Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?
Este Evangelho, que relata a visita de Maria a Isabel e a saudação da
prima, destaca a figura de Maria, a mãe do Messias. Cristo é sempre o centro da
liturgia da Igreja. Mas este cristocentrismo vai adquirindo matizes diferentes
ao longo do ano.
Maria fez uma viagem de 150 km, portanto, longa e penosa, pois teve de
subir e descer montanhas. Mas o impulso da caridade é mais forte, e ela foi às
pressas. A caridade é um precioso dom que Deus colocou em nossos corações no
dia do batismo.
“Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” “Mãe do
meu Senhor” é o mesmo que dizer “Mãe de Deus”. Foi devido a esse Deus, que
Maria já carregava em seu ventre, que João Batista pulou de alegria, ainda no
ventre da mãe. É a força da salvação que Cristo veio realizar, e começou mesmo
antes de nascer. Esta visita de Maria foi, na verdade, a primeira procissão de
Corpus Chisti.
Fascinada por Deus, Maria de Nazaré encarnou a esperança multissecular
do seu povo. Ela se alegrou e se abriu de corpo e alma ao plano de Deus Pai:
“Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”.
A aceitação de Maria é um eco da aceitação do próprio Jesus Cristo: “Eis
me aqui, ó Deus, para fazer a vossa vontade” (1ª Leitura e Sl 39,8).
Ter fé é abrir-se à ação divina. É seguir um caminho novo, traçado não
por nós, mas por Deus para nós. E Maria seguiu esse caminho com grande
solicitude. Porque ela amava muito a Deus, e quem ama se entrega à pessoa
amada.
A solidariedade em servir a Deus leva à solidariedade em servir o
próximo. Quanto mais uma pessoa ama a Deus, mais ama o próximo, por amor a
Deus. E o nosso amor ao próximo por amor a Deus é universal, como Deus que
manda o sol e a chuva sobre todos, maus e bons (Mt 5,45). E é um amor
preferencial a quem mais precisa de uma ajuda. Em Maria, esse amor extensivo
aconteceu nesta visita, no Calvário, junto à Igreja nascente, e continua pelos
séculos. E, como nós, Maria fez isso na claridade-escuridão da fé. A fé
ultrapassa a clareza e a evidência.
A exemplo de Cristo e de Maria, quantos cristãos e cristãs, de ontem e
de hoje, colaboram na redenção! Conviver com esses irmãos é uma grande alegria
que temos, em meio às cruzes da vida.
Há quem idealiza tanto Maria que acaba por pensar que ela sabia tudo em
relação ao plano de Deus. E se esquece que ela é uma pessoa humana como nós.
Segundo os Evangelhos, ela não teve, logo de início, uma luz plena da revelação
pascal e do mistério de Cristo. Nem uma visão direta de Deus. Sua fé ia
crescendo e amadurecendo progressivamente, na medida em que ela respondia
“sim”, como acontece conosco. Sabemos que o contrário também é certo: quando
respondemos “não” a Deus, a nossa fé vai diminuindo, e pode chegar até a
abandonar a fé legítima, na Igreja una, santa, católica e apostólica.
O advento de Cristo ainda não aconteceu plenamente. Por isso a nossa
missão antes do Natal é agilizar a sua vinda hoje, através da dedicação ao
Reino de Deus. Assim estaremos preparados para celebrar o seu nascimento
histórico, isto é, o seu aniversário natalício. “Arrancastes do Egito esta
videira, e expulsastes as nações para plantá-la... Vinde logo, Senhor, vinde
depressa pra salvá-la!”
Antífona do Ó: “Ó Chave de Davi, Cetro da casa de Israel, que abris e
ninguém fecha, que fechais e ninguém abre: vinde logo e libertai o homem
prisioneiro, que, nas trevas e na sombra da morte, está sentado”.
Certa vez, um homem estava, com sua espingarda, dando tiros para cima.
Veio um guarda e lhe perguntou: “O que você está fazendo aí, dando tiros para
cima?” Ele respondeu: “Estou espantando elefantes”. O guarda olhou em volta e
disse: “Mas eu não estou vendo nenhum elefante!”. “É sinal que eu já espantei
todos”, disse o homem.
“Eu corro, não como às tontas. Eu luto, não como quem golpeia o ar”
(1Cor 9,26). Cada vez que chega alguém que carrego Cristo, acontece uma
explosão de alegria, como teve Isabel. Mas não podemos perder tempo, golpeando
o ar ou dando tiros para espantar o que não existe na realidade. Precisamos ir
para a ponta da linha, lá onde o problema está, e vencê-lo com a graça de Deus.
Que Maria Santíssima e Santa Isabel nos ajudem na abertura ao plano de
Deus, que ainda hoje que usar de nós para que seu Filho possa nascer em
plenitude no mundo.
Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?
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