Domingo, 11 de
Dezembro de 2016
Tema: 3º Domingo do Advento
Isaías 35, 1-6a.10 É o próprio Deus que vem para
vos salvar.
Salmo 145(146) Vinde Senhor, para salvar o vosso
povo!
Tiago 5, 7-10 Fortalecei vossos corações porque a
vinda do Senhor está próxima.
Mateus 11,2-11 És tu aquele que há de vir ou
devemos esperar um outro?
2Tendo João, em sua prisão, ouvido falar das obras
de Cristo, mandou-lhe dizer pelos seus discípulos:3Sois vós aquele que deve
vir, ou devemos esperar por outro? 4Respondeu-lhes Jesus: Ide e contai a João o
que ouvistes e o que vistes: 5os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são
limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos
pobres...6Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda! 7Tendo
eles partido, disse Jesus à multidão a respeito de João: Que fostes ver no
deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8Que fostes ver, então? Um homem vestido
com roupas luxuosas? Mas os que estão revestidos de tais roupas vivem nos
palácios dos reis. 9Então por que fostes para lá? Para ver um profeta? Sim,
digo-vos eu, mais que um profeta. 10É dele que está escrito: Eis que eu envio
meu mensageiro diante de ti para te preparar o caminho (Ml 3,1). 11Em verdade
vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João
Batista. No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele.
Comentário
As leituras do profeta Isaías e do
apóstolo Tiago, coincidem na mensagem: vale a pena esperar, é preciso esperar,
devemos esperar porque o nosso Deus vem, em pessoa ... É preciso ter paciência,
porque é iminente sua chegada, ele já está à porta... Não podemos duvidar
desta forma de propor a esperança, de vivê-la, porém hoje duvidamos se essa
proposta serve realmente para nós. Este motivo clássico do fundamento da
esperança, de alguém que vem, que vai irromper de forma iminente em nossa vida,
que nossa esperança consista em “esperar” (de espera, não de esperança) sua
chegada... tudo isso não é mais plausível.
Esse esquema conceitual da volta de Deus
(segunda vinda) que selará o fim do mundo; que estaríamos em um tempo
intermediário, incerto e ameaçado pela espada pendente (de Dâmocles), da
surpresa divina que vai chegar como a visita do ladrão, essa imagem foi muito
poderosa e no passado atraiu a atenção de muitas gerações, porém para os dias
de hoje começa a não funcionar.
Essa ideia da espera que Deus vai chegar
e castigar os maus... e assim “colocar as coisas no seu lugar” e vingar as
maldades dos que nos prejudicaram... provavelmente foi muito efetiva em outro
tempo, como o foi na pedagogia tudo que se referia aos prêmios e castigos, às
boas e más notas, porém, hoje, poucas mentes lúcidas aceitam uma pedagogia
infantil, atribuída ao mistério existencial do ser humano.
Aquelas reações tinham como suporte uma
compreensão do mundo, fundamentalmente religiosa, inserida no mundo religioso:
um “plano de Deus” que consistia na provação do ser humano a fim de levá-lo à
outra vida, melhor ou pior, segundo o merecimento de prêmio ou castigo. Nesse
“pequeno mundo”, nessa cosmovisão religiosa, que durante milênios ocupou o
magistério, funcionava ao falar de uma segunda vinda, de um Deus que prova o
ser humano, da ameaça que supõe a possível surpresa de Deus que vem e irrompe
no mundo para finalizá-lo e inaugurar o eón dos prêmios e
castigos. Esse imaginário religioso (tradicional, antigo, milenário...) está se
esgotando, desaparecendo com as gerações mais adultas, esvanecendo-se e
perdendo vivacidade e plausibilidade nas gerações médias, e sendo rejeitada
pelas gerações jovens. A transmissão desse tipo de fé está sendo interrompida.
No novo imaginário ou cosmovisão, que
muitos estamos adquirindo, fundamentada na nova imagem que a cosmologia e o
conjunto atual das ciências nos oferecem, já não cabe conceber a realidade tão
“antropocentricamente” como se tudo consistisse e tudo se reduzisse a “um plano
que Deus fez para provar o ser humano”. Ao ser humano atual não cabe mais uma
espiritualidade que afirma a centralidade do cosmos e que este cosmos “foi
criado simplesmente para servir de cenário para o drama humano e sua salvação
ultraterrena... E não aceita tampouco que o mistério tão respeitável do além
seja associado com e posto a serviço da ameaça de castigos ou da promessa de
prêmios...
É possível ser cristão sem aceitar este
imaginário? Se estamos decididos a purificar nossa esperança, nossa cosmovisão
religiosa global daquelas imagens próprias de um tempo que já não é o nosso,
podemos sim ser cristãos.
Nessa realidade o que importa é o
conteúdo profundo, a experiência espiritual, a dimensão de esperança, não o
suporte de categorias, esquemas mentais, cosmovisões apocalípticas ou esquemas
de concepção do tempo lançados por nossos antepassados. O cristianismo, ao
longo da história, já abandonou muitas imagens que no seu tempo foram comuns,
mas que logo se tornaram obsoletas e que finalmente se tornam inaceitáveis.
Durante muitos séculos o predomínio do pensamento estático, o pressuposto da
a-historicidade e a negação do caráter evolutivo de tudo, tentou fazer-nos
pensar que não podemos mudar nada, que devemos crer ao pé da letra tudo que
nossos antepassados disseram, sem ter vivido a sua experiência profunda e que
nada pode ser inovado. Porém, a mesma história está aí para mostrar o contrário
para quem sabe e quer ver. E também está aí o presente: já são muitos os
cristãos que “creem de outra maneira”.
O evangelho de Mateus apresenta a
chamada “prova messiânica”. João, o Batista, do cárcere manda emissários para
perguntar a Jesus se ele é o esperado ou se devem esperar outro. Jesus não
responde com provas teológicas, nem com citações bíblicas apologéticas, ou com
dogmas ou doutrinas, mas remete e aos cegos que veem, os inválidos que andam,
os leprosos que ficam limpos... e aos pobres se lhes anuncia o evangelho, a Boa
Notícia. Estes fatos, essa boa notícia, é a prova da identidade do Messias. E
deverá ser também a prova de identidade de quem segue o Messias, o Cristo, ou
seja, os cristãos. Se nossa vida produz esses mesmos fatos, se somos “boa
notícia para os pobres”, somente então estaremos sendo seguidores daquele
Messias, do Cristo, ou seja, estaremos sendo realmente cristãos.
Oração
Ó Deus, bom Pai,ao aproximar-se a celebração da
festa do Natal, nós te pedimos que aumente nossa esperança, para que nunca
desistamos do esforço por criar um mundo no qual o amor seja possível. Nós te
pedimos por Jesus de Nazaré, filho teu e irmão nosso, cujo nascimento nos
apressamos em celebrar. Amém.
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