequei, e que me aconteceu de mal?», porque o Senhor é lento em castigar. 5Não
vivas confiado no perdão, acumulando pecado sobre pecado. 6Não digas: «A
misericórdia do Senhor é grande, Ele terá compaixão da multidão dos meus
pecados!», porque nele a misericórdia e a ira caminham juntas; e o seu furor
cairá sobre os pecadores. 7Não tardes em te converter ao Senhor, não adies, de
dia para dia, porque a ira do Senhor virá de repente, e Ele te fará perecer no
dia do castigo. 8Não confies em riquezas injustas, pois de nada te servirão no
dia da desventura.
O
sábio apercebe-se da vacuidade de tantas atitudes e comportamentos, que minam a
vida e inquinam a existência. Por isso, avisa os ingénuos, para que não caiam
em armadilhas que causam a morte. Alguns gabam-se de ter feito o mal e de nada
lhes ter acontecido. A verdade é que, «a misericórdia e a ira do Senhor
caminham juntas», e que, mais cedo ou mais tarde, «o seu furor cairá sobre os
pecadores» (v. 6). É melhor estar bem informados, antes que seja tarde demais.
Segue-se um decálogo negativo, que pretende barrar o caminho a decisões
perigosas: «não digas… não sigas… não vivas… não tardes… não adies… não
confies…». Estas proibições podem agrupar-se tematicamente à volta dos temas da
riqueza, da força, da presunção diante de Deus. O esquema repete-se. É preciso
ter cuidado em não dar excessivo valor às riquezas. Uma riqueza desonesta não
garante o futuro (cf. v. 8). Também não vale a pena usar a força com
prepotência: «o Senhor te punirá certamente» (v. 3b). Pecar de modo arrogante,
e confiar levianamente no perdão de Deus, esquecendo o dever do arrependimento
e da conversão, é tolice. O sábio não se cansa de pregar todas estas verdades.
Há que tomar em atenção as suas avisadas palavras, porque elas, e a
misericórdia de Deus, são preciosos instrumentos de renovação da nossa vida.
Evangelho:
Marcos 9, 41-50
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «quem for que vos der a beber um copo
de água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua
recompensa.» 42«E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim,
melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas
pelos jumentos, e lançarem-no ao mar. 43Se a tua mão é para ti ocasião de
queda, corta-a; mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos,
ires para a Geena, para o fogo que não se apaga, 44onde o verme não morre e o
fogo não se apaga. 45Se o teu pé é para ti ocasião de queda, corta-o; mais vale
entrares coxo na vida, do que, com os dois pés, seres lançado à Geena, 46onde o
verme não morre e o fogo não se apaga. 47E se um dos teus olhos é para ti
ocasião de queda, arranca-o; mais vale entrares com um só no Reino de Deus, do
que, com os dois olhos, seres lançado à Geena, 48onde o verme não morre e o
fogo não se apaga. 49Todos serão salgados com fogo. 50O sal é coisa boa; mas,
se o sal ficar insosso, com que haveis de o temperar? Tende sal em vós mesmos e
vivei em paz uns com os outros.»
Jesus
continua a sua caminhada para Jerusalém e chega a Cafarnaúm. Marcos insere aqui
uma colecção de ensinamentos sobre o discipulado, aparentemente desligados
entre si. Mas neles encontramos algumas palavras-chave que os ligam uns aos
outros: a expressão «em nome» de Cristo, ou «por serdes de Cristo» (v. 41), já
fora anunciada no v. 37; o termo «escândalo» (v. 42) antecipa a secção seguinte
(vv. 43-48); a sentença conclusiva do «sal» (v. 50) apela para o versículo
anterior.
No texto que escutamos, Jesus começa a tratar do acolhimento, apontando alguns gestos simples, feitos em seu nome, porque é Ele que dá significado às acções humanas, e lhes confere valor de eternidade (v. 41). Depois, fala do escândalo: quem põe obstáculos àqueles que ainda são frágeis na fé, merece uma pena severa. Nos vv. 43-47, Marcos adopta a linguagem paradoxal para indicar a radicalidade e a dureza do juízo: é melhor sacrificar os órgãos vitais do que aderir ao pecado e cair na condenação eterna.
