3 de Fevereiro- Quarta -
Evangelho - Mc 6,1-6
Evangelho -
Mc 6,1-6
O evangelista Marcos narra que Jesus foi para “sua própria terra”, isto é, para sua cidade de origem, a cidade de sua família, Nazaré. Para Marcos, esta é a última vez que Jesus vai a Nazaré. É também a última vez que entra numa sinagoga, lugar onde os judeus se reuniam aos sábados para ouvir a Palavra de Deus e rezar. No início, quem se admira são os ouvintes. Porém a admiração não os leva à fé em Jesus, e sim a rejeitá-lo. No final desse Evangelho é Jesus quem se admira com a falta de fé do povo daquele lugar. Essa falta de fé no homem-Jesus impede a realização de milagres, isto é, o Reino acaba não acontecendo em Nazaré.
Marcos
dá a entender que o povo estava cansado com esse costume. De fato, quando Jesus
entra pela primeira vez numa sinagoga e começa a ensinar libertando (cf.
1,21-28), o povo gosta desse novo ensinamento dado com autoridade (cf. 1,27).
Em
Nazaré, terra de Jesus, as coisas tomaram rumo diferente. É que Jesus não havia
frequentado nenhuma escola de ensino das Escrituras, não fizera nenhuma
especialização. Além disso, seu ensinamento é acompanhado de uma prática que
liberta as pessoas de qualquer tipo de opressão ou marginalização. Marcos não
consegue mostrar Jesus ensinando sem libertar. Mais ainda: seu ensinamento é
uma prática que liberta.
Em
Nazaré, num dia de sábado, Jesus está ensinando na sinagoga. Mais uma vez o
evangelista não diz o que Jesus ensina. Nós não precisamos de explicações, pois
conhecemos que tipo de ensinamento é o de Jesus.
O
povo que está na sinagoga manifesta sua perplexidade e descrédito em relação a
Jesus. A primeira e a segunda levantam suspeita e ceticismo: “De onde ele
recebeu tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria?” Por trás dessas objeções
está o início da rejeição de Jesus enquanto o Messias. Naquele tempo
especulavam muito sobre a origem do Messias. E a conclusão a que chegaram era
esta: “Nós sabemos de onde vem esse Jesus, mas, quando chegar o Messias,
ninguém saberá de onde ele vem” (Jo 7,27). Jesus, portanto, não poderia ser o
Messias, pois sua origem era conhecida por todos. Além disso, para os
conterrâneos de Jesus é impossível “fazer teologia” sem passar pela escola dos
doutores da Lei e fariseus.
A
terceira pergunta levanta suspeitas sobre quem age por meio de Jesus: “E esses
grandes milagres que são realizados por suas mãos?” Um pouco antes, alguns
doutores da Lei afirmavam que o chefe dos demônios agia em Jesus, levando-o a
expulsar demônios. O povo de Nazaré deixa transparecer essa mentalidade.
A
última pergunta sintetiza todas as anteriores: “Esse homem não é o carpinteiro,
o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não
moram aqui conosco?” É uma pergunta desmoralizante e debochada. Quando se
queria desprezar alguém, bastava substituir o nome do pai pelo da mãe. Por
isso, a expressão “filho de Maria” (a não ser que José já tivesse morrido), é
altamente depreciativa. E a conclusão é muito simples: “Ficaram escandalizados
por causa dele”, isto é, seus conterrâneos o rejeitaram.
Jesus,
portanto, foi rejeitado porque se apresentou como um trabalhador que cresceu em
Nazaré ao lado de parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não
descobriram nele nada de extraordinário que pudesse indicá-lo como o Messias de
Deus. Mas a extraordinariedade de Jesus-Messias está justamente aí, na
encarnação, no fato de não ter nada que possa diferir da condição humana comum.
O Filho de Deus se fez como qualquer um de nós, e aqui está o nó da questão.
Muitos afirmam que não crêem porque não vêem. Os conterrâneos de Jesus não
crêem justamente porque vêem Jesus trabalhador, o filho de Maria, um homem do
povo, que não freqüentou nenhuma escola superior, um homem que vem de Nazaré,
lugarejo insignificante.
O
escândalo da encarnação continua sendo um espinho atravessado na garganta de
muito cristão de boa vontade. Por se encarnar nas realidades humanas,
Jesus-Messias foi rejeitado. Isso faz pensar no desafio que é a encarnação do
evangelho na realidade do povo. Ficaremos paralisados como os conterrâneos de
Jesus?
Pai
abre minha mente e meu coração, para que eu possa compreender que tu te serves
de meios humanamente modestos para realizar as tuas maravilhas.
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