03 de janeiro - quinta feira
Quinta Feira do tempo do Natal 03/01/2013
1ª Leitura 1Jo 2,29-3,6
Salmo 97 (98) “Os Confins
do Universo contemplaram a Salvação do nosso Deus”
Evangelho João 1, 29-34
"O FRÁGIL
CORDEIRO DE DEUS..." –Diac. José da Cruz
Houve um tempo na
minha infância, em que os Reis do Ringue influenciavam nossas brincadeiras e
disputava-se em duplas, fazendo do campinho de final de rua, nosso ringue
improvisado. Havia um garoto novo, mas muito encorpado, e além do mais com uma
agilidade incrível para lutar, quem lutava ao seu lado, saia-se vencedor. Nós
éramos franzinos e ele era sempre o destaque, considerado forte, sempre com
pose de campeão.
Quando as lutas
eram com algum menino de outro bairro, para intimidar o adversário, o
apontávamos como o grande campeão e vencedor nato, e assim, por muito tempo foi
considerado o melhor lutador da região, ninguém ousava enfrentá-lo.
João Batista
aponta aos discípulos e demais seguidores, o grande Messias, o esperado por
todos, o Ungido de Deus e revestido de todo poder, mas o título que lhe confere
deve ter provocado risos em alguns mais céticos: Cordeiro de Deus ! Poderia
utilizar-se de um título mais condizente com o poder do Messias, quem sabe Leão
ou até mesmo Urso, animal forte e poderoso entre os demais, com força descomunal.
Mas Cordeiro era
motivo até para chacota, pois o cordeiro é frágil, indefeso, incapaz de
qualquer reação diante dos que atentam contra sua vida. Quanto á sua ação de
“tirar o pecado do mundo”, esperava-se alguém que acabasse definitivamente com
os maus, premiasse os bons e eliminasse todas as forças do mal, não muito
diferente de hoje, quando diante do quadro triste de um mundo marcado por tanto
pecado, muitos nutrem no coração, a falsa esperança de que Jesus venha nas
nuvens para desmascarar o Mal e fazer triunfar o Bem. Seria assim a vingança
dos bons e justos, ver os maus serem esmagados e aniquilados por Jesus
triunfante e glorioso. Acredita-se que o traidor Judas, no fundo pensava em uma
“virada” na situação e por isso entregou Jesus aos seus inimigos, para
deliciar-se ao ver a reação der Jesus na hora “H”. Esse pensamento equivocado
prevaleceu até na hora derradeira quando entre outros insultos se dizia “Se és
de fato o Messias, desce da cruz agora...”
Não é errado
pensarmos desse modo, diante do Poder e Perfeição de Deus, e de nossas
fragilidades, até João Batista tinha uma compreensão messiânica rigorosa e
severa, vivia falando em fogo que devora, em palha que iria ser queimada quando
o Reino se instalasse, para que os maus tremessem na base e se convertessem.
Mas no evangelho
de hoje, parece que “caiu a ficha” de João, duas vezes ele declara que não
conhecia Jesus, e que chegou a esse conhecimento porque Aquele que o tinha
enviado para Batizar, o revelara.
Não se compreende
as coisas de Deus, o seu pensamento e seu agir, a partir da lógica humana, mas
pode-se ver os sinais que ele realiza, e João VIU , logicamente esse Ver
Teológico, transcende a nossa limitada visão carnal, ver os sinais que Deus
realiza, só é possível com os olhos da Fé, em outras palavras, quem vive na Fé,
começa a ver os acontecimentos e as pessoas com um olhar diferente e o quadro
inverte-se: aquilo que é Forte e poderoso se tornará em ruína, aquilo que é
fraco, indefeso, insignificante, irá realizar a salvação completa, não só dos
Israelitas, mas de toda humanidade.
Na primeira
Leitura o Profeta, que é a Boca de Deus, já havia dito sobre o Servo de Javé,
que ele seria a Luz das Nações, e aqui, o servo de Javé é aplicado ao povo, que
estava cativo na Babilônia, totalmente derrotado e massacrado, sem pátria e sem
identidade, aliás, nas duas leituras, não é homem que se sente forte e
preparado, para algo grandioso, mas é Deus que chama através da Vocação, o
apóstolo Paulo apresenta-se desse modo á comunidade, e Deus nunca chama os
arrogantes, os prepotentes, os mais fortes, e que tem panca de vencedor, como o
meu amigo de infância, a quem me referi no início e que nós chamávamos de
“Homem Montanha”, ao contrário, Deus se alia aos pobres, fracos, desprezados,
por isso o título “Cordeiro de Deus” evoca realmente quem é Jesus, o Deus Todo
Poderoso encarnado na fragilidade humana para vencer em definitivo as forças do
mal e tirar o pecado do mundo.
O Cordeiro de
Deus, o Deus imortal, Criador de todas as coisas, Onipotente, Onipresente e
Onisciente, vem como Cordeiro indefeso diante da violência humana, vai para o
matadouro mudo, sem reclamar, sem praguejar contra o Pai, sem maldizer a
própria sorte. Porque somente assim realizará sua Missão de Salvar os homens,
só o amor salva, e só DEUS É AMOR.
Aprofundar no
conhecimento de Deus e poder dar testemunho como João Batista, requer de cada
cristão esse VER constante no dia a dia, os atos de mais puro amor que Deus vai
realizando, mas é sempre preciso ter em mente esse modo de agir Divino, que
sempre engana os homens que se julgam sábios e espertalhões. Olhemos para a
Eucaristia, ponto convergente da Igreja e cume da Liturgia, o Sacerdote ergue
uma hóstia frágil, que cabe na palma da nossa mão, e que até um ventilador
ligado pode fazê-la sair voando...
Entretanto, ali
está escondido e oculto aos olhos dos que não crêem o maior e mais valioso de
todos os tesouros da terra. A graça de Deus em forma de pão que alimenta e
restaura as nossas forças, ajudando-nos a atravessar o deserto da Vida terrena,
como aquele Maná descido do céu ajudou o povo na travessia do deserto, milhares
de vezes ao dia esse gesto se repete, a hóstia é apresentada repetindo-se as
palavras de João: Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do
mundo....Como diz São Paulo, Jesus Cristo é o mesmo ontem, Hoje e sempre, e
ainda prefere ocultar todo o seu Poder, graça, Glória e Salvação, em algo
frágil. Que a exemplo de João Batista, possamos também VER , e dar testemunho
de que naquele pedacinho de pão está o Filho de Deus, Cristo Jesus, nosso Deus
e Senhor, aquele que criou o céu e a terra, e salva e santifica a todos os que
Nele crêem, em meio a toda humanidade.
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