20 de Fevereiro - Sábado - Evangelho - Mt 5,43-48
É assim que prefiro chamar o amor de Deus. Aquele que passa por cima do ódio que deveríamos sentir pelos nossos inimigos: «Vocês ouviram o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.” Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu». Nestas palavras de Jesus está a perfeição do amor.
Jesus
hoje nos exorta longamente para que respondamos ao ódio com amor. Este texto,
aparecendo nessa situação, ajuda-nos a compreender, que Mateus vê no amor aos
adversários, a característica específica dos discípulos de Cristo.
As
palavras de Jesus indicam duas maneiras de viver:
A
primeira é a dos que se comportam sem referência a Deus e sua Palavra. Esses
agem em relação aos outros em função da maneira como eles os tratam, a sua
reação é de fato uma reação. Dividem o mundo em dois grupos, os amigos e os que
não o são, e fazem prova de bondade só em relação aos que são bons para eles.
A
segunda forma de viver não põe em primeiro lugar um grupo de homens, mas sim o
próprio Deus. Deus, por seu lado, não reage de acordo com a maneira como o
tratam; pelo contrário, «Ele é bom até para os ingratos e os maus» (Lucas
6,35).
Jesus
chama assim a atenção para a característica essencial do nosso Deus. Fonte
transbordante de bondade, Deus não se deixa condicionar pela maldade de quem
está à sua frente. Mesmo esquecido, mesmo injuriado, Deus continua fiel a si
próprio, só pode amar. Isto é verdadeiro desde a primeira hora. Diferentemente
dos homens, Deus está sempre pronto a perdoar: «Os meus planos não são os
vossos planos, os vossos caminhos não são os meus caminhos» (Isaías 55,7-8). O
profeta Oseias, por seu lado, ouve o Senhor dizer-lhe: «Não desafogarei o furor
da minha cólera… porque sou Deus e não um homem» (Oseias 11,9). Numa palavra, o
nosso Deus é misericordioso (Êxodo 34,6; Salmo 86,15; 116,5 etc.), «não nos
trata de acordo com os nossos pecados, nem nos castiga segundo as nossas
culpas» (Salmo 103,10).
A grande
novidade do Evangelho não é tanto o fato de que Deus é Fonte de bondade, mas
que os homens podem e devem agir à imagem do seu Criador: «Sede
misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso!» (Lucas 6,36). Através da
vinda do seu Filho até nós, esta Fonte de bondade está agora acessível.
Tornamo-nos, por nosso lado, «filhos do Altíssimo» (Lucas 6,35), seres capazes
de responder ao mal com o bem, ao ódio com amor. Vivendo uma compaixão
universal, perdoando aos que nos fazem mal, damos testemunho de que o Deus de
misericórdia está no coração de um mundo marcado pela recusa do outro, pelo
desprezo em relação àquele que é diferente.
Impossível para os humanos entregues às suas
próprias forças, o amor pelos inimigos testemunha a atividade do próprio Deus
no meio de nós. Nenhuma ordem exterior o torna possível. Só a presença, nos
nossos corações, do amor divino em pessoa, o Espírito Santo, permite amar
assim. Este amor é uma conseqüência direta do Pentecostes. Não é em vão que
Estêvão, «cheio do Espírito Santo» termine com estas palavras: «Senhor,
não lhes atribuas este pecado.» (Actos 7,60)
Como
Jesus, o verdadeiro discípulo faz com que a luz do amor divino brilhe no país
sombrio da violência como é o nosso Brasil.
Este
amor, longe de ser um simples sentimento, reconcilia as oposições e cria uma
comunidade fraterna a partir dos mais diversos homens e mulheres, da vida desta
comunidade sai uma força de atração que pode agitar os corações. É este o amor
que eu chamo de perfeito, o amor que perdoa até aqueles que nos podem tirar a
vida.
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