As imagens do sal e do fogo servem para retomar o tema do sacrifício de si mesmo em vista da preservação ou da purificação do pecado. A sabedoria de Cristo deve dar sabor a todas as nossas acções; o fogo do amor deve arder sempre para pôr a nossa vida ao serviço da comunhão. É preciso dispor-se a perder… para tudo ganhar: «quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la» (Mc 8, 35).
No texto que escutamos, Jesus começa a tratar do acolhimento, apontando alguns gestos simples, feitos em seu nome, porque é Ele que dá significado às acções humanas, e lhes confere valor de eternidade (v. 41). Depois, fala do escândalo: quem põe obstáculos àqueles que ainda são frágeis na fé, merece uma pena severa. Nos vv. 43-47, Marcos adopta a linguagem paradoxal para indicar a radicalidade e a dureza do juízo: é melhor sacrificar os órgãos vitais do que aderir ao pecado e cair na condenação eterna.
As imagens do sal e do fogo servem para retomar o tema do sacrifício de si mesmo em vista da preservação ou da purificação do pecado. A sabedoria de Cristo deve dar sabor a todas as nossas acções; o fogo do amor deve arder sempre para pôr a nossa vida ao serviço da comunhão. É preciso dispor-se a perder… para tudo ganhar: «quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la» (Mc 8, 35).
Meditatio
O
sábio da primeira leitura adverte-nos que não se pode brincar com a vida porque
só temos uma. Há comportamentos que têm as suas consequências. Há caminhos sem
regresso. Ben Sirá insiste numa educação preventiva: mostra o engano de certas
opções e, indirectamente, aponta o caminho certo. A riqueza, por exemplo, não é
um baluarte inexpugnável. Por isso, não convém pôr nela uma confiança cega e
absoluta.
O discurso de Jesus, que escutamos no evangelho de hoje, não é menos severo. Se não devemos ser fundamentalistas, aplicando-o literalmente, não podemos menosprezar-lhe o conteúdo. Se não devemos lançar-nos ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço, se não devemos cortar à machada a mão ou o pé, ou arrancar um dos olhos, não podemos hesitar diante de algumas privações exigidas em vista do nosso progresso espiritual. A palavra de Jesus alerta-nos para a falta de coerência em que facilmente caímos, e lembra-nos a verdade do que lemos na Carta aos Hebreus: «a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração» (Heb 4, 12). A palavra de Deus é um verdadeiro bisturi. Como o médico o usa para salvar o seu doente, assim Jesus usa a sua palavra para salvar a nossa vida: «mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena» (v. 43). A intenção de Jesus, expressa em linguagem metafórica, é positiva: quer libertar-nos, quer dar-nos a vida! Cada um deve discernir o que precisa de cortar para “entrar na vida”. Para uns ser&aacut
e; uma relação ambígua, para outros certos espectáculos ou leituras, para outros ainda o modo como tentam ganhar espaço no campo da política, ou tentam acumular dinheiro… A estes últimos S. Tiago lembra que as riquezas podem constituir um grande perigo: «E agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós» (Tg 5, 1-3ª.) O apóstolo chega mesmo ao sarcasmo: «Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia da matança!» (Tg 5, 5).
Escutemos as palavras do Sábio, as palavras do Apóstolo e, principalmente, as palavras de Jesus. Não façamos como a avestruz que, ao ver o perigo, enterra a cabeça na areia.
Como religiosos, devemos dar um testemunho claro de pobreza afectiva e efectiva no nosso mundo tão marcado por uma mentalidade materialista e paganizante. Não é um testemunho fácil, porque não se reconhece o valor da pobreza evangélica. Mas é necessário. Sem ele, podem ficar ofuscados outros ideais evangélicos! Mais do que negar o valor das coisas, a nossa pobreza é uma afirmação do valor supremo que é Deus. «Só Deus», repetia Rafael Arnaiz, monge trapista recentemente canonizado.
O discurso de Jesus, que escutamos no evangelho de hoje, não é menos severo. Se não devemos ser fundamentalistas, aplicando-o literalmente, não podemos menosprezar-lhe o conteúdo. Se não devemos lançar-nos ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço, se não devemos cortar à machada a mão ou o pé, ou arrancar um dos olhos, não podemos hesitar diante de algumas privações exigidas em vista do nosso progresso espiritual. A palavra de Jesus alerta-nos para a falta de coerência em que facilmente caímos, e lembra-nos a verdade do que lemos na Carta aos Hebreus: «a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração» (Heb 4, 12). A palavra de Deus é um verdadeiro bisturi. Como o médico o usa para salvar o seu doente, assim Jesus usa a sua palavra para salvar a nossa vida: «mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena» (v. 43). A intenção de Jesus, expressa em linguagem metafórica, é positiva: quer libertar-nos, quer dar-nos a vida! Cada um deve discernir o que precisa de cortar para “entrar na vida”. Para uns ser&aacut
e; uma relação ambígua, para outros certos espectáculos ou leituras, para outros ainda o modo como tentam ganhar espaço no campo da política, ou tentam acumular dinheiro… A estes últimos S. Tiago lembra que as riquezas podem constituir um grande perigo: «E agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós» (Tg 5, 1-3ª.) O apóstolo chega mesmo ao sarcasmo: «Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia da matança!» (Tg 5, 5).
Escutemos as palavras do Sábio, as palavras do Apóstolo e, principalmente, as palavras de Jesus. Não façamos como a avestruz que, ao ver o perigo, enterra a cabeça na areia.
Como religiosos, devemos dar um testemunho claro de pobreza afectiva e efectiva no nosso mundo tão marcado por uma mentalidade materialista e paganizante. Não é um testemunho fácil, porque não se reconhece o valor da pobreza evangélica. Mas é necessário. Sem ele, podem ficar ofuscados outros ideais evangélicos! Mais do que negar o valor das coisas, a nossa pobreza é uma afirmação do valor supremo que é Deus. «Só Deus», repetia Rafael Arnaiz, monge trapista recentemente canonizado.
Oratio
Senhor,
ilumina-me com a tua palavra, por vezes mais dura e penetrante, que uma espada
de dois gumes. Faz-me reconhecer a minha real situação espiritual, e acolher os
teus avisos, que apenas têm em vista a plenitude de vida a que me chamas.
Faz-me decidido e vigoroso na luta contra as tentações e na renúncia radical às
ocasiões de pecado. Dá-me coragem para cortar tudo quanto dificulta ou impede
caminhar Contigo e para Ti, que és o meu Bem, o meu Supremo Bem. Amen.
Contemplatio
Nosso
Senhor disse: «Mais vale perder o membro que escandaliza do que ser lançado no
fogo eterno» (Mt 3, 12). S. Marcos completa o mesmo discurso acrescentando que
na Geena o verme roedor não morre e o fogo não se extingue (c. IX). Nosso
Senhor deixou-nos, aliás, a fórmula do juízo: «Ide, malditos, para o fogo
eterno» (Mt 25, 41). Podia Ele falar mais claramente e podemos nós lealmente
pôr em dúvida o seu pensamento? A condenação e o fogo eterno, esta é a sorte do
pecador que negligencia converter-se enquanto tem tempo para isso. Preservai-me,
Senhor, desta horrível sorte; ser privado de vós, viver com os demónios e os
homens mais viciados, sofrer o fogo com eles: não basta esta perspectiva para
me dar o horror do pecado?» (Leão Dehon, OSP 4, p. 510s.).
Actio
Repete
frequentemente e vive hoje a palavra:
«O Senhor conhece o caminho dos justos,
mas o caminho dos ímpios conduz à perdição» (Sl 1, 6).
«O Senhor conhece o caminho dos justos,
mas o caminho dos ímpios conduz à perdição» (Sl 1, 6).
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Subsídio
litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj
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